O advogado Joel Ferreira Ribeiro, articulista exclusivo do Jornal O Expresso, escreve instigante artigo sobre o momento político em que vivemos. Ele é incisivo e consolida texto definitivo sobre o assunto quando afirma: “O voto nos escraviza e nos liberta. Se elegermos os candidatos que se valem da estrutura pública para autopromoção; que fazem campanha eleitoral antes do tempo; que espalham a mentira travestida de verdade, continuaremos reféns e escravos.” O artigo:
O ser humano, ao longo da história busca por uma incansável evolução, em todos os sentidos, ou seja, sempre empreendeu seus esforços por uma vida melhor, por dias melhores, por conforto, etc..
Em nome desse progresso, dessa evolução, ou qualquer outro nome que se queria dar, muitas guerras foram declaradas, muitos tribunais foram criados, tiranias constituídas, impérios ruíram, forcas e guilhotinas se disseminaram mundo afora.
A evolução e o progresso da humanidade está visceralmente ligada ao PODER e os detentores desse poder determinam os destinos dos demais, seus escravos anônimos e idiotizados, pois sequer percebem a escravidão.
Outro dia recebi uma mensagem eletrônica com uma carta que um cidadão endereçou ao Presidente da República, onde expõem com extrema clareza e desenvoltura todos os desmandos do governo federal, que, aliás, ecoam pela maioria dos governos estaduais e municipais do Brasil.
Nessa carta aquele brasileiro argumenta sobre as últimas pesquisas de popularidade do Presidente, que chegou aos 84%, ultrapassando, segundo ele, a popularidade de Hitler, nos anos quarenta, em uma Alemanha de ótima cultura.
Afirma que o Presidente da República é praticamente uma unanimidade nacional (segundo Nelson Rodrigues a unanimidade é burra), pois faltam apenas 16% por cento para completar 100%.
Além do brilhantismo do texto daquela missiva, que citou Rui Barbosa e sua Oração aos Moços, o jurista que sentenciou: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Se pararmos para pensar no significado emblemático dessa afirmação, acredito que poucos de nossos governantes enrubesceriam de vergonha, afinal a grande maioria deles não desfruta dessa qualidade, pois se tornaram verdadeiros camaleões da política, que mudam de cor e pensamento conforme suas conveniências, interesses e conchavos.
A carta nos esclarece, ainda, que nos idos de 1832, o inglês, autor da teoria evolucionista Charles Robert Darwin, ao passar por estas plagas teria dito: “Aqui são todos subornáveis”. Pelo visto, o cientista famoso não lançou ao vento uma febril profecia, parece que seus poderes de antevisão do futuro, eram mais precisos que os do próprio Nostradamus.
Em outra oportunidade, bem mais recente, dizem que o Presidente Francês Charles De Gaulle teria dito: “Esse não é um País sério”.
De todos acima apenas concordo com o baiano e brasileiro Rui Barbosa, pois nem todos são subornáveis e este é um País sério e descente, de um povo crédulo, ordeiro, pacato e principalmente conformado com sua miséria secular.
Um povo manipulado por políticos espertalhões, que compram seu voto e sua dignidade, hoje com cartões de programas assistencialistas, mas já houve tempo em que o voto era trocado por uma lata de leite em pó; por uma camiseta; por qualquer coisa; até mesmo por uma dentadura.
Um povo que não se dá conta de seus direitos. Um povo que não sabe a força que se encerra em seu voto, e por isso morre de fome todos os dias.
As favelas do Rio de janeiro, São Paulo, Salvador ou qualquer outra capital brasileira matam mais do que qualquer guerra declarada no mundo.
O voto nos escraviza e nos liberta. Se elegermos os candidatos que se valem da estrutura pública para autopromoção; que fazem campanha eleitoral antes do tempo; que espalham a mentira travestida de verdade. Continuaremos reféns e escravos.
Voltando ao cidadão da carta, confesso que admirei sua coragem, talento e atitude, pois num gesto solitário declarou guerra à mentira; à corrupção; aos contumazes assaltos aos cofres públicos; aos furtos e roubos do erário público em todas as esferas.
Nessa declaração de guerra aquele brasileiro levantou uma bandeira que estava esquecida no ostracismo das últimas décadas, qual seja: “a liberdade do seu voto”, quer dizer, o voto daquele cidadão representa, em tese, apenas 0,0000005 % de todos os 200 milhões de brasileiros.
Trata-se de uma guerra solitária declarada contra tudo o que é de mais nefasto para o Brasil – Políticos desonestos, corruptos e mentirosos.
Por isso, me solidarizo àquele brasileiro, somos agora 0,0000001% em prol do Brasil que sonhamos, justo e decente, e para que possamos provar que De Gaulle e Darwin estavam enganados.
