Vereadores à beira de um ataque de nervos.

A sessão ia calma, morna, quase fria, hoje à tarde, na Câmara de Vereadores, com uma ordem do dia pequena, quando, de repente, não mais que de repente, os ânimos se exaltaram: era a hora de apreciar requerimento feito pelo vereador Ariston Gomes de Aragão sobre a instalação de uma CEI – Comissão Especial de Inquérito, para investigar se o mesmo havia se beneficiado com doação de uma casa popular no bairro Conquista. A acusação foi insinuada pelo vereador Alaídio Castilhos, durante programa na rádio Mundial. Na sessão da Câmara, na terça-feira passada, Alaídio quis desmentir o caso, mas ainda mais atrapalhado, citou o nome de Ariston, que acabou saindo nas manchetes dos jornais e blogs da cidade. Ariston, agravado, pediu a CEI, “para provar a sua inocência”.

Então aconteceu o embate na tribuna. Ondumar Marabá, o primeiro a falar, concordou: “Que se apurem os fatos”. Sidnei Giachini, aproveitou a oportunidade para apagar o fogo e saiu-se com esta pérola, ao lamentar o erro de Alaídio: “Quem nunca errou, que atire a primeira pedra”.

Alaídio: uma experiência amarga no episódio.

Alaídio, defendeu-se: “Não disse o nome de ninguém, não tive maldade no comentário”. O presidente da Câmara, Eder Fior, contemporizou com a situação fragilizada de Alaídio e afirmou: “Alaídio não deve desculpas a ninguém”. Mas Valmor Mariussi chegou para apagar o fogo com gasolina: “Um comunicador não pode errar, tem que checar suas fontes. O Ariston tem o direito de ver provada sua inocência”.

Ariston foi à tribuna e num discurso candente incendiou de vez o cortinado do teatro:

“Eu mereço o respeito desta Casa. Eu quero desculpas e o direito de ter a minha inocência provada. E irei até os tribunais de Brasília, se for necessário, para provar minha inocência. O meu nome está nas ruas. Sou calado, mas não sou bobo”.

Éder Fior voltou ao tom conciliador, ocupando a tribuna:

“Não vi Alaídio denegrir a imagem de ninguém, porque o vereador acusado não foi nomeado. O vereador Alaídio tem garantida a sua inviolabilidade ainda que esteja ao microfone de uma rádio. A melhor maneira de resolver isso seria encaminhar um ofício ao Executivo, perguntando se o vereador Ariston ou qualquer um dos seus parentes foi beneficiado com uma casa. Que rejeitemos o requerimento para a CEI!”

Oziel ladrão!

Vereador Cabo Carlos e a redefinição da palavra "vergonha".

Alguém, num curto aparte, falou em vergonha. Pronto! Foi a vez do vereador Cabo Carlos, aquele mesmo que nunca sofreu de aftas na língua, remeter-se a sessões passadas, antes do recesso, quando os dois vereadores, Alaídio e Ariston, votaram a favor das contas de Oziel:

“Vergonha mesmo é votar a favor das contas do ex-Prefeito, que nos roubou durante oito anos. Votar a favor desse Prefeito ladrão sim, é um fato vergonhoso”.

Janete Alves, também uma das seguidoras de Oziel de Oliveira na Câmara Municipal, queimou-se com a acusação e carregou:

“Cada um é livre para votar a favor ou contra. Não tenho que dar satisfação do que faço, a não ser aos meus amigos, que sabem quem eu sou.”

Mariussi vendo que a carruagem beirava o precipício, interviu: “Diante do que ouvi nesta casa, hoje, me calo”. Alaídio novamente falou em desculpar-se, mas Ariston não deixou por menos: “Sou evangélico. Quero ir para o céu. Alaídio pediu desculpas, está perdoado”. Mas insistiu: “No entanto, quero a apuração dos fatos”. Alguém ainda pediu que a transcrição dos pronunciamentos fosse feita na íntegra e todos louvaram o embate democrático. No final, o pedido de instalação da CEI foi rejeitado por 5 votos a 4 e todos foram tomar café e dessedentar as gargantas ressecadas.

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

Uma consideração sobre “Vereadores à beira de um ataque de nervos.”

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