Voltamos à vaca fria!

Notícia divulgada no dia 30 de abril de 2009:

“O Brasil deixa de ter, a partir desta quarta-feira, os maiores juros reais do mundo. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa de 11,25% para 10,25%. Conhecida como Selic, essa é a principal remuneração para quem compra títulos públicos, ou seja, empresta dinheiro ao governo federal.”

Pelo visto continua tudo como dantes no quartel de Abrantes. Voltamos de novo para a primeira posição do ranking dos maiores juros do mundo. O pior é que com a alta determinada ontem pelo COPOM, o País vai pagar mais R$200 bilhões de juros este ano sobre a dívida pública. Ou 3,33 vezes os recursos aplicados na Educação, por exemplo. Com os juros europeus e norte-americanos abaixo de 3% ao ano, nos tornamos cada vez mais o alvo dos chamados capitais voláteis. Jogando para o fundo do poço as cotações do dólar e do euro frente ao real. E tirando toda a competitividade dos setores produtivos nacionais. Começamos a sentir saudades do Meirelles!

Em 10 de outubro de 2005, publicamos artigo intitulado “Dias de África” em que lamentávamos o horror de pagar, na época, R$150 bilhões de serviço da dívida pública. Veja o artigo:

Dias de África

“Rasgadas as cartas da legalidade de maneira continuada, assolados pelas retóricas da propaganda oficial, perdemos o nosso horizonte moral e até a presunção da inocência do homem  público.”

Será que nós lemos certo? O serviço da dívida pública brasileira custa 150 bilhões de reais ao ano? Isso é o que os dois últimos governos contrataram, aumentando juros e os mantendo lá no alto, com o objetivo paradoxal de conter a inflação e deter a erosão dos salários. Por isso, sacrifica os mesmos assalariados com uma carga tributária ascendente, além de determinar uma recessão agreste e maldosa, que faz as vagas de emprego desaparecem em todos os setores.
Se 50% desse dinheiro fosse investido em educação fundamental,  profissionalizante e universitária,  em menos de uma geração teríamos outro Brasil. Com um mercado interno vigoroso, com taxas de crescimento aceleradas, com emprego garantido, com previdência superavitária. Porque qualquer esboço de cálculo atuarial compreende a inclusão de novos contribuintes para a manutenção dos beneficiários.
Enquanto isso, beneficiado pelos juros altos, o maior banco privado do País obtém lucros de R$2,6 bilhões num semestre. Estamos criando uma nação de endividados, de desempregados, de espoliados pelo usura oficial e privada, de iludidos por falsas notícias de crescimento e prosperidade.
Procuramos por um Estado enxuto e eficaz; desejamos serviços básicos de qualidade mínima, em educação, saúde e segurança; por infra-estrutura que não onere a nossa produção. Queremos, mais ainda, não ver a miséria e o descalabro social circundando as cidades e o campo. Mas encontramos apenas governos pueris, populistas e demagógicos, quando não desonestos,  fornecedores de peixe, quando poderiam fornecer anzol e linha,  e políticos de baixa extração, ornados por ternos bem cortados e cabelos gomalinados. Frustram-se as sucessivas tentativas de depuração dos partidos e das instituições oficiais. Oficializam-se o peculato, a concussão, a desídia dos homens públicos, o dessangramento das populações desamparadas, a dessintonia exasperadora entre sociedade e governos.
Rasgadas as cartas da legalidade de maneira continuada, assolados pelas retóricas da propaganda oficial, perdemos o nosso horizonte moral e até a presunção da inocência do homem  público. Nossa tardia república, vilipendiada e assolada pela iniqüidade de seus líderes, vive seus africanos dias, nos corredores dos legislativos, nos desvãos dos palácios.

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

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