Esta é velha, mas é das boas. A pedido, reconto a história publicada em dezembro de 2009.

Pois o Gumercindo, campeiro experiente, foi demitido da estância onde trabalhava, certamente por uns cambichos com a negrinha Rosalina, ajudante de cozinha que o patrão olhava com uns certos olhos compridos e cúpidos. Despeonado, com pouco dinheiro, nem o lobuno(*) de sua preferência pode levar embora, foi arranjar serviço na cidade grande. Como lembrança dos bons tempos, levou junto consigo a galinha mariquinha. E foi morar numa pensão na cidade, a carijó sua companheira de quarto. Todo o dia fornecia o resto da sua marmita para a Mariquinha e era compensado, uma vez por semana, com um ovo, que fritava na cozinha da pensão, por gentileza da dona, para reforçar a mesma refeição.
Um certo dia tomou umas cangibrinas fortes, era dia de soldo e se perdeu lá naquela região da cidade onde as mulheres acordam mais tarde. Dito e feito: no dia seguinte “queimou o churrasco” e se atrasou para o trabalho. Passou uma água na cara e saiu correndo para o serviço. E esqueceu a porta do quartinho aberta, onde a Mariquinha dormia. Passo a passo a carijó foi descobrindo o ambiente e, pegando o corredor da pensão, foi sair na rua, onde o pessoal da prefeitura estava recuperando o asfalto. Viu aquela “terra preta” e pensou: “Lá tem minhoca”. Que tragédia: o rolo compressor que vinha retornando, em alta velocidade, passou por cima da Mariquinha, deixando-a colada no asfalto quente. As galinhas caipiras são fortes. Depois de desmaiada por uns 15 minutos, Mariquinha foi se recuperando: descolou uma asinha do asfalto, depois a outra, agora uma perninha e levantando, espojou-se e exclamou, alto e bom tom:
– “Isso que é galo, não é aquelas porqueiras lá do Alegrete.”
*A pelagem lobuna nos cavalos é aquela parecida com pelo de rato.
