Fora de um dinheirinho mal havido por comerciantes exploradores, o que sobra deste tal de carnaval? Mortos, feridos, intoxicados, contaminados por doenças venéreas e AIDS, além das manchetes do tipo “a alegria aqui não tem hora para acabar”, chavões de quinta categoria que depõem contra a imprensa.
Nada justifica o carnaval. Nem o descanso daqueles que beiram a racionalidade e não entram nessas loucuras. Com o prejuízo adicional de se perder uma semana de trabalho, de educação nas escolas, de saúde nos hospitais e de segurança nas ruas da cidade.
O carnaval não é apenas o sepulcro dos bons costumes e da urbanidade. É a última morada da falta de objetividade dos brasileiros, que vivem de uma alegria fantasiosa, fútil, sem reconhecer sua condição de indigência social e moral. Vejam as estatísticas da quarta-feira: mortes, acidentes, gente com todo tipo de fratura, inclusive aquelas morais. Como dizia o presidente francês Charles de Gaulle, o Brasil não é um país sério.


Et panis et circenses.
e la nave va!
E VIVA AO CARNAVAL!!!
“Perfeição
Legião Urbana
Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões…
Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação…
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião…
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade…
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais…
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros…
Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã…
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração…
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão…
Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada…
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção…
Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!.”
Se posso chamar de resumo, resume todo esse “circo”!