Morre um pouco do passado no corpo de Ivan Lessa.
Ainda me lembro de Ivan Lessa pelo que se lia no Pasquim. Depois, li um que outro texto dele, aqui e ali, numa dessas revistas caras. Mas o que ficou mesmo foram a mordacidade e um bom humor especiais, no hebdomadário que íamos buscar, aos domingos, na banca da Praça da Alfândega, em Porto Alegre.
Tenho a dizer que foi o humor do Pasquim que derrubou o regime de 64, tanto que o regime, sem conseguir censurar o jornal, acabou explodindo as bancas que o vendiam. Nem sei como a banca da Alfândega não foi explodida. Talvez pela graça e obra dos textos irônicos de Lessa.
Ivan Lessa resistiu até quando pode, auto exilou-se em Londres e entregou coração e alma para a British Tobacco, que lhe presenteou com um enfisema.
Ele disse: “A cada quinze anos, o Brasil esquece os últimos quinze anos”.
Ainda bem que ele partiu em 78 para Londres e ficou por lá até morrer. O Brasil da década de 70, apesar da repressão, da loucura fachista do militarismo, da censura, era melhor. Encontrávamos a cada passo um amigo na rua da Praia e, nas manhãs ensolaradas de domingo, comprávamos o Pasquim na banca da Praça da Alfândega.
Quando perdemos gente do calibre de Millôr ou Ivan Lessa, não perdemos uma referência intelectual ou política. Nos perdemos a nós mesmos, turbada a nossa arca de tesouros do passado. Agora, tratamos de não esquecer os 15 anos mais recentes, nem os mais remotos. Quando íamos em procissão cívica comprar o Pasquim, aos domingos.
Para o “POVÃO” o que realmente faz a democracia que nem sempre e democratico, a cada 4 anos se esquece os ultimos 4 ..