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Morre um pouco do passado no corpo de Ivan Lessa.

10/06/2012

Ainda me lembro de Ivan Lessa pelo que se lia no Pasquim. Depois, li um que outro texto dele, aqui e ali, numa dessas revistas caras. Mas o que ficou mesmo foram a mordacidade e um bom humor especiais, no hebdomadário que íamos buscar, aos domingos, na banca da Praça da Alfândega, em Porto Alegre.

Tenho a dizer que foi o humor do Pasquim que derrubou o regime de 64, tanto que o regime, sem conseguir censurar o jornal, acabou explodindo as bancas que o vendiam. Nem sei como a banca da Alfândega não foi explodida. Talvez pela graça e obra dos textos irônicos de Lessa.

Ivan Lessa resistiu até quando pode, auto exilou-se em Londres e entregou coração e alma para a British Tobacco, que lhe presenteou com um enfisema.

Ele disse: “A cada quinze anos, o Brasil esquece os últimos quinze anos”.

Ainda bem que ele partiu em 78 para Londres e ficou por lá até morrer. O Brasil da década de 70, apesar da repressão, da loucura fachista do militarismo, da censura, era melhor. Encontrávamos a cada passo um amigo na rua da Praia e, nas manhãs ensolaradas de domingo, comprávamos o Pasquim na banca da Praça da Alfândega.

Quando perdemos gente do calibre de Millôr ou Ivan Lessa, não perdemos uma referência intelectual ou política. Nos perdemos a nós mesmos, turbada a nossa arca de tesouros do passado. Agora, tratamos de não esquecer os 15 anos mais recentes, nem os mais remotos. Quando íamos em procissão cívica comprar o Pasquim, aos domingos.

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  1. JUAN ARZAKº permalink
    10/06/2012 8:28

    Para o “POVÃO” o que realmente faz a democracia que nem sempre e democratico, a cada 4 anos se esquece os ultimos 4 ..

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