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Lanceiros negros: a história da traição farroupilha aos escravos libertos

19/09/2013

Lanceiros

Entre 1835 e 1845 o império brasileiro testemunhou o mais longo conflito ocorrido em nosso território, a Revolução Farroupilha. E, é neste contexto histórico, que surgiram os lanceiros negros farroupilha. Recrutados em meio aos negros campeiros e domadores da atual Região Sul do Estado gaúcho (Canguçu, Pelotas, Bagé, Piraí…), os lanceiros quando na sua fundação foram organizados em duas divisões: “uma de cavalaria, e a outra de infantaria, criados respectivamente, em 12 de setembro de 1836 e 31 de agosto de 1838”. As referidas divisões, segundo o historiador e oficial do Estado Maior do Exército Brasileiro, Cláudio Moreira Bento “eram constituídas basicamente, de negros livres ou de libertos pela República Rio-Grandense,(…).”

Temidos pelo fato de serem truculentos e ao mesmo tempo exímios esgrimistas, esses combatentes, sobretudo a cavalaria, utilizava como equipamentos de combate: lanças compridas; coletes de couro cru; esporas afiadas presas aos pés e boleadeiras. A boleadeira, por exemplo, quando arremessada capturava o inimigo que por ventura estivesse distante de uma montaria.

Subordinados a vários ex-oficiais do militarismo imperial brasileiro, entre eles, os idealizadores dos lanceiros, coronéis Joaquim Pedro Soares e Teixeira Nunes, o efetivo formado pela parcela mais discriminada da população, isto é, os negros, ocuparam um importante destaque na nomenclatura do conflito. Isto porque, foram muitas as batalhas em que os milicianos agiram em defesa dos mesmos objetivos ensejados pelos revolucionários, ou seja, o de garantir um futuro melhor e mais justo para todos os provincianos.

Sob os olhares de Bento Gonçalves, do casal Garibaldi e de David Canabarro, os revolucionários negros participaram efetivamente da tomada de Porto Alegre, da conquista de Laguna, e do conflito na Região de Lages, além da Batalha de Porongos.

De acordo com historiadores, Canabarro teria ordenado desarmar os cerca de 600 lanceiros na noite de 14 de novembro de 1844. Tal determinação não chamaria a atenção, se ela não tivesse sido transmitida na mesma noite do ataque imperialista. São muitas as fontes afirmando o “pacto de extermínio dos negros com Caxias para que não houvesse impedimento na assinatura do tratado de paz com os revoltosos”. A realização do provável acordo “arquitetado por Caxias ”tinha embasamento alicerçado em duas vertentes naturais. Ao exterminar o maior número de negros possível, certamente diminuiriam também as exigências dos revoltosos no que tange o acordo de paz. Por outro lado, “manter a liberdade do grande contingente negro com experiência militar era um grande risco para sociedade”.

Desarmados e sem apresentar nenhuma reação, a tropa de choque mais temida do Sul brasileiro foi dizimada no cair da madrugada. Infelizmente, o passado relacionado aos lanceiros negros farroupilha sempre esteve atrelado aos bastidores da historiografia oficial, e somente em 1870, é que surgiu o primeiro livro sobre o assunto.

De 07 a 20 de setembro, a história deste grupamento será relembrada na maior festa popular do Rio Grande do Sul através da Semana Farroupilha.

REFERÊNCIAS UTILIZADAS:

BENTO, Claúdio Moreira. O negro e descendentes na sociedade do Rio Grande Do Sul (1635- 1975). Porto Alegre, RS: grafosul, 1976.

BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. A incrível saga de um país. São Paulo: ática, 2003.

Moda na história/Família Real no Brasil/Revolução Farroupilha. Revista Descobrindo a História. São Paulo: mythos, v.06, 2008.

Da atribunanet.com e geledes.org.br

17 Comentários leave one →
  1. 20/09/2016 17:17

    Vergonha que ainda é comemorada.

  2. Claudio Senna permalink
    20/09/2016 20:03

    E por isso que tu entra em um CTG tu não ver negro participando , e os Negro não faz questão de festeja a semana Farroupilha

  3. guilherme Camargo Velho permalink
    21/09/2016 0:36

    Mas que mentira mais deslavada. Na epoca da revolução buscava- se liberdade,igualdade e humanidade, mas com o insucesso da mesma os revolucinarios tiverao que se aderquar as leis do imperio, onde ainda encotrava-se em regime de escravidao dos negros. Leiam os livros de historia. E a voce claudio senna convido o amigo e sua familia a partilharmos da hospitalidade gaucha para o sr e sua familia. Ja para o senhor seu biraka, vergonha é olhar para o seu passado e nao ter do que se orgulhar.

    • Bruna de Oliveira Miranda permalink
      21/09/2016 15:54

      Guilherme,se os livros de história que você estudou valessem alguma coisa, quando a gente chegasse na faculdade os professores MESTRES,DOUTORES não tinham mandado jogar todos fora.Afinal, a maioria dos atos heroicos brasileiros não houveram de fato,aqueles que traíram e fizeram as maiores barbáries viram figuras montadas num imaginário imbecil para intreter e se tornar um feriado o qual o Brasil não tem nada para comemorar.

      • Matheus permalink
        22/09/2016 10:25

        Realmente a verdadeira história é escondida e nas escolas nos contam mentiras , acomodados com as lindas histórias de heroísmo q não aconteceram de fato tem um pensamento igual ao seu Guilherme, isso n é culpa sua mas sim de qm o instruiu.

  4. carla permalink
    21/09/2016 7:12

    Vergonha e hipocrisia. Como nos tempos de hoje.

  5. Vander permalink
    21/09/2016 13:27

    Isso por acaso foi representado em alguma musica ou dança da tradição sulista?
    Pergunto por curiosidade mesmo

    • 21/09/2016 14:44

      Sim. Eu possuo uma, cantada por Eduardo Martinez, que se chama Lanceiros Negros e sei que, num festival, o Grupo Parceria, de Uruguaiana, venceu, com uma música sobre o tema, bem como o cantor César Passarinho, gravou uma, que se chama Negro de 35.

      • 21/09/2016 20:04

        Boa noite, Sandro. Seria possível compartilhar essa música na internet? No Youtube, por exemplo. Obrigado.

  6. Pedro permalink
    22/09/2016 1:30

    A maioria das músicas que o Sandro comentou estão no YouTube só procurar nos álbuns dos festivais chamados Califórnia da Canção

    • ROSA CLAUDETE DUARTE permalink
      23/09/2017 0:16

      Há outra música que me parece ser a voz dos Lanceiros Negros. Não lembro o nome do autor, mas foi cantada e gravada por Leopoldo Rassier e por Joca Martins. O título é ” SABE MOÇO”.

  7. FRANCISCO SOLANO permalink
    22/09/2016 6:13

    Nunca pensei que a revolução farroupilha teria sido comandada por corruptos e covardes….TRAIDORES….

  8. Jaques permalink
    22/09/2016 8:07

    Que mentira, vimomdocumentario ontem, muitos negros foram enviados ao forte do rio de janeiro, e foram escravisados pela elite brasileira, carregavam toneis de bosta nas costas, pois , não havia saneamento no rio, os nobres vagavam , a bosta era recolhida, e colocada em toneis, estes toneis casavam, e deixavam os negros com doença de pele, os negros ficavam manchados, eram chamados de tigres! Sistema safado, abreviadores de história, se houve algum descendente, tem que endeniza-los!

  9. Luiza permalink
    29/05/2017 10:36

    Sou pernambucana,apaixonada pelo Rio Grande e sua cultura,mas ao chegar aqui e me deparar com tantas realidades de hipocrisia,mentiras,traições,preconceitos,me pergunto hoje o porque de tantos preconceitos,criticas com o Brasil se aqui é formado de fantazias imaginárias na cabeça de loucos que fingem ser intelectuais e nunca enxergam a verdadeira realidade de falta de carater,respeito,educação,personalidade que só serve pra desdenhar o restante do Brasil,coisa que aqui dentro não passa de vadiagens e oportunismo..Acorda Rio Grande Amado.

  10. 07/09/2017 12:58

    a verdade é essa. é dói muito

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