Desorganização e o sr. Mercado estão matando a cultura do feijão no País

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Alguns fatos estão matando a cultura do feijão no País há mais de 3 décadas, entre eles a oscilação de preços e a insegurança dos produtores na atividade. Hoje o feijão carioca de boa qualidade está cotado em R$87,00 a saca de 60 k em Luís Eduardo Magalhães. Há pouco menos de um ano tinha ultrapassado a barreira de R$200,00.

O mercado de feijão não tem contratos antecipados ou de opção, o chamado hedge de bolsa de produtos e mercadorias;  tem classificação incerta da qualidade dos grãos; e os produtores teimam em não se organizar em instituições corporativas, que ditem, como na Europa acontece com as frutas, a área máxima a ser plantada e os preços mínimos de comercialização. Por isso, a produção brasileira está estacionada também há mais de 3 décadas, abaixo dos 4 milhões de toneladas.

Na safra 2012/2013, o Brasil plantou 3,11 milhões de hectares de feijão e colheu, em 2013, 2,8 milhões de toneladas, o que representa cerca de 500 mil toneladas a menos do que a produção normal, que é de 3,3 milhões de toneladas, com o preço chegando a quase 300 reais a saca e a R$6,00 ao nível do consumidor. A competição com as cotações elevadas da soja foi forte demais para o “pretinho básico”, além dos problemas da virose transmitida pela mosca branca.

Com o consumo nacional estimado em 3,45 milhões de toneladas, para suprir a demanda, o país teve de importar mais de 500 mil toneladas, de janeiro a novembro, veja só que história triste, de países como China, Argentina, Bolívia e Paraguai.

No início dos anos 80, o feijão ganhou novela e música própria, “Feijão Maravilha”, chegando a cotações de US$150, o equivalente hoje a mais de R$600,00 a saca. Chegou a ser a panaceia dos produtores, que investiram em equipamentos de irrigação caríssimos e multiplicaram a produtividade em até 4 vezes. Uma década depois estava a menos de US$20, quebrando quem investiu pesado no cultivo.

Quem sofre com tudo isso é o brasileiro pobre, que tem no feijão com farinha ou arroz sua principal fonte de alimentação.

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

Uma consideração sobre “Desorganização e o sr. Mercado estão matando a cultura do feijão no País”

  1. Não é o mercado que está matando a cultura do feijão. Na verdade, são as constantes intervenções do governo sobre uma cultura justificando-se através de um conceito demagógico protecionista de que o feijão é o principal alimento dos pobres, assim como o arroz e o trigo do qual se faz o pão nosso de cada dia. Esse conceito impede a auto regulação do mercado, da livre negociação, da lei da oferta e procura.
    Quando o produtor colhe mal, logicamente o preço sobe, o governo libera os estoques abaixando os preços e acaba prejudicando o produtor que poderia compensar as perdas a com preço melhor.
    Por outro lado, quando há excesso de produto, o governo compra a produção, para garantir o preço mínimo, que por sua vez estimula o produtor (e muitos outros) a ampliar sua área, o que gera excesso de produto. Com excesso de produto o governo não consegue sustentar os preços que despencam, causando novamente prejuízo ao produtor.
    Na safra seguinte, os preços sobem às alturas causada pela diminuição da área plantada, às custas dos produtores que não conseguiram continuar na atividade por conta dos prejuízos decorrentes da safra anterior.
    A cultura do feijoeiro possui condições de produzir de maneira similar à da Soja, porém as constantes intervenções governamentais não permitem a celebração dos contratos antecipados ou de hedge, porque nenhum investidor irá contratar por R$60,00 em uma saca de feijão que, na safra, pode chegar a R$30,00 por conta da liberação dos estoques governamentais.
    Preço mínimo? O histórico de preços e a realidade atual é prova que isso não funciona.
    Essa insegurança financeira ou falsa segurança criada pela política demagógica, não só descapitaliza a produção como desestimula também a participação da iniciativa privada na melhoria genética de novas cultivares mais produtivas.
    Não há garantia de que royalties sobre o desenvolvimento de uma nova variedade serão respeitados, afinal trata-se do principal alimento do povão.
    Restando à nossa EMBRAPA, nosso único centro de pesquisas, o enorme fardo de manter o desenvolvimento de novas variedades para saciar a fome do “povão”, inclusive a minha.
    O mercado se auto regula, se o feijão está caro, a dona de casa normalmente diminui a quantidade ou simplesmente não compra e substitui por outro cereal.
    A sazonalidade temporária de um produto agrícola não pode ser considerada como indexador dos índices de inflação, esta que é a grande motivadora dessas intervenções, a meu ver, desnecessárias.
    A Soja não sofre essa intervenção e mesmo quando o preço sobe, na safra, chega a “estratosféricos 50,00 reais”. Já pensou? Uma saca de feijão bem que poderia chegar a “exorbitantes 50,00 reais também”.

    Paulo – Ex produtor de feijão

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