Copa do Mundo pode desencadear novas ondas de epidemias de influenza

Evento no Brasil aumenta a possibilidade de contrair o vírus

Os eventos de massa ou mass gathering, como são denominados eventos com grande quantidade de pessoas implicam em maior risco de aumento de casos de doenças respiratórias e, principalmente, de gripe. Como o vírus é transmitido diretamente e indiretamente, seja por espirros ou objetos contaminados, ambientes aglomerados, como estádios de futebol, são locais propícios para a proliferação do influenza, que sobrevive até 24 horas no ambiente.

Devido à realização da Copa do Mundo, um evento global que contempla 32 países diferentes, onde a circulação de cepas virais é diferente da observada no nosso País, existe a possibilidade de importação de novas cepas, que podem se disseminar entre a população não vacinada. O País espera receber mais de 500 mil turistas, justamente no período em que são detectados os casos mais graves da doença – o inverno – e o vírus acompanha o viajante.

Além disso, o Brasil é um País de dimensões continentais, além de termos cepas diferentes dos diversos turistas estrangeiros, as cepas também mudam de estado para estado, o que aumenta as chances de contaminação.

Raramente, surtos decorrentes de manifestações de massa têm sido descritos e poucas avaliações virológicas detalhadas são realizadas. Mas, há dados que mostram a gravidade do tema. Até mesmo as viagens de avião, que ocorrerão assiduamente durante a Copa do Mundo, podem ser locais de disseminação do vírus. Um estudo[1] realizado com 54 passageiros de um voo da Nova Zelândia mostrou que 72% dos passageiros desenvolveram síndrome gripal, sendo que entre  as  31 pessoas que fizeram teste de cultura, 8 casos (25%) foram confirmados e entre os 22 que fizeram testes de sorologia, 20 pessoas (91%) apresentaram o vírus.

Outro registro aconteceu em julho de 2008, devido a um surto de gripe durante o Dia Mundial da Juventude, em Sydney, Austrália. Foram avaliados dados epidemiológicos e amostras respiratórias coletadas de participantes que procuraram tratamento para doenças semelhantes à gripe em clínicas de emergência da cidade. De 100 pessoas infectadas, muitas cepas foram identificadas e novos vírus foram introduzidos[2].

A influenza pode desencadear outras doenças ainda mais graves. Para que as pessoas   presentes ao Brasil na época da Copa da Mundo estejam menos propensas a se contaminar e a desenvolver outras doenças respiratórias mais graves, como a pneumonia, a única forma efetiva de proteção é estimular que imunocomprometidos, idosos, adultos, jovens, crianças e bebês, a partir dos seis meses, se vacinem contra a influenza.

Os benefícios individuais e coletivos da vacinação

A vacinação é responsável pela redução de milhões de casos

A influenza sazonal tem alto impacto de morbidade, mortalidade e nos custos diretos e indiretos, mas quanto mais pessoas vacinadas, mais as taxas da doença diminuem. A vacinação é única forma realmente efetiva de se prevenir contra a gripe e contra os resultados graves gerados pela doença[3]. Além de proteger a saúde própria, uma pessoa imunizada também protege toda a sua rede de contatos – família, amigos, colegas de trabalho, funcionários dos estabelecimentos que frequenta, entre outros – o que é chamado de proteção indireta e conhecida também como proteção de rebanho (herd immunity ou herd protection), a qual reduz o risco de infecção para os contatos de pessoas vacinadas e não apenas para os vacinados.

Idosos apresentam menor resposta às vacinas, devido às comorbidades ou ao próprio envelhecimento. Por esse motivo, é importante vaciná-los, mas também as pessoas que têm contato com eles e com outros grupos de risco. Deve-se salientar que, embora a vacina seja menos efetiva nesse grupo, ela é capaz de reduzir em mais da metade os casos confirmados de influenza e, em 30%, as hospitalizações.

Já quando falamos de crianças, público que entre 15% e 30% é afetado todos os anos pela gripe, mas em que a efetividade da vacinação é maior – entre 50% e 90%[4] – a situação pode ser diferente. Um estudo realizado no Reino Unido mostrou que se 50%[5] das crianças de 2 a 18 anos fossem vacinadas, seriam evitadas 2,3 milhões de infecções ao ano e outros 3 milhões de casos por contato.

A vacinação de trabalhadores saudáveis também reduz substancialmente o  impacto da doença, gera economia para as empresas e reduz o risco de o trabalhador disseminar o vírus para seus contatos no trabalho, na família e na comunidade.

Nos Estados Unidos, pesquisadores acompanharam o nível da proteção da vacinação durante seis anos – 2005 a 2011 – e concluíram que a vacinação foi responsável pela redução de 1,1 milhão de casos[6] entre 2006 e 2007 e outros 5 milhões de casos entre 2009 e 2010.  Já no quesito hospitalização, 7,7 mil  internações entre 2009 e 2010 foram reduzidas no ano em que foi detectada pandemia e 40,4 mil entre 2010 e 2011. A proteção variou entre as faixas etárias, mas o programa de vacinação propiciou benefícios substanciais à população, reduzindo casos, consultas e hospitalizações.

Desde 2009, nos EUA é preconizada a vacinação universal, pois muitos adultos não sabem que são portadores de doenças como diabetes, cardiopatias, asma e doença respiratória obstrutiva crônica, que tem alta prevalência na população. Adolescentes e adultos também transmitem os vírus para seus contatos, na família, escola e trabalho e, quanto maiores as coberturas vacinais, menores as chances de os vírus se disseminarem na comunidade.

Avatar de Desconhecido

Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

Deixe um comentário