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História: no tempo em que os debates políticos eram feitos ao fio da espada.

17/08/2015
O comando das tropas federalistas

O comando das tropas federalistas

A revolução federalista de 1893 foi a primeira, nos primórdios da República, a contestar o arbítrio do poder central e do regime ditatorial no Rio Grande do Sul.

O início da revolução

Em 1892, o governo de Júlio de Castilhos entra numa fase de instabilidade, o Rio Grande do Sul está em ebulição, de um lado os castilhistas Pica-paus ou Chimangos e do outro os federalistas maragatos liderados pelo General João Nunes da Silva Tavares, o Joca Tavares. A Revolução Federalista estava se iniciando. Gumercindo tendo se negado a aderir ao castilhismo, estava sendo perseguido e resolve voltar ao Uruguai onde os rebeldes estavam formando suas tropas.

Gumercindo, decapitado mesmo depois de enterrado

Gumercindo, decapitado mesmo depois de enterrado

Em 2 de fevereiro de 1893, acompanhado por seu irmão Aparício Saraiva e liderando cerca de quatrocentos cavaleiros atravessou a fronteira pelo povoado da Serrilhada, entrando no Rio Grande do Sul, juntando-se aos homens do General João Nunes da Silva Tavares, formando assim o Exército Libertador, um contingente de mais de três mil homens, que em pouco tempo com as adesões, chegaria a doze mil. Consta que um terceiro irmão, Mariano, também teria participado desta revolução. No Uruguai os três irmãos Saraiva (Saravia) eram conhecidos como Os três de Cerro Largo.

Em 4 de abril de 1893 acontece a primeira batalha com as tropas legalistas (Pica-paus). Depois de vários combates com as forças do governo, percebendo estar diante de um exército melhor preparado e armado, Gumercindo Saraiva parte para a prática de guerrilha, evita combates convencionais, dispersa as tropas legais para tentar vencê-las depois, em partes, tática esta que deu certo.

Os maragatos vão ao norte

A obstinada resistência oposta às tropas federalistas na cidade de Lapa (Paraná), pelo Coronel Gomes Carneiro, frustrou as pretensões rebeldes de chegarem à capital da República.

Gumercindo Saraiva e sua tropa dirigiram-se para Dom Pedrito. De lá iniciaram uma série de ataques relâmpagos contra vários pontos do estado, desestabilizando as posições conquistadas pelos legalistas.

Em seguida rumaram ao norte, avançando em novembro sobre Santa Catarina e chegando ao Paraná, sendo detidos na cidade da Lapa, a sessenta quilômetros a sudoeste de Curitiba. Nesta ocasião, o coronel Gomes Carneiro morreu em fevereiro de 1894 sem entregar suas posições ao inimigo, no episódio que ficou conhecido como o Cerco da Lapa.

O almirante Custódio de Melo, que chefiara a revolta da Armada contra Floriano Peixoto, uniu-se aos federalistas e ocupou Desterro, atual Florianópolis. De lá chegou a Curitiba, ao encontro do caudilho-maragato Gumercindo Saraiva.

A resistência da Lapa impediu o avanço da revolução. Gumercindo, então impedido de avançar, bateu em retirada para o Rio Grande do Sul. Morreu em 10 de agosto de 1894 ,após ser atingido por um tiro desferido a traição enquanto reconhecia o terreno na véspera da Batalha do Carovi.

A volta aos pampas

Após a queda da Lapa, rumou para Curitiba que encontrou completamente desguarnecida, partindo em seguida para Ponta Grossa, onde enfrentou as tropas legais que haviam recebido reforços de São Paulo, obrigando-o a recuar, iniciando assim a retirada e seu retorno ao Rio Grande do Sul, agora acossado pelas tropas do governo.

Em marcha pelos três estados, desde sua partida de Jaguarão até o retorno ao Sul, o General Gumercindo Saraiva e suas tropas percorreram a cavalo, um trajeto de mais de 3.000 km.

Em 27 de Junho de 1894 enfrentou sua última grande batalha. No dia 10 de Agosto morreu com um tiro no tórax, de tocaia, antes de iniciar a Batalha do Carovi, no lugar que ficou conhecido como Capão da Batalha, em área hoje situada no município de Capão do Cipó.

Numa guerra de barbáries em ambos os lados, dois dias depois de enterrado, no cemitério Santo Antônio de Capuchinhos, atual município de Itacurubi, seu corpo foi retirado da cova, teve a cabeça decepada e levada em uma caixa de chapéus ao governador Júlio de Castilhos.

Na realidade, quando Júlio de Castilhos soube que um major das tropas regulares se dirigia a Porto Alegre, de trem, para levar a cabeça de Gumercindo, se horrorizou. Era um ditador, mas esclarecido, advogado com formação na Europa.

Determinou a prisão do major bárbaro, que foi interceptado em Santa Maria e aconselhado a voltar para trás com o seu macabro troféu. Dizem que ele jogou fora a cabeça de Gumercindo no trecho entre Santa Maria e Tupãciretã.

Hoje que acontecem vendavais e tempestades na região, comuns na primavera, diz-se que Gumercindo está revoltado à procura de sua cabeça. E todos rezam em silêncio pela alma do grande guerrilheiro.

Seu corpo, mais tarde, foi levado e sepultado no cemitério municipal de Santa Vitória do Palmar, sem a cabeça. Da wikipedia, com edição deste jornal.

Em 1923, Chimangos e Maragatos voltariam a se enfrentar novamente, desta vez para apear do poder  Borges de Medeiros, sucessor e discípulo de Júlio de Castilhos. Em 1930, a gauchada unida, liderada por Getúlio Vargas, foi amarrar os cavalos no obelisco da avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro, iniciando o longo governo que só foi encerrado com o suicídio do Velho em 24 de agosto de 1954.

Quando você, caro leitor, ver um gaúcho de lenço vermelho no pescoço, saiba que ali está representado um século (desde 1835) de heroísmo e inconformismo com o arbítrio e com as ditaduras.

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