Renato Dalto
Aquele rosto na camiseta e aquele olhar miravam o que há de mais generoso e libertário em cada ser humano. Sobre o Che, Eduardo Galeano escreveu uma frase muito simples: “Ele acreditava que a vida era se dar. E se deu”. Sobre ele também o pensador argentino Atílio Boron refletiu o seguinte: o significado daquele rosto não é o espirito de uma revolução, mas apenas o que todas as almas boas desejam– um mundo mais justo, com menos desigualdade e mais solidariedade. Foi isso, basicamente, que fez milhares de pessoas, em todos as partes do mundo, se identificarem com ele. O rosto e o olhar distante e visionário de Guevara significa os sonhos que nunca podemos perder.
A professora Marilena Chauí chegou as minhas mãos, primeiro, num pequeno livro chamado “O que é ideologia”. Interessante quando ela se referia a um conceito de Antonio Gramsci chamado a “causa eficiente” da ideologia, ou seja: quanto mais você reproduzir o comportamento do seu dominador achando que isso é natural, maior o poder da visão de mundo dele sobre você. A professora Chauí parece ter passado um primeiro alerta que o gosto de uma certa turma do PT pelo mundo burguês, com seus luxos e alianças espúrias de negócios, era a causa eficiente da ideologia corrompendo por dentro um partido que, como o rosto do Che, não poderia perder o essencial: o sonho de um mundo melhor. Venceu a causa eficiente dos odebrechts da vida – o PT sepultou os sonhos em nome do poder.
Eis então que o Che e a Chauí se encontram num lamentável clip que está circulando pelas redes, uma chacota à esquerda e ao governo onde a imagem de Guevara e Marilena Chauí são espinafradas numa privada, assim como as de Lula, Dilma e Fidel Castro. Ou seja, mais explicitamente: a história e o saber reduzidos à merda. Interessante é que tem gente espalhando, curtindo e dando gargalhadas disso como se um achaque de tão baixo nível criativo e intelectual fosse apenas uma tirada de humor. Não é.
Jacques Lacan costumava dizer que todo o inconsciente se traduz em linguagem, e é revelador que esses jericos tenham escolhido a privada como cenário. Dos emblemas da política escolhidos para adornar o mau gosto, alguns se explicam pelo puro ódio de classe, outros pelo preconceito, mas, no caso da professora Chauí o grave é que ela representa, sobretudo, uma coisa: a originalidade e a ousadia do pensamento. Mais: posicionar o pensamento ao lado de uma visão de mundo. Mais: dar braços e pernas para que essas idéias caminhem em direção a uma causa generosa e libertadora.
Não se trata aqui de concordar ou discordar dela, mas de respeitar a origem de tudo isso que se molda na filosofia e na inteligência. O sinal dos roqueiros retardados é, acima de tudo, que a professora Marilena incomoda. Que eles não querem ser fustigados a pensar. Porque para eles pensar e cagar, tanto faz. E é aí que, lacanianamente, mostram o lado do mundo onde estão.
Volta e meia lembro de uma máxima dos franquistas gritada volta e meia nos ambientes públicos numa Espanha conflagrada pela Guerra Civil: “Abaixo a cultura, viva a morte”. Os roqueiros renovaram a frase: “Abaixo o pensamento, viva a merda”. O triste dessa treva é que ela representa um retrocesso para antes da Revolução Francesa, onde se inauguram valores republicanos como o respeito ao contraditório, o direito de opinião, a fraternidade social.
Chegamos ao inferno dantesco, à escatologia do entendimento, ao endeusamento da idiotice.
Isso acontece porque, de um lado, a professora Chauí tinha razão – a causa eficiente da ideologia é mais forte e, afinal, num mundo pragmático, pra que pensar? De outro lado está a figura do Che, retratada magistralmente no filme “Diários de Motocicleta”, de Walter Salles. Na comovente cena final, o jovem Ernesto descobre a dor das pessoas com lepra e entende, enfim: o sofrimento humano impõe a todos que têm consciência uma outra travessia. A travessia sobre si mesmo para rever valores e olhar o outro. Com respeito. Com dignidade. Guevara entendeu isso e saiu pelo mundo em busca da revolução. Aos que não entendem isso só resta procurar a privada. E mostrar, lacanianamente, o que são.
Abaixo a merda, viva a inteligência.
(*) Renato Dalto é jornalista. Publicado no rsurgente, de Marco Aurélio Weissheimer. Os grifos são de O Expresso.


“um mundo mais justo, com menos desigualdade e mais solidariedade” pergunte a quem mora em CUBA se eles acham justo o Fidel Castro possuir aproximadamente 40 vacas e o povo ter direito a apenas 1 litro de leite por dia? Fidel gosta de desfilar com suas caríssimas jaquetas da Adidas com jaquetas da Puma enquanto seu povo não tem o que vestir…isso é igualdade? Se essa farsa do Che Guevara estivesse vivo (dizem que Fidel mandou matar para não ter de disputar o poder) faria a mesma coisa, faria igual! O Socialismo/Comunismo nunca dará certo, pois para ser implantado será preciso o homem renunciar uma de suas maiores características que é a individualidade! Eu não sei qual é o motivo que a maioria dos jornalistas brasileiros idolatram essas pessoas…acordem!