Cidade maravilhosa
O grau de destruição do Rio de Janeiro se revela em uma pesquisa publicada nesse domingo pela Folha: 7 em 10 moradores do Rio querem sair de lá por causa da violência. O impensável aconteceu; o eterno namoro dos cariocas com a sua cidade –reverenciada por todos os brasileiros – desfalece.
Se temos o sentimento de que o país foi saqueado, no Rio de Janeiro também a beleza foi espoliada. A farra dos megaeventos terminou com o governador e dirigentes da Fifa presos – Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, foi preso ontem. Para os moradores do Rio, restou uma cidade deformada por obras superfaturadas, expulsões e despejos.
Agora, a cidade vive mais um pico de violência. Na sexta-feira passada mais uma garota – essa de 16 anos – foi baleada dentro de casa na Rocinha em um confronto entre traficantes e polícia. Quase metade dos cariocas – 46% – têm medo da polícia (metade desses tem mais medo da polícia do que dos bandidos), segundo a mesma pesquisa da Folha.
Entre os mais pobres e os mais jovens, o temor da polícia cresce 28%. São os 25% dos cariocas que vivem nas comunidades o alvo principal da violência; como foram também eles os que mais sofreram com os megaeventos – das remoções à repressão policial para garantir o brilho da festa.
De acordo com a mesma pesquisa, 71% dos entrevistados concordaram com a frase: “os moradores das áreas de tráfico muitas vezes ajudam os traficantes e prejudicam a polícia”. Também na dor, a solidariedade que poderia unir os cariocas parece em falta.
Como disse o coronel Ibis Pereira, em entrevista à Pública no mês passado: “O nosso problema é justamente que aquilo que poderia nos salvar é o que a gente repudia. A gente repudia exatamente o remédio, que é mais direitos humanos”.
Por Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

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“Os lados do Polígono da Maconha”
Na região do sertão do São Francisco, moradores cercados por roças clandestinas convivem hoje com tráfico e repressão policial.
