
A proposta de fazer uma ração com restos de comida pode ter levado João Doria, prefeito ausente de São Paulo, a perder mais uns 10 pontos na aprovação dos paulistanos. O partido Democratas externou a possibilidade de não mais apoiá-lo. Querem, agora, valha-me Nossa Senhora Aparecida, Luciano Hulk, que está juntando dinheiro entre empresários para eleger uma bancada de 100 deputados.
Doria nem deve saber da repercussão negativa da sua proposta. Retornou do Círio de Nazaré, em Belém, e partiu para a Itália, levando na bagagem o vice-prefeito.

Prefake Doria coleta matéria-prima para o “Allimento”. Da Rede Brasil Atual
Conselho Regional de Nutricionistas se posiciona contra ‘ração humana’ de Doria
O Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo (CRN-3) emitiu nota na noite desta quarta-ferira (11), em que se manifesta contrário ao projeto do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), de produzir um granulado nutricional a partir de sobras de alimentos que seriam descartados pela indústria ou comércio.
(…) O programa Alimento para Todos, lançado no último domingo pela Prefeitura do Município de São Paulo, afirma a nota do CRB-3, contraria os princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), bem como do Guia Alimentar para a População Brasileira. “Em total desrespeito aos avanços obtidos nas últimas décadas no campo da segurança alimentar e no que tange as políticas públicas sobre as ações de combate à fome e desnutrição”, diz a nota publicada nas redes sociais do CRN-3.
(…) A Política Municipal de Erradicação da Fome e de Promoção da Função Social dos Alimentos foi estabelecida pela Lei 16.704/2017, sancionada no último domingo. A partir dela, a prefeitura elaborou o projeto Alimento para Todos, em parceria com a Plataforma Sinergia, que consiste em produzir o “Alimento”, “um granulado nutritivo” que pode ser adicionado às refeições ou utilizado na fabricação de outros alimentos, como pães, bolos, massas e sopas. A ração vai ser produzida pela Sinergia e distribuída nas cestas básicas entregues pelos Centros de Referência de Assistência (CRAS). (…)
A professora de Nutrição Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, Ana Carolina Feldenheimer, considerou a proposta um retrocesso de 15 anos nas ações de combate à fome. (…) Ela destacou que a gestão Doria deveria ouvir organizações e especialistas da área.
“E não ouvir só a indústria que tem um interesse claro em se livrar de parte do que sobra da produção. Produtos que seriam lixo, que a indústria teria de pagar para se livrar, porque hoje no Brasil quem gera lixo acima de determinada quantidade tem de pagar para recolher. Vai baratear esse custo ao mandar para a população esse complemento que a gente não sabe nem de onde veio, nem quais os produtos que vão nele”, criticou.
Os ganhos das empresas com a doação de sobras de alimentos vão além de se livrar do descarte. Vão receber incentivos econômicos da prefeitura de São Paulo, conforme descrito no artigo 9 da lei.
Serão facilitados os empréstimos, “compreendendo a concessão de financiamentos em condições favorecidas, admitindo-se créditos a título não reembolsável”; criados “programas de financiamento e incentivo à pesquisa e desenvolvimento de tecnologias” afeitos à proposta; e concedidas isenções do Imposto Sobre Serviços (ISS) e do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). (…)
Em resumo: tem favorecimento ilícito no meio do negócio e o Prefeito pretendia sair com as láureas de grande benemérito.
Autor: jornaloexpresso
Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril
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