
Por XP Análise Política
O PT nos últimos dias tem confirmado nossa previsão de falta de direção e forte disputa interna. E isso ainda vai piorar.
Tudo indica que o racha entre governadores – Jaques Wagner se inclui nesse grupo – e a burocracia interna do PT não vai ser arrefecida. Logo mais esta postura deve ter ressonância na bancada na Câmara dos Deputados, dividindo também o partido neste campo, que é liderado por Paulo Pimenta, um dos “estridentes”.
Vamos a alguns pontos de análise da confusão que gerou no partido a prisão de Lula:
1- Os governadores se consideram o “grupo dos com voto”. Não fazem parte da máquina partidária, dominada por amigos de Lula, pela burocracia petista, e por parlamentares.
2- O grupo dos “com votos” busca a formação de alianças nos estados, por isso discorda tão fortemente da tática isolacionista de Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Paulo Pimenta. Os movimentos para desqualificar Gleisi Hoffmann acontecem e acontecerão. O PT, sem Lula, passará por divisão nunca vista na história do partido nessas eleições.
3- O argumento – com razão – dos “com voto” é que a tática de isolamento convém a parlamentares isoladamente, mas não ao partido como um todo. Se, por um lado, a gritaria pró-Lula ajuda na reeleição de parlamentares, atrapalha na condução da grande política e do PT como organização.
4- Há um outro ponto importante: Gleisi Hoffmann teria sido picada pela “mosca azul”. Acreditaria que pode ser a sucessora de Lula. É de se admirar a capacidade imaginativa da presidente do PT, porém, na dura realidade da política e da lógica, esta tese não sobrevive a 3 minutos de debate racional.
5- E Fernando Haddad? Faz movimentos, conversas, não se expõe desnecessariamente, se preserva. Para quem não gostava fazer política, Haddad ao lado de Wagner, tem concentrado o que sobrou de habilidade política no PT. Entrar desavisadamente no debate da máquina petista pode ser perigoso, já que poucos partidos são tão efetivos em destruir internamente seus quadros quanto o PT. A tática de Haddad neste momento é, sendo low profile, “deixar como está para ver como é que fica”.
6- Os que foram além da manchete sensacionalista da entrevista de Ciro para a Folha de S. Paulo viram que ele divide o partido entre os governadores e a burocracia partidária, da qual tem pena, segundo o próprio. Ciro já definiu por qual janela tentar entrar para construir um diálogo com o PT.
7- A coisa é que o poderoso PT de São Paulo por meio de Luiz Marinho – candidato ao governo do estado – tratou de enterrar a aliança com Ciro Gomes. Sem o acordo dos paulistas e da burocracia partidária, Ciro não tem chances de atrair institucionalmente o PT.
8- Lula deu a linha no seu discurso antes da prisão, queria todos em sua defesa e não nomeou sucessor. A questão é que a trinca Gleisi Hoffman, Paulo Pimenta e Lindbergh Farias não são interlocutores que falam com todo o partido ou com a esquerda nacional, e Haddad não pode se expor. Lula escolheu mal seus mensageiros.
9- A conta do PT se parece com a de Alckmin em São Paulo: precisa de 10 milhões de votos no Nordeste para ser competitivo. A conta de padeiro indica que outros 10 viriam de votações nos outros estados do Brasil e colocariam o candidato petista no 2 turno.
10- É justamente nesta hora de fazer as contas, no momento do pragmatismo, que Lula voltará a ter importância, já que o dono dos votos é ele e não o PT ou qualquer outro interlocutor que tenha nomeado. Mais perto das definições de candidaturas o PT, a despeito da luta que trava internamente, vai ter que – tanto quanto Ciro Gomes – passar em Curitiba para um beija-mão.
11- O beija-mão é importante, e também é a atuação do bombeiros e fazedores de ponte da república. Lula, se entender que é o melhor para si, pode insistir em registrar a sua própria candidatura. Veríamos as cortes superiores outra vez obrigadas a tomar decisão judicial sobre o direito de Lula ser inscrito e fazer campanha. Lula perde, mas garante o fato político e os 5 minutos de mídia para controlar o processo e ele mesmo escolher o seu sucessor. Deem a Lula 5 minutos e ele os utilizará.
12- Este complexo jogo da esquerda brasileira não será resolvido antes de julho. A guerra no PT deve escalar em maio, e uma solução estará longe e sem ninguém que tenha legitimidade e ascendência para negocia-lá. A guerra petista é mais um ingrediente para a movimentada 2 quinzena de julho que teremos. Nunca o PT, que tem sargentos em abundância e pouquíssimos generais, sentiu tanta saudades de José Dirceu.
XP Política
