
Ligações no meio da manhã, no telefone vermelho da redação de O Expresso, só podem ter uma origem: é a capirota, a cabrunca, a Senhora que anuncia as tragédias, Madame Almerinda, a pitonisa da rua Irecê. Tento me fazer de morto, mas ela insiste, toca o telefone até eu atender:
– Meu caro, periodista!
– O que foi Madame? Não vá a Senhora me dizer que o Andrade ultrapassou o Australophitecus? Eu não acredito em pesquisas.
– Pior, meu caro. Você fica aí catucando as pretinhas do seu computador e esquece das grandes notícias. Pois não hai de ver que as mídias sociais trazem a grande novidade de hoje. O Prefeito comprou, para o seu gabinete, uma cafeteira de oito mil reais e aproveitou a oportunidade para comprar mais 8 mil reais de cápsulas de café.
-E o que tem demais nisso, Madame? O Prefeito tem direito de tomar e oferecer um cafezinho de qualidade. Afinal, ele só recebe gente importante em seu gabinete: políticos, empresários, correligionários. Eu também gosto de tomar um cafezinho de qualidade, passado no saco de pano.
– Pois é, meu caro, mas a Oposição é danada. Descobriu que na Policlínica o aparelho de ultrassonografia está quebrado e um novo custa apenas 10 mil reais.
– E daí? O que tem a ver o cafezinho do Prefeito com a barriga das grávidas que vão à Policlínica consultar?
– Barbaridade, Periodista, barbaridade. Acho que o Oziel te comprou também. Agora só falta você pedir desculpas públicas a Jusmari, como fez o teu tocaio.
-Calma, Madame. Se o Prefeito tomar um bom café, estará estimulado a fazer grandes obras para a cidade. Tenha compreensão, seja cristã, minha cara e douta Senhora Cafetina de Espíritos.
-Barbaridade, não temos nem bons jornalistas nesta cidade. Barbaridade…
