Marina Amaral, codiretora da Agência Pública, na newsletter semanal.
Enquanto os senadores protagonizavam uma tragicomédia de resultado pífio – a eleição do apagado Davi Alcolumbre (DEM) para a presidência da Casa -, o ex-juiz Sergio Moro ganhava os holofotes com o lançamento do pacote anti-crime – reunindo propostas de mudanças na legislação, algumas já alteradas, que alertaram juristas e organizações de direitos humanos principalmente por uma das medidas previstas: a que inclui entre os casos de legítima defesa as mortes perpetradas por policiais durante o serviço.
Números do Fórum Brasileiro de Segurança mostram que a polícia paulista matou 494 pessoas entre janeiro e setembro de 2017; no Rio, foram 1034 pessoas mortas no mesmo ano. Como disse o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, “me preocupa que se crie com a legítima defesa do agente policial uma ordem para aumentar a letalidade de uma polícia que já é a que mais mata no mundo.”
Justiça, polícia, e mortes também dominaram outro tema da semana, com a soltura, pelo STJ, de três funcionários da Vale e dois engenheiros da Tuv Sud, responsáveis pela segurança da barragem que rompeu e provocando pelo menos 150 mortes confirmadas (e 182 desaparecidos).
Um deles, o engenheiro Makoto Namba, disse à Polícia Federal que foi pressionado pela Vale para dar o laudo garantindo a estabilidade da barragem, o que ele teria condicionado ao cumprimento de 17 recomendações que constam do documento, que apontou problemas de erosão e drenagem na estrutura.
Seja como for, “a lei determina que o responsável pela segurança da barragem é o empreendedor – no caso, a Vale”, como esclareceu a especialista em geotécnica ambiental, Maria Eugênia Gimenez Boscov, em entrevista a Folha.
Para os movimentos sociais e defensores de direitos humanos, que há anos sofrem com o descaso – e com os advogados da companhia – nas remoções de comunidades, na poluição de mananciais, e ao longo da Estrada de Ferro Carajás, que corta 27 municípios e mais de cem comunidades do Pará ao Maranhão, não há novidade no tratamento dado aos moradores de Mariana, Brumadinho ou das bacias do Doce e do Paraopeba.
Espanta um pouco mais saber que o descaso com a vida humana se estende aos funcionários, que comiam ou trabalhavam em locais que seriam atingidos em menos de 1 minuto em caso da ruptura da barragem – cujos problemas, ao que tudo indica eram conhecidos pela companhia.

O que ocorreu em Minas mostra e confirma que a tomada de posição da população de Correntina, embora ainda um caso isolado, se mostra como necessária frente a ganância de empresários e a omissão do estado.