Decisões que matam: armas, meio ambiente, Atlas da Violência e afrouxamento das leis de trânsito

Criança é ejetada do carro em colisão

Escreve Thiago Domenici, editor e repórter da Agência Pública, em sua newsletter semanal:

Para além da acusação de estupro contra Neymar, em quem Bolsonaro diz acreditar mesmo antes da conclusão das investigações, outros fatos desta semana merecem destaque. A começar pelo infeliz adiamento no STF da retomada do julgamento de artigo da Lei de Drogas sobre porte para uso pessoal — que fez aumentar o encarceramento no país. E da rejeição da maioria dos brasileiros à flexibilização daquilo que o presidente mais defende: o porte de armas.

73% dos entrevistados em pesquisa do Ibope são contrários à possibilidade de o cidadão comum carregar arma de fogo nas ruas — 26% apoiam a medida.

Se o presidente levar em conta, além do Ibope, os dados divulgados anteontem pela Atlas da Violência 2019, que concluiu, mais uma vez, que a maior circulação de armas tem o efeito de levar a mais crimes, mudaria o rumo de suas decisões erráticas nestes cinco meses de gestão que tem causado espanto em parte da sociedade e no Congresso.

Que o diga o presidente da Comissão Especial que analisa o mérito da reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PL), para quem Bolsonaro “não tem noção de prioridade e do que é importante para o País”. Ou Rodrigo Maia, presidente da Câmara, chamado de “irmão” por Bolsonaro dias depois de afirmar em entrevista ao Estadão que “ou fazemos reformas ou vamos para o colapso”.

Colapso, aliás, é um bom termo para caracterizar algumas políticas voltadas para o Meio Ambiente como, por exemplo, usar o bilionário Fundo Amazônia, voltado ao combate ao desmatamento, para indenizar desapropriações de terra na região onde a grilagem é tão comum quando o avanço da soja e do gado.

O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que nunca havia ido a Amazônia até este ano, chamou de exemplar o papel do Brasil na “conservação de suas abundantes florestas”. O Observatório do Clima contradiz o ministro ao apontar que o desmatamento na maior floresta tropical do mundo atingiu o recorde para o mês de maio — 739 km² de mata derrubada, o equivalente a dois campos de futebol por minuto  — um aumento de 34% em relação ao mesmo período do ano passado.

Noves fora, Rodrigo Maia disse ainda que não é hora de falar em parlamentarismo, apesar de deixar claro que pode ser o melhor caminho para governar o país.

Enquanto isso, na contramão de práticas internacionais, o Presidente da República apresenta um projeto que prevê o fim da multa para carro com criança sem cadeirinha no banco de trás, a principal circunstância de mortes de crianças no trânsito — prioridades de um governo que parece não levar em conta a manutenção da vida.

Avatar de Desconhecido

Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

Deixe um comentário