
Por Marina Amaral, codiretora da Agência Pública, em sua newsletter semanal
De todas as impressões que levei da entrevista com Lula na Polícia Federal de Curitiba a mais forte é a dignidade intocada do ex-presidente.
Bombardeado pela mídia, barbarizado nas redes sociais e, mais grave, perseguido por quem deveria fazer Justiça (vide Vaza Jato), Lula mantém a altivez sem arrogância, conquistando o respeito dos que o rodeiam.
Não há regalias na prisão nem mesmo quando o presidente recebe visitas importantes – entre elas dois agraciados com o Prêmio Nobel da Paz – Adolfo Perez Esquivel e, mais recentemente, o indiano Kailash Satyarthi.
Os horários de visita e os protocolos são respeitados sem pedidos ou hostilidade. Não foi diferente na entrevista que fizemos na quarta-feira; esgotado o tempo estabelecido pela PF, ele interrompeu a fala, sem dar margem a qualquer tipo de intimidação.
Como os verdadeiros democratas, Lula sabe que as regras são para todos e os profissionais estão apenas cumprindo os seus deveres; aos graúdos, que detêm a responsabilidade pela situação a que está sujeito, é que sua indignação se dirige.
Por sua vez, os policiais o tratam por “presidente” e, embora quase sempre calados, um deles, que não participa da rotina da carceragem, chegou a manifestar sua admiração pela inteligência do ex-presidente, definindo-o como “uma enciclopédia”.
A dignidade se mantém até quando ele fala do atual presidente, que já o achincalhou de todas as maneiras. Perguntado sobre o depoimento do porteiro, que, no mínimo, trouxe mais uma vez à tona a proximidade do clã no poder com milicianos assassinos, ele imediatamente destacou que Bolsonaro estava em Brasília quando teria sido procurado pelo acusado de matar Marielle Franco, como aliás mostrou a reportagem do Jornal Nacional.
“Queria que a Globo fosse honesta comigo como foi com Bolsonaro”, limitou-se a dizer.
A única crítica pessoal que fez ao atual presidente foi em relação à sua postura, indecorosa para o cargo que ocupa.
“Você nunca me viu num gesto histérico como ele ontem. Um presidente não pode ser assim”, disse, referindo-se à famosa live de Bolsonaro depois do Jornal Nacional de terça-feira.
Não pudemos falar sobre o destempero de Eduardo, o filho, que incomodado com as críticas ao governo, chegou a falar em “novo AI-5” em entrevista divulgada ontem. Os que não podem inspirar respeito, apelam para o terror.
Autor: jornaloexpresso
Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril
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