Por Fernando Brito
A entrevista de agora há pouco, onde o governador João Dória disse que “é uma circunstância inaceitável que a melhor polícia do Brasil utilize de violência ou de força desproporcional, sobretudo quando não não há nenhuma reação de agressão” e na qual se disse “chocado” com os atos de violência registrados em diversos vídeos de ações de PMs sobre moradores de comunidades pobres tem mais do que a hipocrisia com que governantes se expressam nestas ocasiões.
Tem mais também do que ser a primeira volta, a assombrá-los, dos mortos de Paraisópolis e os de todos os outros lugares de onde, vivos, nunca importaram a quem estava no governo.
A questão essencial é outra, a de que isso só acontece porque as circunstâncias do caso tornaram cruamente exposta a fragilidade do discurso que a maioria deles, Doria incluído, aceita e usa para “vestir” o tratamento brutal que o estado dá aos pobres com a fantasia de que isso é “lei”, “ordem”, “segurança”, que não têm outra maneira de serem alcançadas senão pela força bruta.
E, a justificar tudo isso, a droga e a criminalidade para qual empurram geração após gerações de sem-escola, sem-emprego e sem-futuro.
Este é o “protocolo” que, faz tempo, se adotou por aqui e ai de quem quiser mudar isso (e nem de longe Doria quer).
Nota da Redação:
Parece um pesadelo muito ruim, o fato de que Dória seja o único capaz de desafiar o Ogro, por ter um mandato e uma caneta que vai utilizar a economia do estado mais rico do País e do apoio dos empresários da avenida Paulista.
Por outro lado, a luta cruenta que se avizinha pode ser útil, permitindo que um terceiro candidato, de centro esquerda, apoiado numa ampla frente, tenha alguma chance de disputar o segundo turno. Até 2022, a popularidade do Ogro estará em farrapos e ele tem muita chance de ser alijado da disputa já no primeiro turno.
Depois disso faltará apenas uma década para recuperar as políticas públicas, a economia e o Brasil que perdemos em outubro de 2014, quando os derrotados nas urnas iniciaram o movimento conspiratório do golpe de 31 de agosto de 2016.

