
De Marina Amaral, diretora executiva da Agência Pública, em sua newsletter semanal.
As imagens seriam chocantes em qualquer lugar do mundo. Indígenas que protestavam contra o tratoraço do governo atropelando seus direitos foram atacados com bombas de gás pela PM do Distrito Federal. Responderam com flechas, que não feriram ninguém, mas atingiram parte da cobertura da mídia, que chamou de “confronto” a repressão policial. E olha que o batalhão entrou no momento em que os indígenas cercavam a FUNAI, justamente o órgão que tem como missão institucional “proteger e promover os direitos dos povos indígenas do Brasil”.
Comandada por um delegado da Polícia Federal, reconhecidamente anti-indígena (em 2017, ele foi afastado de uma operação depois de pedir “providências persecutórias” contra indígenas e ONGs em Mato Grosso do Sul), no mês passado a FUNAI já havia agido contra aqueles que deveria defender ao provocar a Polícia Federal a intimar Sônia Guajajara sob acusação de difamação contra o governo federal.
A quem os indígenas devem recorrer?
Do abandono durante a pandemia à tentativa de legalizar a invasão de suas terras através da PL 490 (que segue trancada na CCJ na Câmara por um pedido de vista dos deputados do PSOL) -, a atuação genocida do governo Bolsonaro está bem documentada. E as implicações desses atos vão além dos atentados contra a vida, a cultura e os territórios a que os indígenas têm direito constitucional: eles ameaçam o futuro de todos nós, como demonstraram, com dados, a jornalista Cristiane Fontes e a ativista ambiental Justin Winters, em artigo publicado na Folha de S. Paulo,
“De acordo com o Global Safety Net, 85% da região amazônica é de vital importância para a diversidade biológica e para o sistema climático global.
Atualmente, quase 50% das florestas não degradadas na bacia amazônica encontram-se em terras indígenas, informa pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (Filac) baseada na revisão de mais de 300 estudos publicados nas últimas décadas. Ou seja, a diversidade biológica e cultural da Amazônia representa uma das forças mais poderosas para as soluções climáticas”, concluem as autoras.
Enquanto os povos indígenas protestam sem amparo de nenhuma instituição, o Brasil caminha a passos rápidos para o colapso ecológico, empurrado pelo Congresso do atraso e o presidente do ódio.
O relatório aprovado ontem (17) no Senado para a MP da privatização da Eletrobras – que será paga por todos nós, consumidores – tem como principais vitoriosos os produtores de carvão e as usinas termelétricas – que terão subsídios para produzir a energia mais suja do planeta.
Um retrato sem retoques da profunda ignorância e da desmedida mesquinhez que poluem o horizonte do país.
Autor: jornaloexpresso
Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril
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