Bolsonaro participou de maneira efetiva na compra de vacinas com ágio.

Reverendo envolvido no escândalo da vacina tem trânsito entre bolsonaristas  | Partido dos Trabalhadores

Reverendo Amilton de Paula recebeu, de forma inexplicável, aval do governo Bolsonaro para negociar 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca. Ele iria à CPI da Covid na quarta-feira (14), amanhã, mas parece que já adoeceu.

Em mensagens apreendidas pela CPI da Covid e divulgadas pelo portal O Antagonista, o policial militar Luiz Paulo Dominghetti dá a entender que, além de Michelle Bolsonaro, Jair Bolsonaro participou das negociações para a compra das vacinas da Astrazeneca oferecidas pela Davati Medical Supply.

Dominghetti, representante da empresa, diz ter recebido propina do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, que foi demitido após a revelação. Ele conversou com um contato identificado em seu celular como “Rafael Compra Deskartpak”.

Para o contato, ele enviou a seguinte mensagem:

“Manda o SGS. Urgente. O Bolsonaro está pedindo. Agora”.

“SGS” é um certificado que garante que o produto passou por todas as etapas dos processos exigidos por órgãos reguladores.

A mensagem não foi escrita por ele; foi reencaminhada. Integrantes da CPI suspeitam que o autor dessas mensagens enviadas a Dominghetti e reencaminhadas a “Rafael Compra Deskartpak” seja o reverendo Amilton Gomes de Paula, que será ouvido pela comissão no Senado.

“Rafael Compra Deskartpak” respondeu: “Dominghetti, agora são 5 da manhã no Texas [sede da Davati nos Estados Unidos]. E outra! Jamais será enviado uma SGS sem contrato assinado.” E o policial respondeu: “vamos alinhar com reverendo”.

Dominghetti também pressionou “Rafael” para que fosse realizada uma reunião com o presidente da Davati nos Estados Unidos, Herman Cárdenas, e que “o Presidente chamou ele lá”.

“O reverendo está em uma situação difícil neste momento. Ofereceu a vacina no ministério. Presidente chamou ele lá”, escreveu o policial militar. “O presidente tá apertando o reverendo. Ele tá ganhando tempo. Tem um pessoal da presidência lá para buscar o reverendo.”

O reverendo, que iria depor na quarta-feira, 14, à CPI da Covid, apresentou atestado e disse que não poderá ir.

“A gente prometeu que ia mandar essa SGS e depois ele assinariam a FCO [fluxo de caixa operacional]. E já mandaram e-mail desde manhã. Se a gente já tivesse falado essa tratativa mais cedo, a gente já tinha alinhado com o presidente ou alguma coisa nesse sentido. Na cabeça do reverendo, a carga é dele, a declaração foi dele, os emails foram trocados com ele e ele está diretamente com o presidente da República, né?. A situação dele é uma situação difícil, porque já mandaram ele lá. Estão ligando direto do gabinete da presidência, né? O Herman deve ter a sensibilidade de fazer as coisas fluir com ele. Porque a gente deixar nessa situação aí de ‘ah, só mando se mandar uma coisa assinada’ é complicado”, disse Dominghetti em áudio.

“Porque as tratativas foram diferentes, ontem foram diferentes, agora cedo diferente e agora que o presidente manda buscar ele lá, vai se mudar. A gente tem que achar uma maneira de se resolver isso nos próximos minutos aí, com o Herman ou por o Herman pra conversar com ele, porque essa SGS é o que vai fazer o presidente tomar essa decisão. Porque até agora a Davati não falou que tem carga nenhuma. E a situação do reverendo tá muito difícil nesse momento”, continuou.

Mensagens encontradas no celular do policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira apontam que ele e o líder da associação privada Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), reverendo Amilton Gomes de Paula, discutiram a venda de vacinas contra a Covid-19 para países como Honduras, Paraguai e Angola.

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

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