A primeira iniciativa público-privada de produção de ETRs no Brasil quer colocar o país, segunda maior reserva dos minerais raros do mundo, no mapa global da produção de tecnologias.
O recente interesse do governo norte-americano nos minerais brasileiros — o Brasil é líder em reservas de nióbio e ocupa o segundo lugar do mundo em concentração de elementos de terras raras (ETRs) — levantou preocupação do governo e da sociedade em relação à exploração e ao refino nacional desses elementos.
Embora tenha posição de destaque na concentração dos ETRs (com cerca de 23% das reservas globais, atrás apenas da China, que tem 49%), o Brasil não está entre os principais produtores e exportadores mundiais, e suas iniciativas de extração são abastecidas, em sua maior parte, por capital estrangeiro.
Em Minas Gerais, um dos estados com maior concentração de ETRs do Brasil (junto a Goiás), a Serra Verde Pesquisa e Mineração (SVPM), primeira operação comercial de terras raras no país e a primeira fora da Ásia a produzir em escala os quatro elementos magnéticos essenciais (Nd, Pr, Tb, Dy), recebe aporte de empresas estrangeiras, e exporta a maioria do concentrado (com teor estimado em 30% de ETRs) para ser refinado na China, já que aqui não há refinarias próprias. A empresa opera, aqui, um circuito integrado de mineração e beneficiamento, que é vinculado a contratos com refinadores no exterior.
Em Poços de Caldas (MG), a australiana Viridis Mining & Minerals domina os projetos de exploração de argilas iônicas na Caldeira & Colossus. A produção está prevista para iniciar entre o final de 2027 e início de 2028.
m Goiás, a extração é liderada por duas empresas: a Serra Verde e a canadense Aclara Resources, que lá desenvolve o Carina Project, na região de Nova Roma, Goiás, em que foram descobertos depósitos de argilas iônicas contendo ETRs pesados e leves. O investimento na reserva foi estimado em cerca de R$ 2,5 bilhões, e a extração a partir do Carina Project ainda está em fase de desenvolvimento.
Um plano para a produção nacional?
As perspectivas para a nacionalização do refino e da produção de tecnologias com os óxidos de terras raras (obtidos pela purificação dos minerais) envolvem, agora, um projeto de desenvolvimento nacional: o MagBras – ‘Da Mina ao Ímã’, coordenado pelo Centro de Inovação e Tecnologia para Ímãs de Terras Raras do SENAI (CIT SENAI ITR), que deu um passo decisivo para colocar o país no mapa global.
Os ímãs permanentes feitos à base de terras raras são conhecidos por suas propriedades magnéticas superiores, com resistência a altas temperaturas e à desmagnetização. Usados em sensores de posição e velocidade, são componentes essenciais, além disso, dos motores elétricos e dispositivos eletrônicos de alta tecnologia (como discos rígidos). Também têm uso nas cadeias de energia limpa, como componentes dos geradores que captam energia eólica.
Lançado oficialmente em 14 de julho de 2025, o MagBras forma uma aliança com 38 empresas, startups e centros de pesquisa brasileiros e estrangeiros, com investimento na ordem de R$ 73 milhões (financiado em parte pelo fundo de desenvolvimento do SENAI, Fundep).
O objetivo é construir, do zero, uma cadeia produtiva nacional para a extração, o refino e a fabricação dos ímãs de ETRs.
A iniciativa adquiriu, em dezembro de 2023, com fundos do CIT SENAI, o LabFabITR, primeiro laboratório-fábrica de ímãs e ligas de terras raras do Hemisfério Sul, sediado no município mineiro de Lagoa Santa. Lá, há unidades de processamento mineral, de ligas especiais e de metalurgia, com potencial para se tornar a maior planta de pesquisa aplicada na produção de ímãs da América do Sul, afirma a FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais).
Em julho de 2025, a mineradora australiana St George Mining, parte do projeto, entregou a primeira amostra de óxidos de ETRs de origem brasileira, processados localmente no Projeto Araxá. Segundo o laudo técnico, a amostra tinha mais de 95% de óxidos de ETRs, com impureza abaixo de 0,2% (isto é, de elementos não correspondentes a terras raras).
O teor de magnetismo encontrado foi de cerca de 20% NdPr (neodímio e praseodímio), com quantidades relevantes dos elementos samário e disprósio, metais críticos para ímãs de alta performance.
No Projeto Araxá, desenvolvido pela St George, a reserva é de pelo menos 40,64 milhões de toneladas, com teor médio de 4,13% de óxido total de terras raras (TREO), e 41,20 milhões de toneladas com 0,68% de nióbio, de acordo com dados do JORC Code (que estabelece os padrões mínimos para resultados de explorações de minerais e minérios). O depósito já concentra a principal produção global de nióbio, informa reportagem do Discovery Alert.
Com a mina de Araxá prevista para iniciar suas operações de maneira oficial em 2027, o Brasil quer alcançar uma capacidade produtiva significativa em terras raras e nióbio, com até 20 mil toneladas anuais no médio prazo.
O MagBras, primeira iniciativa público-privada de produção de ETRs no Brasil, avança, agora, com estudos de escala e na busca por documentos necessários de certificação e adequação às normas industriais, e deve explorar parcerias internacionais.
Da Revista Fórum

