Ameaçada por tarifa de Trump, carne brasileira ganha mercado na Argentina.

Compras mensais de carne bovina do Brasil alcançam maior patamar desde 1997, impulsionadas por peso fraco.

Da Bloomberg e de O Globo.

Açougue em Buenos Aires: argentinos estão comprando mais carne brasileira

A Argentina, país conhecido por sua tradição pecuária, está importando cada vez mais carne bovina. E o Brasil, que a partir de hoje terá seus produtos tarifados em 50% por sanções do presidente americano Donald Trump, é um dos países que mais viu suas vendas de carne crescerem para o mercado argentino.

A alta nas importações argentinas de carne é impulsionada pelas políticas monetárias e comerciais do presidente Javier Milei, que tornaram mais acessível comprar do exterior, enquanto os preços locais continuam elevados.

As importações mensais de carne bovina do Brasil atingiram uma média de 1.033 toneladas no primeiro semestre do ano, frente a apenas 24 toneladas no mesmo período de 2023. Trata-se do maior volume sazonal registrado nos dados desde 1997, segundo números oficiais brasileiros. No total, as importações argentinas de carne bovina neste ano estão no nível mais alto desde 2019.

Os argentinos consomem cerca de 50 quilos de carne vermelha por ano, um número que vem caindo gradualmente, mas que ainda mantém o país entre os maiores consumidores globais. Como o churrasco é parte da cultura social argentina, os preços da carne são acompanhados de perto pelos eleitores que Milei precisa conquistar nas eleições legislativas de outubro.

Em junho, o preço da carne na Grande Buenos Aires subiu 53% em relação ao ano anterior, bem acima da inflação geral, que foi de 39%.

Embora o aumento das importações represente um volume pequeno para um país que produz 250 mil toneladas por mês, ele reflete a aposta de Milei em manter o peso forte e abrir a economia argentina para conter a inflação.

Embora essas políticas tenham ajudado a moderar os preços às vésperas das eleições, também tornaram as importações mais baratas. Isso tem afetado a balança comercial, num momento em que o governo busca gerar mais dólares para estabilizar a economia e cumprir os compromissos com o Fundo Monetário Internacional.

“Como a Argentina foi ficando mais cara em dólares, isso permitiu que carne do Brasil chegasse a preços competitivos”, explicou Diego Ponti, analista do mercado de carnes da AZ Group. “Mas são volumes muito pequenos. Devem ser negócios pontuais em regiões próximas ou comércio entre plantas da mesma empresa que atuam na Argentina e no Brasil.”

Os frigoríficos argentinos, que pagam o gado em pesos, chegaram a desembolsar o equivalente a quase US$ 5 por quilo de boi gordo, segundo dados compilados pela AZ Group. A maior parte das exportações de carne bovina da Argentina — avaliadas em US$ 3,4 bilhões em 2023 — tem como destino a China.

No entanto, a recente tarifa de 50% imposta por Donald Trump à carne brasileira, no contexto de sua guerra comercial global, pode mudar o mapa competitivo.

“Os excedentes que o Brasil não conseguir vender para os EUA, provavelmente serão direcionados principalmente para a China”, disse Ponti. “Então, o mais provável é que os importadores chineses passem a negociar contratos com preços mais baixos.”

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

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