
Por Christian Lynch (*)
O objetivo da extrema-direita norte-americana, liderada por Donald Trump, é destruir, a partir da ditadura que implantou em Washington, a democracia liberal nos próprios Estados Unidos.
Diferentemente do fascismo original, que atacava abertamente a democracia, o populismo reacionário capturou sua retórica, apresentando sua ditadura como a única e verdadeira democracia — baseada no tripé da violência política representado pela mentira, pela intimidação e pelo suborno.
No plano geopolítico, a meta é dominar todo o continente, do Alasca à Terra do Fogo, desestabilizando governos autônomos para substituí-los por satélites obedientes. Para isso, Trump e seus aliados contam com quintas-colunas espalhados por todos os países da região, que frequentam os encontros da chamada Internacional Facho-Reacionária, dispostos a transformar suas pátrias em protetorados.
A joia da coroa dessa ambição na América Latina é o Brasil. Segundo informações que circulam no próprio Departamento de Estado, há um cronograma de ações para, nos próximos meses, apertar o torniquete contra nossa democracia, apresentando-a à opinião pública americana como uma espécie de Venezuela ou União Soviética sul-americana.
Seguindo o velho manual fascista, o governo americano patrocinará provocações contínuas para forçar uma reação brasileira. Ao se apresentar como vítima, justificará, sob o rótulo de “legítima defesa”, todo tipo de violência já planejada.
Para isso, recorrerá aos instrumentos de jurisdição extraterritorial criados nas últimas décadas sob o pretexto de defender a democracia e os direitos humanos, mas usados agora para fazer o oposto: pressionar democracias a se converterem em ditaduras alinhadas a Washington.
No caso do Brasil, o objetivo é provocar uma deterioração das relações bilaterais que culmine na ruptura diplomática, abrindo caminho para sanções semelhantes às aplicadas a países como Irã, Cuba, Coreia do Norte e Venezuela. O fim último é desestabilizar nossa República. Para tanto, repetir-se-á a mentira já propagada pelos fascistas locais: que Bolsonaro é o presidente legítimo; que a eleição de 2022 foi fraudada pela Justiça em conluio com a esquerda; que o Brasil vive sob ditadura.
Não será difícil, pois é a mesma narrativa usada para negar a derrota de Trump a Biden e apresentar a tentativa de golpe de Estado como um “desabafo popular” contra uma fraude inexistente. Tudo isso já são favas contadas. E, como a experiência com a família Bolsonaro e seus aliados nos ensinou, não se pode esperar decência, honradez ou honestidade de fascistas. O que nos cabe é dificultar a execução desse plano no tempo e na forma previstos.
Precisamos seguir nossa vida recusando ingerências, ganhar tempo, não responder às provocações, minimizar danos por meio do fortalecimento de relações comerciais e políticas com outros países, e contar principalmente com a deterioração do apoio interno — do empresariado e da opinião pública norte-americana — à ditadura trumpista.
Teremos de agir com inteligência estratégica, habilidade e paciência. Os fascistas americanos terão trabalho conosco: o Brasil não é mais o que era em 1964, nem o que foi em 1990. Não dependemos mais dos Estados Unidos, possuímos valioso soft power, existe solidariedade internacional contra a ditadura trumpista e já sabemos lidar com fortões enlouquecidos.
Temos de segurar firme — com paciência, inteligência e determinação.
(*)Doutor em Ciência Política (Ciência Política e Sociologia) pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Christian Edward Cyril Lynch é Professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política do Instituto de Estudos Políticos e Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
