Parlamentares bolsonaristas articulam indicação estratégica para justificar ausências do deputado nos Estados Unidos e evitar cassação automática.
Em uma manobra política calculada para preservar o cargo de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputados do PL firmaram um acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), visando instalá-lo como líder da minoria na Casa.
A estratégia, revelada nesta terça-feira (16), garante que as ausências do parlamentar, que se encontra nos Estados Unidos desde fevereiro, sejam justificadas como parte de uma “missão autorizada”, evitando assim a perda do mandato por excesso de faltas não justificadas.
De acordo com fontes do partido, a indicação de Eduardo Bolsonaro ao posto de liderança da minoria — atualmente ocupado por Caroline de Toni (PL-SC) — foi negociada diretamente com Hugo Motta.
A deputada Caroline de Toni, aliada próxima do clã Bolsonaro, concordou em abrir mão do cargo e assumir a vice-liderança, permitindo que ela gerencie as negociações em Brasília enquanto Eduardo permanece no exterior.
O acerto visa permitir que Eduardo, que está autoexilado nos Estados Unidos desde fevereiro, não perca o mandato por excesso de faltas — como líder, ele terá a prerrogativa de justificar as ausências, reportou o Metrópoles.
A medida surge em meio a um acumulado de 18 ausências não justificadas de Eduardo Bolsonaro em 2025, conforme registros da Câmara. Pela Constituição Federal, um deputado perde o mandato ao faltar a um terço das sessões ordinárias sem justificativa, o que poderia ocorrer ainda em novembro caso não haja intervenção.
O líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), é um dos principais articuladores da iniciativa, que deve ser formalizada em coletiva no Salão Verde ainda hoje.
No entanto, a nomeação depende da chancela de Hugo Motta, e aliados evitam detalhar como obtê-la.
Essa não é a primeira tentativa de Eduardo Bolsonaro para exercer o mandato remotamente. Em agosto, ele enviou ofício a Hugo Motta solicitando mecanismos para participação à distância, alegando “perseguição política” e comparando sua situação à pandemia de Covid-19, quando sessões remotas foram autorizadas.
No documento, o deputado argumentou que “a ausência não decorre de vontade própria, mas de perseguições ilegais que são de conhecimento público”. Contudo, Motta sinalizou oposição à ideia, e o pedido deve ser recusado por falta de respaldo regimental, conforme apurado pela Veja via coluna Radar.
O acordo pode não ser unânime. Críticos da base governista, como o líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), já acionaram o STF pedindo a suspensão cautelar do mandato de Eduardo, acusando-o de promover “campanhas contra o Brasil” nos EUA.
Além disso, Eduardo acumula investigações por coação e influência em processos judiciais, incluindo o suposto “tarifaço de Trump” contra o Brasil, o que reforça seu temor de prisão ao retornar.
O jornal O Globo destaca que, mesmo com a liderança, a oficialização das ausências como “missão” ainda depende de aval da Mesa Diretora, e o processo de cassação só avança em 2026.
A articulação reflete as tensões no Congresso em torno do bolsonarismo, com o PL buscando blindar seu principal nome, enquanto Hugo Motta equilibra pressões da oposição e do governo Lula.
A expectativa é de que a nomeação seja anunciada nas próximas horas, mas analistas alertam para possíveis contestações judiciais que podem prolongar o impasse.
Do UrbsMagna
