A PEC da Impunidade parlamentar e todas as perguntas que devem ser respondidas

Aprovada pela Câmara, lei ainda vai passar pela CCJ do Senado; se entrasse em vigor hoje, legislação que oferece blindagem para crimes políticos beneficiaria Eduardo Bolsonaro e maioria dos deputados de centro e direita.

Um dia após o outro e o Congresso aprovou a urgência de anistia na noite desta quarta (17) após aprovar a PEC da Blindagem, mais conhecida como “PEC da Bandidagem”, que agora segue para a análise da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. Em tão curto período de tempo, duas propostas com um objetivo em comum, embora em contextos diferentes: livrar políticos de seus próprios crimes. 

Se entrasse em vigor agora, pelo menos 36 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) seriam afetados, o que corresponde à investigação em andamento de 108 parlamentares, segundo dados públicos. Esses processos só se transformariam em ações penais com autorização do próprio Congresso.

Isso significa que a medida favoreceria diretamente Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que é acusado de cometer crime lesa-pátria contra o Brasil, e alcança tanto aliados do governo quanto opositores, sobretudo em casos relacionados a desvios de emendas parlamentares.

A maioria dos inquéritos que seriam bloqueados são de investigações contra políticos de Centro, direita e extrema direita, segundo o levantamento. Como mostrou ontem a Fórum, a movimentação apressada, sem sentido e contra o debate e opinião pública feita pelo Congresso, tem como prinicipal motivo as emendas Pix, envolvendo inquéritos sobre o uso irregular de emendas parlamentares iniciado pelo ministro Flávio Dino, que cobra transparência sobre uso de recursos públicos fornecidos ao Legislativo.

“É óbvio que qualquer congressista que congraçar na anistia é golpista. (…) Você quer passar uma anistia sabendo que o Supremo será provocado e que o Supremo dirá que é inconstitucional, que não pode entrar em vigor. Você cria um problema gravíssimo entre os poderes”, disse Kakay em entrevista ao Jornal da Fórum.

Parlamentares de oposição, como os do PL, Republicanos, e de partidos da base, incluindo União Brasil e PSB, estão entre os investigados. Deputados e senadores figuram como alvos, embora o número possa ser maior, devido a casos sigilosos e à falta de divulgação de todos os nomes, ou seja, um mesmo inquérito pode atingir diversos deputados ao mesmo tempo.

É o caso do processo sobre milícias digitais e disseminação de fake news, ainda sob sigilo, que envolve parlamentares como Zé Trovão (PL-SC), Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), Filipe Barros (PL-PR), Cabo Junio Amaral (PL-MG), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) e Gil Diniz (PL-SP), todos sob a supervisão do ministro Alexandre de Moraes.

A maioria das investigações são conduzidas pelos ministros Dino e Zanin, que apuram desvios de recursos via emendas parlamentares. Entre os investigados estão Elmar Nascimento (União-BA), citado na Operação Overclean, que apura fraudes em Campo Formoso (BA), além de Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e José Guimarães (PT-CE). Outros parlamentares sob investigação no Supremo, em diferentes frentes, incluem Afonso Motta (PDT-RS), Félix Mendonça (PDT-BA), Eunício Oliveira (MDB-CE) e Yuri do Paredão (MDB-CE). Todos negam irregularidade.

O inquérito que apura a atuação de Eduardo Bolsonaro está sob a relatoria de Moraes. Ele é investigado por, junto com o pai, Jair Bolsonaro, tentar influenciar sanções de autoridades americanas com o objetivo de reverter a ação penal do golpe, que resultou na condenação do ex-presidente a 27 anos de prisão.

A PEC da blindagem precisava de 308 votos para aprovação e obteve 353 favoráveis e 134 contrários no primeiro turno. No segundo turno, o placar foi de 344 votos favoráveis e 133 contrários. A maior parte dos votos a favor da PEC partiu de bolsonaristas e parlamentares do centrão.  Na madrugada, os deputados ainda aprovaram um destaque que retirou da PEC a previsão de votação secreta para autorizar a abertura de processos contra parlamentares.

Faltam ainda ser votados dois destaques e, na sequência, a proposta seguirá para a CCJ do Senado, onde deve enfrentar resistência. O partido que mais deu votos para aprovar a PEC da Blindagem foi o PL, legenda de Jair Bolsonaro (83 votos favoráveis), seguido de outras legendas liberais. O que mais deu votos contrários à proposta foi o PSOL.

Texto de , da Revista Fórum

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

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