A produtora e comercializadora de ativos rurais BrasilAgro surpreende o agronegócio ao apostar em queda brutal dos preços da terra e adiar aquisições mesmo diante de ofertas abundantes.
A BrasilAgro surpreende o agronegócio ao adotar uma postura de “sangue frio” diante da onda de propriedades rurais em crise no país. Em um movimento inédito, a companhia completou o ano-safra 2024/25 sem comprar uma única fazenda, mesmo após ter sido sondada com quase 400 ativos sob estresse financeiro.

Segundo informações do portal CompreRural, a decisão é estratégica: a empresa acredita que os preços da terra ainda estão inflados e que só cairão de forma acentuada quando o pico da crise atingir os produtores mais endividados.
Enquanto isso, a companhia se concentra em desinvestimentos robustos, que somaram R$ 2,8 bilhões apenas na última safra.
O cenário de crise no campo
A desaceleração do agronegócio, somada à alta da Selic e ao peso das dívidas, fez disparar o número de propriedades em dificuldade. Ainda que os pedidos de recuperação judicial tenham crescido “apenas” 40% em 2025 após um salto de 138% em 2024, o setor continua sob pressão.
Nesse ambiente, bancos passaram a oferecer carteiras inteiras de fazendas em dificuldade, mas sem sucesso junto à BrasilAgro.
A escolha da empresa é clara: não ceder à pressa do mercado. Para os executivos, aceitar propostas agora significaria pagar caro por ativos que podem ser adquiridos a preços de liquidação quando a crise se intensificar.
Estratégia de disciplina financeira
Segundo o CompreRural, o CEO André Guillaumon é categórico ao afirmar que os valores atuais não oferecem taxas de retorno satisfatórias.
A lógica da BrasilAgro é esperar a correção completa do mercado de terras, em vez de assumir riscos desnecessários em um momento de alta volatilidade.
Essa disciplina transforma a companhia em uma espécie de “boutique de M&A do agro”, que atua apenas quando as condições são extremamente favoráveis.
Ao recusar mais de 300 propriedades, a empresa demonstra força de caixa e paciência estratégica.
O peso dos juros e das dívidas
A política de juros altos, necessária para conter a inflação, atingiu em cheio produtores que apostaram na soja quando ela estava próxima de R$ 200 por saca.
Muitos não conseguiram honrar compromissos, e agora veem seus ativos sendo pressionados pelos bancos. Para a BrasilAgro, esse é o gatilho que falta para os preços das terras despencarem e criarem as oportunidades de compra que a companhia espera.
Enquanto isso, a empresa fortalece sua posição com liquidez, vendendo propriedades em bons momentos e aguardando pacientemente o ciclo virar a seu favor.
Impacto no mercado e mensagem ao setor
A postura da BrasilAgro é interpretada como um sinal de que o pior ainda pode estar por vir no mercado de terras agrícolas.
A BrasilAgro é uma das maiores do setor no país em quantidade de terras agricultáveis. A empresa adquire propriedades rurais com potencial agropecuário, investe em infraestrutura e tecnologia para aumentar o valor e a produtividade da terra, e depois vende essas propriedades, gerando ganhos de capital. A BrasilAgro também realiza operações de produção de commodities como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, e atividades de pecuária.
Na crise do início dos anos 90, aquela dos sete planos econômicos (Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão, Collor I, Collor II e, mais tarde, o Plano Real em 1994), quando milhares de produtores perderam suas terras ou venderam por preço vil, o Governo acordou e determinou uma sistematização das dívidas, com até 10 anos para pagar.
No entanto, aqueles que foram salvos pelo oxigênio do governo voltaram a respirar e investiram ainda mais no setor, levando à atual crise, que já dura quase 10 anos.
A palavra que os produtores rurais não querem nem ouvir é diversificação da produção e verticalização industrial dos produtos rurais.
O produtor rural precisa dar o grito de independencia do binômio soja-milho que atualmente está com as piores cotações da década.
