Mãos amarradas, tiros na nuca, facadas, marcas de execução programada

Moradores das comunidades do Alemão e da Penha, palcos da megaoperação policial de ontem na zona norte do Rio de Janeiro, denunciaram violações cometidas pelas forças de segurança durante a ação, que se tornou a mais letal da história do estado fluminense.

Denúncias constam em relatório da Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do RJ. O documento, acessado pelo UOL, reúne relatos de moradores sobre supostos abusos e violações cometidas.

Imagem de drone mostra corpos levados a praça no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 29 de outubro de 2025 — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Violações denunciadas incluem casos de agressão policial contra mulher grávida e tiros de arma de fogo disparados “de forma indiscriminada” na direção de casas de moradores. Segundo os relatos recebidos pela Ouvidoria, policiais também invadiram residências sem mandados judiciais e negaram socorro a pessoas que passavam mal em locais das operações.

“Recebemos denúncias de que uma mulher grávida foi agredida por agentes ao questionar o motivo de ela ter que mostrar o seu telefone sem que houvesse um mandado. A resposta recebida por ela foi: “eu sou a lei, eu sou o juiz, mandato é o c*”.

Alguns dos corpos encontrados em área de mata na Penha entre a noite de ontem e a manhã de hoje têm marcas de tiro na nuca, nas costas e facadas, segundo testemunhas.

Características dos mortos dão sinais de assassinato deliberado, afirmou o comunicador Raul Santiago. “Muitas pessoas estão executadas com tiro na nuca por trás, tiros nas costas, facadas”, disse, em entrevista do UOL.

Alguns dos mortos também estavam baleados na cabeça e nas pernas. As marcas dos tiros foram vistas por equipes do UOL na praça.

Reconhecimento na praça

O g1 apurou ainda que os corpos, todos de homens, estavam na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os confrontos entre as forças de segurança e traficantes.

O ativista Raull Santiago é um dos que ajudaram a retirar os corpos da mata. “Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, eu nunca vi nada parecido com o que estou vendo hoje. É algo novo. Brutal e violento num nível desconhecido”, disse.

Segundo apurou o g1, o objetivo do traslado dos corpos até a praça foi para facilitar o reconhecimento por parentes. Moradores os deixaram sem camisa para agilizar esse processo, a fim de deixar à mostra tatuagens, cicatrizes e marcas de nascença.

Muitos dos mortos tinham feridas a bala – alguns estavam com o rosto desfigurado.

Depois, a Polícia Civil informou que o atendimento às famílias para o reconhecimento oficial ocorrerá no prédio do Detran localizado ao lado do Instituto Médico-Legal (IML) do Centro do Rio, a partir das 8h.

Nesse período, o acesso ao IML será restrito à Polícia Civil e ao Ministério Público, que realizam os exames necessários. As demais necropsias, sem relação com a operação, serão feitas no IML de Niterói.

Com UOL, G1 e o Globo.

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

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