Quando os militares deram o golpe em 1964, a economia estava desestabilizada e a inflação girava na casa dos 90% ao ano. Quando eles saíram do poder em 1985, a inflação já estava em 231% ao ano e as bases da economia prontas para a hiperinflação dos anos Sarney.
A dívida externa, que em 1964 era de 3 bilhões, ultrapassou os 100 bilhões de dólares, 20 anos depois. O endividamento que representava 15% do PIB, saltou para 54% no fim da ditadura. Em 1987, o governo foi obrigado a declarar moratória e suspender o pagamento de suas dívidas por tempo indeterminado, tamanho o rombo deixado nas contas públicas.
Os militares quebraram o país. E não só do ponto de vista econômico. Em 1985, por exemplo, 24% das crianças brasileiras até 14 anos eram analfabetas; a escola pública, que até a entrada dos militares era referência de ensino, foi sucateada para que o ensino privado ocupasse “o mercado”.
Até o golpe de 1964, os Estados e municípios eram obrigados a investir 20% da receita em educação e a União 12%. A Constituição da ditadura militar de 1967 desobrigou esse investimento. Em 1975 o Brasil investiu 4% do PIB em Educação.
No Nordeste, 36% dos professores tinham apenas o 1° grau completo, 22% da população vivia em situação de extrema pobreza; 40% das casas não possuíam água encanada. E o Brasil se despedia de um regime que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo, como disse o último general da ditadura, João Figueiredo.
São 32 anos da Constituição Cidadã de 1988. De lá para cá, a mortalidade infantil caiu de 56 para 12 crianças por 1000 nascidas. A extrema pobreza ainda atinge 7% da população, mas já chegou a menos de 5%, quando o país deixou o Mapa da Fome em 2014.
O analfabetismo entre crianças até 14 anos foi reduzido para 5%. Quase 10% dos domicílios ainda precisam de água encanada.
Entender a incompetência de um general de brigada para lidar com questões epidemiológicas é mais fácil do que entender o apoio político que o exército oferece para um governo envolvido com o crime organizado de ordens mais diversas, de garimpeiros e desmatadores à milícias urbanas e digitais.
Como tutelar um governo cujo gabinete principal é o “do ódio” e o escritório mais famoso é o “do crime”?
Como sustentar um governo que elege seu povo como próprio inimigo? A história do exército a frente da política brasileira talvez nos dê alguma pista.