Lição final do acidente da Air France é a mesma de outros

A lição deixada pelo acidente do vôo 477 da Air France é a mesma de outras tragédias: um acidente não tem uma única causa, é apenas a soma de pequenos e decisivos incidentes. Neste caso, a falha das sondas pitot; a decisão de rota alternativa para não enfrentar uma tempestade de proporções; a relativa imperícia dos dois pilotos que não entenderam o que estava ocorrendo ou entenderam tardiamente; a ausência do comandante, mais qualificado para tomar uma decisão.

O mesmo aconteceu no último acidente da TAM em Congonhas: a pista curta e escorregadia; o reverso pinado ou isolado; atitudes díspares entre comandante e co-piloto e a indecisão final entre arremeter ou “quebrar” o avião, através de um cavalo-de-pau.

Há mais tempo, o acidente do Fokker-100, também em Congonhas, que matou 100 pessoas passou também por uma série de incidentes: o reverso que abriu já na decolagem; a insistência do co-piloto em levantar a rotação da turbina que entrou em reverso, ao ponto de quebrar os cabos de conexão da manete direita e, finalmente, a indecisão do comandante, que poderia ter decidido voar em mono e pedir prioridade para o retorno à pista ou alternar para Guarulhos.

Repetimos: uma tragédia é apenas o somatório de pequenas incapacidades, mecânicas ou humanas. Aviões não são construídos para cair. Ou melhor, não caem, são derrubados.

Veja os diálogos do piloto, co-piloto e comandante. Eles estão realmente perdidos e não sabem o que está acontecendo com a aeronave.

2h10min51: alarme estol dispara

“Temos os motores. O que está acontecendo?”, diz o segundo copiloto, às 2h11min3s.
“Não tenho mais o controle do avião agora. Não tenho mais nenhum controle do avião”, responde o primeiro copiloto, que comanda o avião no momento. “Tenho a impressão de que a gente conseguiu velocidade”.

Às 2h11min43s, há um barulho na porta da cabine. O comandante de bordo volta à cabine, depois de ter sido chamado pelo segundo copiloto enquanto descansava. Fazia nove minutos que ele estava ausente da pilotagem.

“Hey, o que vocês estão fazendo?”, diz o comandante.
“O que está acontecendo? Eu não sei”, afirma o primeiro copiloto. “Eu não sei o que está acontecendo.”

Às 2h11min45s, o alarme estol para de soar por sete segundos, e depois retorna de forma descontínua. Os diálogos prosseguem da seguinte maneira:

2h11min58s (primeiro piloto): “Tenho um problema, eu não tenho mais o variômetro. Não tenho mais nenhuma indicação (de velocidade).”
2h12min04s (primeiro copiloto): “Eu tenho a impressão que estamos a uma velocidade maluca, não? O que vocês acham?”
2h12min19s (primeiro copiloto): “Agora está bom, agora deveríamos ter voltado a estabilizar as asas, mas ele não quer.”
(comandante): “Asas estabilizadas. Horizonte seguro.”
2h12min13s (segundo copiloto): “O que você acha? O que você? O que é preciso fazer?”
2h12min15s (comandante): “Eu não sei. Está descendo.”
2h12min26s: (primeiro copiloto): “A velocidade?”

Às 2h12min27s, o alarme estol volta a soar. O segundo copiloto prossegue:

“Você está subindo… Você está descendo, descendo, descendo, descendo.”
(primeiro copiloto): “Eu estou descendo agora?”
(segundo copiloto): “Descendo.”
2h12min32s (comandante): “Não, você está subindo agora!”
2h12min33s (primeiro copiloto): “Eu estou subindo? Ok, então vou descer.”
2h12min42s: (primeiro copiloto): “Na altitude, estamos em quanto agora?”
2h12min44s (comandante): “Não é possível…”
(primeiro copiloto): “Qual é a altitude?”
(segundo copiloto): “Como assim em altitude?”
(primeiro copiloto): “Sim, sim. Estou descendo agora, não?”
(segundo copiloto): “Sim, você está descendo.”
(comandante): “É… Você… Você coloca as asas na horizontal.”
(segundo copiloto): “Coloque as asas na horizontal.”
(primeiro copiloto): “É o que eu estou tentando fazer.”
(comandante): “Coloque as asas na horizontal.”

2h12min46s: O alarme estol para de apitar por dois segundos, retorna e depois para novamente às 2h12min57s.

Primeiro copiloto: “Estou tentando virar ao máximo à esquerda.”
2h13min25s (primeiro copiloto): “O que está… Como pode que a gente continue descendo tanto?
2h13min28s (segundo copiloto): “Tenta ver o que você consegue fazer com os comandos do alto. Os básicos, etc.”
2h13min32s (segundo copiloto): “Ao nível 100.”
2h13min36s (segundo copiloto): “Nove mil pés.”
2h13min39s (segundo copiloto): “Sobe, sobe, sobe, sobe.”
2h13min40s (primeiro copiloto) “Mas eu estou empinando muito há algum tempo.”
(comandante): “Não, não, não, não sobe.”
(segundo copiloto): “Então desce.”
2h13min45s (segundo copiloto): “Então me passa os comandos, me passa os comandos.”

2h13min55s: Alarme estol é acionado pela última vez, durante oito segundos.

2h14min5s (comandante):”Atenção, você está empinando.”
Segundo copiloto assume o comando do avião: “Estou empinando?”
(primeiro copiloto): “Bom, é o que é preciso fazer, nós estamos a quatro mil pés.”
2h14min18s (comandante):”Vá, puxe!”
(primeiro copiloto): “Vá, puxe, puxe, puxe, puxe.”

2h14min28s: Fim das gravações

Como se pode ver, toda a crise a bordo durou pouco mais de 3 minutos. Na situação de stol, a única coisa a fazer é tomar uma atitude de vôo que favoreça o ganho de velocidade e aumente a sustentabilidade. Mesmo a baixa altitude, em torno de 1.300 metros, era necessário que se baixasse o bico do avião, que reduziu drasticamente sua velocidade após alguns minutos na posição “cabrada” ou com o nariz para cima, em que o arrasto aerodinâmico era grande.

 

Pilotos do vôo 477 Air France serão culpados pelo acidente.

O Globo antecipa hoje que o Escritório de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil da França divulgará amanhã à tarde seu relatório final sobre as causas da queda no oceano Atlântico do Airbus A330-203, que na noite do dia 31 de maio para 1 de junho de 2009 fazia o vôo 477 da Air France na rota Rio de Janeiro-Paris.

O relatório apontará problemas técnicos no avião, mas atribuirá aos pilotos a maior parcela de culpa pelo acidente que matou 228 pessoas – 216 passageiros e 12 tripulantes. Os problemas técnicos poderiam ter sido contornados se os pilotos tivessem recebido treinamento mais adequado para enfrentar aquele tipo de emergência.

O vôo 477 começou no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, às 19h03m. E deveria ter terminado no aeroporto de Paris-Charles de Gaulle aproximadamente 11 horas depois.

O último contato humano com a tripulação foram mensagens de rotina enviadas aos controladores de terra brasileiros decorridas três horas e 30 minutos de voo, quando o avião se aproximava do limite de vigilância dos radares brasileiros, cruzando o Oceano Atlântico e seguindo para a costa senegalesa, na África Ocidental.

O comandante do avião tinha 11 000 horas de voo e o Airbus, em serviço desde 2005, 18 870 horas de voo.

Por que caiu o Airbus da Air France?

O cockpit do A330/340

O que as autoridades francesas não revelam, nem mesmo os especialistas brasileiros presentes na investigação do vôo 447 da Air France, é porque a aeronave entrou em ângulo de arremeter (16º) até estolar e cair. O que leigos entendem é que os motores do avião estariam com baixa potência, ou marcha lenta ou, ainda, completamente apagados. A culpa parece ser das dezenas de computadores que limitam a reação dos pilotos, principalmente usando o sistema fly-by-wire (através de joysticks), que a Airbus teima – e por via de consequência, as autoridades francesas – em defender. Depois que o manche convencional, ligado por cabos aos controles de profundidade e leme  foi abandonado, os pilotos não conseguem mais intuir a velocidade do avião. Todo piloto amador sabe que a hora que o manche começa a tremer, está na hora de acelerar e melhorar a atitude de vôo, baixando o nariz para aproveitar a velocidade inercial. Joysticks são muito bons para vídeos-game, mas para aviões ainda são um aporte de tecnologia em desenvolvimento.

A tragédia brasileira da TAM, cujo Airbus 320 matou 200 pessoas em Congonhas, parece estar ligada ao mesmo assunto. O experiente piloto sabia, momentos antes de tocar o solo, que deveria arremeter, mas não conseguiu, por isso bateu ainda acima da velocidade de pouso.  A tentativa de reverso e, outra, de quebrar o avião, num cavalo-de-pau, foram apenas desesperados recursos.

Sondas pitot congeladas derrubaram airbus da Air France, diz Der Spiegel.

O voo da Air France Rio-Paris, que desapareceu no Atlântico no dia 1º de junho de 2009 com 228 pessoas a bordo, teria sofrido uma súbita parada provocada pelo gelo acumulado nas sondas Pitot, segundo o semanário alemão Der Spiegel, que cita um investigador do acidente.
Der Spiegel, citando um especialista que pediu o anonimato, garante que as causas exatas do acidente não são conhecidas, mas que a informação das caixas-pretas sugere que as sondas de velocidade da aeronave, conhecidas como sondas Pitot, congelaram, o que provocou uma falha na velocidade do Airbus.
O acidente ocorreu em um lapso de quatro minutos, segundo as informações reveladas pelas caixas-pretas recuperadas no mês passado, a quase 4 mil metros de profundidade.
Segundo a gravação, o piloto chefe do voo, Marc Dubois, não estava na cabine quando os alarmes soaram.
— Pode-se ouvir ele chegando correndo à cabine e “gritando instruções aos seus dois copilotos”— afirma o especialista ao semanário.
O avião parecia que havia evitado uma área de fortes turbulências, mas suas sondas Pitot tinham partículas de gelo.
— A informação gravada indica uma queda abrupta do avião pouco depois que os indicadores de velocidade falharam, como resultado de uma parada do avião — disse o especialista.
Não está claro se isto foi consequência de um erro do piloto ou se os computadores da aeronave saltaram automaticamente para compensar o que parecia ser uma súbita perda de potência, disse a revista.
O caso é seguido de perto na Alemanha, já que 28 passageiros do voo eram alemães.
especialistas afirmaram na sexta-feira passada que no fim da próxima semana divulgarão oficialmente as primeiras descobertas sobre as informações contidas nas caixas-pretas do avião, recuperadas recentemente do fundo do oceano. Texto de Zero Hora em Clicrbs.

A operação que busca os motivos da tragédia do vôo 447.

O portal G1 reproduz hoje matéria jornalística de Wil S. Hylton, do New York Times, explicando como foi a descoberta dos destroços do vôo 447 da Air France, dos custos astronômicos da operação e de como está sendo feito o resgate dos corpos. Clique no link para acessar.

Corpos do acidente da Air France serão levados para a França para identificação.

Os corpos das vítimas do acidente com o Airbus A-330 que ia do Rio para Paris e caiu no Oceano Atlântico, na noite de 31 de maio de 2009, serão levados para a França para coleta de material genético (DNA). A informação foi dada pelo presidente da Associação das Famílias de Vítimas do Voo 447 da Air France, Nelson Faria Marinho, depois de encontro com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Os corpos foram localizados há uma semana.

O ministro informou a Marinho que, conforme regras internacionais, os corpos precisarão ir para França para identificação assim que forem resgatados e, somente depois, serão encaminhados aos países de origem das vítimas. Ainda não sabe o número de corpos encontrados, nem a nacionalidade deles.

Segundo Marinho, o ministro garantiu que o Estado terá um observador, assim como foi pedido pela associação, no resgate dos corpos e dos destroços do avião, que caiu há quase dois anos no Oceano Atlântico, com 228 pessoas a bordo. “O ministro também pedirá ao Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos] para traduzir a documentação que trouxemos da França”, disse Marinho.

Ele explicou que as informações contidas no relatório trazido da França apresentam termos técnicos de difícil interpretação pela Procuradoria da República, em Pernambuco, responsável pelo inquérito criminal e que recebeu o documento de mais de 700 páginas. O relatório contém dados fornecidos por sindicatos, pilotos e especialistas.

Na próxima segunda-feira (11), Marinho participará de uma reunião em Paris, na qual será discutida a próxima etapa do processo de busca, quando serão tirados do fundo do oceano os corpos localizados na última semana. De Danilo Macedo, da Agência Nacional.

Imagens impressionantes. Corpos foram encontrados entre os destroços.

A operação de resgate dos restos mortais de passageiros e de parte da fuselagem do Airbus A330, submersos no Oceano Atlântico e localizados domingo, deve começar entre três semanas e um mês, afirmou nesta segunda o responsável por investigar as causas do acidente, Alain Bouillard. O voo 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris. O avião transportava 228 pessoas e caiu no oceano em 31 de maio de 2009.

Bouillard confirmou que “vários corpos” foram encontrados durante a quarta operação de busca da fuselagem e das caixas-pretas do avião, iniciada em 25 de março, em uma área de 10 mil quilômetros quadrados que não havia sido vasculhada até então. Esta quarta fase de buscas era considerada a “operação da última chance” para encontrar as caixas-pretas do avião.

Em uma coletiva de imprensa ocorrida ontem, na sede do Escritório de Investigação e Análises (BEA, na sigla em francês) em Le Bourget, nos arredores de Paris, a ministra francesa dos Transportes, Nathalie Kosciusko-Morizet, disse que a descoberta de parte do avião “é um momento muito importante para o luto das famílias e para permitir maior segurança no setor aeronáutico”.

De acordo com Jean-Paul Troadec, diretor do BEA, já foi iniciado o processo de licitação para definir o navio e os equipamentos que serão utilizados para resgatar os destroços do avião da Air France. A ministra e Troadec não fizeram qualquer comentário sobre a localização e o resgate dos corpos, afirmando que as famílias das vítimas deverão ser informadas primeiro.

Para Alain Bouillard, “é fundamental localizar as caixas-pretas do avião para determinar as causas do acidente”. Porém, mesmo que os equipamentos sejam resgatados, os técnicos do BEA ainda não sabem se os dados técnicos sobre o voo e as conversas dos pilotos foram conservados e se poderão ser analisados.

Até o momento, o BEA afirma que um problema com os sensores de velocidade do avião, os chamados tubos pitot, teriam contribuído para o acidente.

Veja as imagens originais do Escritório de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil da França, que encontrou grandes peças (turbinas e trem de aterrisagem) do Airbus A330 da Air France, dentro de uma planície abissal no meio do Atlântico.

Segundo notícias da BBC de Londres, corpos de passageiros do voo 447 da Air France, que caiu sobre o Atlântico há quase dois anos, após decolar do Rio de Janeiro, foram encontrados dentro de uma grande parte da fuselagem localizada no mar no domingo. A afirmação foi feita nesta segunda-feira pela ministra francesa dos Transportes, Nathalie Kosciusko-Morizet.

De acordo com Nathalie, alguns corpos no interior do avião poderiam vir a ser identificados. “É uma parte importante do avião, cercada por destroços. É uma parte que permaneceu praticamente intacta, em uma única peça”, disse a ministra. Segundo ela, essa descoberta “dá aos investigadores esperanças de localizar rapidamente as caixas-pretas do avião”.

Ao ser indagada por um jornalista se tratavam-se de “vestígios” dos restos mortais dos passageiros da aeronave, a ministra francesa afirmou: “Mais do que vestígios, há corpos”.

O voo AF 447 da Air France, que fazia o trajeto Rio-Paris, desapareceu dos radares na noite de 31 de maio de 2009 (pelo horário brasileiro) com 228 pessoas a bordo. Somente cerca de 50 corpos foram encontrados, pouco após a catástrofe.