Corpo de Rubens Paiva foi jogado no mar, diz jornal O Globo

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Hoje “O Globo” revela o destino dado ao corpo do ex-deputado petebista Rubens Paiva, preso em casa e morto pelas forças de repressão do regime em 1971. Um coronel reformado, hoje com 76 anos, na condição de anonimato, contou ao repórter que o corpo ensacado de Paiva foi retirado da praia do Recreio dos Bandeirantes e levado ao Iate Clube para ser lançado ao mar.

Quanto ao autor e às circunstâncias em que se deu o crime, o coronel disse não saber. Questionado se se arrependia, ele afirmou que faria tudo novamente. “Tenho 76 anos, mas ainda posso dar instrução aos mais jovens.” E explicou porque os militares, não só do Brasil, mas no Chile, Uruguai, Argentina, desapareciam com os corpos dos inimigos: “Quando um companheiro morre, o guerrilheiro lamenta, mas acaba esquecendo. Não é como o desaparecimento, que gera uma expectativa eterna”.

“Com declarações como essa, não há ferida que feche”, diz o ex-deputado Roberto Jefferson, o delator do Mensalão, preso recentemente.

O valente Sarney do lado de lá

Você, caro leitor, que viveu os anos de chumbo, não deve perder o artigo “O valente Sarney do lado de lá”, do jornalista Luiz Cláudio Cunha, no portal do Jornal Já. Veja trecho e leia a íntegra clicando no link.

“Pego em flagrante delito como defensor do indefensável, o senador José Sarney, presidente do Congresso Nacional, esperou calado até a véspera da audiência na Justiça paulista para externar sua repulsa à condição de testemunha de defesa do coronel da reserva do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Como major, nos anos chumbados do Governo Médici, Ustra criou e comandou no II Exército de São Paulo o DOI-CODI da rua Tutóia, ganhando por merecimento a condição de símbolo vivo da repressão mais feroz da ditadura — o regime que Sarney defendia sem rebuço, como cacique do partido dos militares, a ARENA. Se não apoiava, Sarney nunca expressou publicamente esta suposta contrariedade. Permaneceu corajosamente silente.”

Leituras imperdíveis.

Não deixe de ler, no portal Congresso em Foco, o artigo “Ordem e Progresso. Horror e Escárnio.” Em resenha produzida originalmente para o Le Monde Diplomatique, Marcelo Mirisola escreve sobre o livro “Segredo de Estado – o Desaparecimento de Rubens Paiva”, de Jason Tércio.

Memórias misturadas

A reprodução de um vídeo, pela Globo, com Armando Nogueira, contando as suas memórias nos anos de chumbo me trouxe recordações gratificantes, de quando se fazia um bom jornalismo apesar da ditadura. Conta Armando Nogueira que a relação com os militares era surreal: recebia, na redação, um telegrama da Polícia Federal afirmando que era proibida noticiar a morte de Lamarca, por exemplo. “Assim, diz o jornalista falecido ontem, ficávamos sabendo da morte do guerrilheiro, mas nada podíamos noticiar.” Lembrei-me, então, do texto que abria os telegramas da Polícia Federal: “Está proibida, no todo ou em parte, a reprodução dos seguintes telegramas”. E enumerava, então os telegramas da Associedt Press – AP, da Associated France Presse – AFP, da Reuters, da United Press International- UPI, da Agência Jornal do Brasil – AJB e da Agência Estado – AE.

Em certa oportunidade, reproduzi um editorial do Le Monde na página de Internacional da Zero Hora, de Porto Alegre, que analisava a alta da mortalidade infantil nos governos da ditadura, lá pelo final dos anos 60. Mesmo o editorial não estando no index da Polícia Federal, convidaram-me, através de um telefonema ao meu editor, a comparecer na Rua Paraná, sede da famigerada em Porto Alegre. No outro dia peguei um avião e, prudentemente, encetei viagem de quatro meses para Rondônia, Acre e Amazonas. Quando voltei a Porto Alegre já tinham me esquecido.