Do Gaúcha-ZH – ClicRbs
Autorizado para uso emergencial no tratamento de pacientes de covid-19 pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos nos Estados Unidos, o plasma sanguíneo de pessoas curadas da enfermidade tem sido aplicado em ao menos quatro hospitais do Rio Grande do Sul.
Segundo o mais recente relatório da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, ligada ao Ministério da Saúde, há 26 estudos de plasma autorizados no Brasil – a maioria ainda em desenvolvimento e sem resultados conclusivos.
O Clínicas deu início a sua pesquisa, que terá 160 participantes, há pouco mais de um mês. De maneira aleatória, como demandam os modelos científicos, metade receberá a substância, e o restante, apenas o acompanhamento da equipe médica. Até o momento, 40 pessoas foram incluídas no ensaio clínico.
Financiado pelo Instituto de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapergs) e pelo Instituto Floresta, o experimento inclui somente pacientes que necessitam de suporte respiratório. O hematologista Leo Sekine, coordenador do trabalho, pretende colher resultados preliminares dentro de um mês, concluindo o estudo até o final do ano.
— Há sinais favoráveis ao uso de plasma, mas, também, receio quanto à incorporação de forma ampla de uma terapia em um cenário de resultados ainda preliminares. Não se pode dar ao “luxo” de impor potenciais riscos aos pacientes — comenta Sekine, que é chefe do serviço de hemoterapia do Clínicas.

Tratamentos com plasma para doenças infecciosas não são inéditos na medicina – há uso em pacientes de ebola, sars e mers, entre outros. A terapia consiste em introduzir anticorpos de uma pessoa recuperada em uma contaminada, estimulando o organismo a se recuperar mais rapidamente da contaminação.
Devido ao histórico de bons resultados, o Moinhos de Vento incorporou, em 2 de julho, um protocolo de plasma para seus pacientes internados pelo coronavírus, em caráter experimental. Aqueles que aceitam a transfusão precisam assinar um termo de consentimento e custear seu próprio tratamento, que não está incluído na cobertura de planos de saúde.
Como ainda não existe um remédio antiviral específico, o anticorpo é a única maneira de atacar o vírus
MARCELO GAZZANA -Chefe do serviço de pneumologia do Hospital Moinhos de Vento
De acordo com o chefe do serviço de pneumologia do hospital, Marcelo Gazzana, 109 pacientes já receberam o componente – número que representa quase 25% do total de internados no período. Ainda não há, contudo, uma descrição detalhada dos casos. Entre eles, há pessoas curadas, doentes ainda hospitalizados e, também, mortos.
— Como ainda não existe um remédio antiviral específico, o anticorpo é a única maneira de atacar o vírus. Para a maioria das pessoas, seus próprios anticorpos são suficientes, mas eles levam um tempo para serem produzidos. Por isso, ao receberem anticorpos “prontos”, tendem a reverter a infecção — descreve Gazzana.

