Números da pandemia são trágicos. E a Saúde está aparelhada politicamente.

Brasil registra 807 novas mortes por coronavírus. Total de óbitos é de 23.473. Já próximo dos 30 mil que Bolsonaro promovia quando deputado. Só que ele falava em gente de esquerda. Mas quem está morrendo são pobres, das camadas mais vulneráveis da população.

O número de casos é de mais de 374 mil pessoas. E recém começa a chegar ao interior do País. Há poucos dias, eram menos de 10 os casos no Oeste baiano. Hoje, passam de 100 com folga.

A par disso, o aparelhamento ideológico do Ministério da Saúde preocupa. Não tarda o dia em que os números da pandemia poderão ser considerados sigilosos.

No último sábado (23), o epidemiologista Wanderson Oliveira anunciou sua saída do Ministério da Saúde.

Dessa forma, a pasta perdeu sua principal referência técnica e o profissional que desenvolveu o planejamento do governo brasileiro para o enfrentamento à pandemia. Em contrapartida, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo, o ministério deve receber mais 20 militares em cargos estratégicos, que farão companhia a outros 20 já nomeados.

Nenhum dos militares que trabalham no ministério possui formação técnica para atuar na área da saúde, nem mesmo o general Eduardo Pazuello, chefe temporário da pasta, que substituiu dois médicos no cargo, Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta. Quem atua no setor alerta para os perigos das mudanças.

“A subnotificação já afeta os dados hoje, minha preocupação é que passe a haver uma ação deliberada para produzir subnotificação e atraso na divulgação do avanço da epidemia”, explica Leandro Gonçalves, professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF).

“Se eles quiserem, eles vão conseguir manejar a narrativa da extensão da pandemia no Brasil. Hoje, caiu o Wanderson da Silva, que é o cara que planejou o enfrentamento à pandemia no Brasil, cai com ele também o planejamento. Virá alguém que irá conduzir de outra maneira. Teremos os balanços diários e a mesma postura de alerta com relação ao vírus? Ou será que vai começar a mudar a narrativa?”, pergunta Gonçalves.

Além de Wanderson Oliveira, o Ministério da Saúde já havia perdido seu secretário-executivo João Gabbardo, que trabalhava na pasta havia mais de 40 anos e que foi exonerado no dia 22 de abril. Para o seu cargo, foi nomeado justamente o general Pazanello, que agora chefia o setor. Em 4 de maio, o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos, Denizar Vianna, também foi demitido.

“Até aqui, as pessoas responsáveis pela divulgação dos dados eram técnicas, que caíram para os militares entrarem. Eles podem dar um jeito de maquiar a cobertura do avanço da epidemia pelo Brasil”, afirma Gonçalves.

“Eu seria facilmente eleito”, dizia Dallagnol, pensando em aparelhar o MPF.

O procurador Deltan Dallagnol considerou se candidatar ao Senado nas eleições de 2018, revelam mensagens trocadas via Telegram e entregues ao Intercept por uma fonte anônima.

Num chat consigo mesmo, ele chegou a se considerar “provavelmente eleito”. Também avaliou que a mudança que desejava implantar no país dependeria de “o MPF lançar um candidato por Estado” — uma evidente atuação partidária do Ministério Público Federal, proibida pela Constituição.

Em 29 de janeiro de 2018, numa longa mensagem enviada para ele mesmo, Dallagnol refletiu:

“Tenho apenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”.

Veja a matéria do The Intercept, na íntegra, clicando aqui.

Vereadores voltam a denunciar administração da Saúde em Luís Eduardo Magalhães

 

Vereadores da Oposição de Luís Eduardo Magalhães estiveram, ontem, no programa vespertino de Sigi Vilares, na Rádio Mundial, para informar aos ouvintes o andamento das denúncias contra o aparelhamento e manipulação dos atendimentos da Saúde, por parte do Governo Municipal.

O vereador Kenni Henke confirmou que em meados de junho já tinha feito denúncia ao Ministério Público, pedindo inclusive igual procedimento no Ministério Público Federal, já que se trata de mau uso de verbas federais repassadas para a Saúde do Município.

Silvano dos Santos referiu-se à necessidade de aprovação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) para investigar os desvios de conduta das autoridades do Município, inclusive a realização de cirurgias estéticas no Hospital Gileno de Sá.

Nei Vilares e Filipe Fernandez voltaram a denunciar o atendimento do público, a dificuldade em se conseguir consultas, exames e procedimentos cirúrgicos, mesmo que de baixa complexidade.

As entrevistas foram ilustradas pela denúncia de uma senhora que alega estar a 12 anos esperando por uma cirurgia eletiva.

-Me chame de dona Maria, diz a denunciante. Tenho até vergonha de expor meu verdadeiro nome tantas vezes pedi, via meios de comunicação, a realização dessa cirurgia tão esperada.

Kenni Henke, por seu turno, garantiu que representantes do Ministério Público já estiveram no Hospital Gileno de Sá para recolher documentos e prontuários, que certamente servirão para sua manifestação, junto à Justiça, dos malfeitos perpetrados em Luís Eduardo Magalhães.

Principal sistema hospitalar do RS, Grupo Conceição, tem 130 isolados por bactéria imbatível.

Um instigante relato do jornalista Políbio Braga, mostra que no Rio Grande do Sul, onde a saúde deveria acompanhar o índice de desenvolvimento do Estado, as coisas vão muito mal, fruto de uma administração clientelista e aparelhada do Governo do PT:

HospConceicao-PAlegreRS

“Ao admitir numa nota técnica que uma bactéria com forte resistência a antibióticos, conhecida pela sigla NDM – New Delhi Metallobetalactamase, conduziu pacientes ao total isolamento no Hospital Conceição, Porto Alegre, a secretaria estadual da Saúde acabou liberando a ponta de um iceberg que precisa ser desvendado na sua totalidade. No caso do NDM, a secretaria admitiu que a bactéria não pode ser enfrentada e mata. A nota técnica usa linguagem cifrada para dizer isto: “As opções terapêuticas tornam-se limitadas”.

A verdade completa nem é esta. Eis o que ocorre:

– Hoje, não apenas dois, mas 130 pacientes estão internados com infecção hospitalar, isolados em consequência de uma higienização de superfície mal feita por terceirizados contratados pela direção e sujeitos a investigações do MPF.

grupo conceição 2

“O que acontece ali é uma epidemia, não apenas um surto”, denunciou na Assembléia, terça-feira da semana passada, o presidente da Associação dos Servidores do GHC, Arlindo Ritter, que se disse ameaçado de morte por fazer as revelações e cobrar uma devassa no grupo hospitalar federal.

– Devido a má gestão continuada, o que ocorre desde o início do governo Lula, dez anos, a administração do Grupo Hospitalar Conceição foi loteada entre políticos inexperientes do PT e seus aliados, levando a desordem administrativa aos 21 hospitais e unidades de saúde que ele controla.

Ao longo desses 10 anos, o GHC admitiu uma direção enxuta (três diretores), mas que mantém sob sua gestão um complexo enorme de 22 gerências e 350 funções gratificadas e cargos comissionados, recebendo salários de até R$ 20 mil mensais. O clientelismo, o favoritismo e as práticas patrimonialistas não levam em consideração o mérito de ninguém.

O péssimo nível de gestores que passaram pelo GHC, pode ser dado pela seguinte informação:

O secretário do Meio Ambiente de Tarso, Carlos Fernando Niedersberg, recolhido semana passada ao Presídio Central, foi assessor da vereadora Jussara Cony, uma farmacêutica, que era presidente.

O orçamento do Grupo Hospitalar Conceição é de R$ 1,2 bilhão, um dos maiores do RS. O orçamento da prefeitura de Gravataí, um dos mais ricos municípios do Estado, é de R$ 400 milhões.

hospital

Conheci o Grupo Hospitalar Conceição, composto por quatro grandes hospitais, quando era uma empresa privada e prestei serviço de assessoria de imprensa ao seu diretor-presidente. Sofri uma pequena cirurgia e meus dois filhos mais velhos nasceram lá. Por motivos políticos e influência da máfia de branco, Jahyr Boeira de Almeida foi apeado do controle do Grupo, em estatização até agora não explicada à luz do direito empresarial e público.

Jahyr constituiu, a partir de uma farmácia, uma rede hospitalar formada pelo Conceição, Cristo Redentor, Fêmina e Criança Conceição. No período em que esteve à frente da instituição, chegou a manter um serviço aéreo de atendimento, um diferencial nos anos 70, possuindo inclusive um heliponto na cobertura do Conceição, além de vários serviços com tecnologia de ponta, como a primeira cineangiocoranariografia do Estado, liderada então por Adib Jatene.

Quando num estado desenvolvido como o Rio Grande do Sul a saúde pública chega a este nível, pode se imaginar o que está acontecendo no Nordeste, por exemplo.