A Capital Federal também vive uma crise hídrica típica de nordeste

Descoberto

Neste domingo (15), as temperaturas em Brasília registraram recorde de 37,3ºC e os reservatórios o pior nível do ano: 12,1% no Descoberto e 26,3% no de Santa Maria. A Capital e municípios do entorno já estão sofrendo racionamento. 

Em outubro de 2015, a barragem do Descoberto tinha acumulado mais de 53% do seu volume e Santa Maria mais de 80%. Este ano até a água do Lago Paranoá, que recebe os esgotos do Plano Piloto e de outros bairros foi usada para distribuição, depois de tratamento, à população.

Sobradinho, no volume morto.

A leitura do dia de ontem, 17, segunda-feira, informava que o reservatório da hidrelétrica de Sobradinho estava em apenas 3,8% de sua capacidade. Ainda esta semana, respeitada a vazão de 550 m³/segundo, a barragem deve entrar no volume morto e então a barragem verterá apenas o volume d’água que o rio São Francisco depositar diariamente, entre 290 e 250 m³/segundo, menos a grande quantidade evaporada no espelho d’água. 

Como estão previstas chuvas significativas somente no final do ano na bacia do São Francisco, o rio poderá diminuir ainda mais o fluxo e até interromper a vazão para montante – para a foz – onde milhares de pessoas, em quase uma centena de municípios, usam suas águas para dessedentação animal, humana e pequenas lavouras irrigadas.

A barragem da hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, usada para regular a vazão do rio São Francisco está apenas com 10% de sua capacidade.

Reservatório de Sobradinho atinge 30% de sua capacidade total

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O reservatório de Sobradinho atingiu, ontem, 30% de sua capacidade total, com mapaSaoFranciscoquantidade 50% maior de água acumulada que em abril de 2015. As chuvas em toda a sua grande área de drenagem, mais de 638 mil km² – equivalente a 8% do território brasileiro, basicamente em janeiro, contribuíram para o resultado positivo.

Espera-se que as famosas águas de março contribuam para o aumento do volume e da vazão do grande lago.  A vazão natural média anual do rio São Francisco é de 2.846 metros cúbicos por segundo, mas ao longo do ano pode variar entre 1.077m³/s e 5.290m³/s

Como estava previsto: Sobradinho vai cortar fluxo d’água do rio São Francisco

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Maior reservatório do Nordeste, a Barragem de Sobradinho passa por uma das piores secas da história, que afeta a geração de energia elétrica, o abastecimento dos municípios da região e preocupa agricultores que dependem da água da barragem para a irrigação da produção de frutas.

Nessa segunda-feira (16), o nível da barragem atingiu 2,5% do volume útil, o mais baixo da história. Esse número vem caindo dia a dia. No dia 10 deste mês, por exemplo, estava em 2,9%. O nível mais baixo havia sido registrado em novembro de 2001 (5,46%).

“A barragem de Sobradinho é usada para tudo. A nossa principal preocupação sempre foi fazer com que a água do reservatório atenda às necessidades no maior tempo possível. Mas, hoje, estamos dependendo da chuva”, disse o diretor de Operações da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), José Aílton de Lima.

A previsão é que entre o fim de novembro e início de dezembro a barragem atinja o volume morto – reserva de água abaixo do ponto de captação. Isso significa a parada total de geração de energia na hidrelétrica. Inaugurada em 1979, a represa de Sobradinho tem capacidade de armazenar 34,1 bilhões de metros cúbicos de água e corresponde a 58% da água usada para a geração de energia no Nordeste.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), não há, no entanto, risco de racionamento no Nordeste, pois é possível usar fontes alternativas – como térmicas -, e transferir energia de outras regiões. O órgão diz ainda que os reservatórios da Bacia do São Francisco estão sendo operados prioritariamente para outros usos da água que não a geração de energia.

Para manter mais água na represa, a Agência Nacional de Águas (ANA) determinou a redução da vazão de Sobradinho para 900 metros cúbicos por segundo (m³/s). A ANA estuda reduzir a vazão para 800 m³/s. “Se tivéssemos mantido a vazão em 1.300 m³/s, o reservatório hoje já estaria seco. Agora, vai ser preciso reduzir ainda mais. Ninguém quer que reduza, mas toda a população da região deve poupar água”, diz Aílton de Lima.

Irrigação

A produção de frutas também pode ser prejudicada diante da possibilidade de racionamento no Distrito de Irrigação Nilo Coelho, o maior das áreas irrigadas. Entre Pernambuco e a Bahia, o projeto tem produção anual de R$ 1,1 bilhão. Mais de 2 mil empresas, entre pequenas e grandes produtoras, usam o sistema.

“A previsão é que até o fim do mês a gente chegue a uma cota em que não seja possível mais captar água. Algumas culturas, como a uva, não sobrevivem durante muito tempo sem a irrigação. Se isso acontecer, os prejuízos serão milionários. Além disso, mais de 130 mil pessoas usam esse sistema para consumo”, afirma o gerente executivo do Distrito de Irrigação, Paulo Sales.

Para permitir o aproveitamento da água, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), ligada ao Ministério da Integração, iniciou em setembro obras de instalação de bombas flutuantes e a construção de um canal de captação. A conclusão da obra, que deve custar em torno de R$ 30 milhões, está prevista para dezembro.

“O grande problema é o tempo. Esse sistema de bombas flutuantes já deveria estar pronto. A gente espera ter nível de captação até lá. Mas se o volume para captação acabar antes, será desastroso”, afirma Sales. Todo o Vale do Rio São Francisco tem 100 mil hectares irrigados e produz 2 milhões de toneladas de frutas por ano.

Abastecimento

A seca também prejudica as comunidades do entorno da barragem de Sobradinho, que estão sendo abastecidas com caminhões-pipa. A falta de chuvas interfere ainda na criação de animais. Com o nível de Sobradinho tão baixo, as ruínas das cidades baianas de Casa Branca e Remanso, inundadas na época da construção do reservatório, estão visíveis.

Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Anivaldo Miranda, além das mudanças climáticas, houve falhas na gestão dos recursos hídricos na região. “Tivemos um amplo processo de crescimento de demanda pela água, ao mesmo tempo que aumentou o uso irracional, por ausência de implementação de instrumentos de gestão hídrica, de responsabilidade sobretudo dos governos dos estados que compõem a bacia”.

Segundo ele, desde 2013 se observava uma tendência de redução do nível dos reservatórios. Miranda diz que a crise da falta de água se estende por toda a Bacia do São Francisco. “Precisamos  avançar para um pacto das águas, onde haja convergência de interesses e de tarefas entre os estados da bacia, o governo federal, os usuários e a sociedade civil, para construir a sustentabilidade de uma área que é das mais vulneráveis e importantes do Brasil”.

 

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Falta de água em Sobradinho ameaça milhares de empregos no entorno do lago

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Cerca de 240 mil empregos em mais de 120 mil hectares movimentam a economia na região do Vale do São Francisco, e parte desses empregos está cada vez mais ameaçada pela escassez de água no Lago de Sobradinho, devido à falta de chuvas. Na semana passada, o deputado estadual Eduardo Salles, ex-secretário de Agricultura da Bahia no governo Wagner, reuniu-se com o setor produtivo e lideranças da região, em Juazeiro, para tratar do assunto.

A grave situação em que se encontra o Lago de Sobradinho foi a maior preocupação manifestada pelos produtores e lideranças de trabalhadores da região. Hoje, o nível de Sobradinho, que já assustava ao chegar aos 20% da capacidade total há cerca de 15 dias, gira em torno de 18%. Para se ter uma ideia, na mesma época, no ano passado, o volume útil do lago era de 50%.

”Eu, que no início da minha vida profissional me especializei em irrigação e tive a oportunidade de conhecer e trabalhar em grandes projetos de irrigação em todo o Brasil confesso que nunca vi uma situação tão dramática. Os números são assustadores e as providências tem que ser imediatas”, salientou o deputado Eduardo Salles. Da Tribuna da Bahia, por Alex Ferraz, editado por este jornal.