Negociatas e Maracutaias: subsidiária da Petrobras é vendida por pouco mais de 11% do valor, após anos de prejuízos.

No final do ano passado, a Petrobras vendeu a participação que detinha na Belem Bioenergia Brasil (BBB) por R$ 24,7 milhões, pouco mais de 11% do valor investido. Porém, segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), o valor seria 1/8 da avaliação da companhia, que foi lançada no balanço da portuguesa Galp – a compradora – por R$ 205 milhões.

“Essa diferença de valores foi revelada horas depois do fechamento do negócio, levantando dúvidas sobre a venda”, denuncia a Aepet. O valor a ser pago pode ser ainda menor, pois foi retido para possíveis indenizações trabalhistas e ambientais e só será conhecido em dezembro deste ano.

A BBB foi uma joint venture criada em 2011 com a petrolífera Galp para a produção de óleo vegetal e biocombustível no Pará. Cada uma tinha 50% do negócio e investiu R$ 617,5 milhões no projeto. A partir de 2015, a Petrobras alterou seu plano de negócios e decidiu se desfazer da BBB; porém, os investimentos continuaram sendo realizados.

Segundo a revista Piauí, a assessoria da Petrobras admite prejuízo de R$ 267 milhões e diz que esse valor expressa a reavaliação do ativo da BBB ao longo dos anos, motivada por sucessivos déficits em seus orçamentos.

A conta da estatal brasileira é conservadora: de 2011 a 2018, os balanços da BBB somam prejuízos de R$ 720 milhões – como a Petrobras tinha metade das ações da empresa, ficou com metade do rombo, R$ 360 milhões.

O prejuízo não foi só da petrolífera. Agricultores que assinaram contratos se comprometendo a vender suas safras de dendê à BBB também se queixam de terem perdido dinheiro porque seus contratos não foram reajustados.

Pudera: enquanto a Petrobras foi sócia, a BBB não produziu nem um litro de biocombustível. Iniciada nos anos Lula, a operação dendê se estendeu pelas gestões de Dilma Rousseff e Michel Temer.

Em 2019, já no governo de Jair Bolsonaro, a Petrobras saiu do negócio e vendeu seus ativos na BBB por R$ 24,7 milhões — apenas 11,1% do valor real a que teria direito, considerando a participação da estatal brasileira no patrimônio líquido da BBB em 2018 (R$ 221,7 milhões).