Frotistas reclamam da iniciativa da Bunge de nomear apenas um posto para abastecimento.

Estima-se que 1.000 caminhões carreguem e abasteçam diariamente em Luís Eduardo Magalhães, retirando mercadoria para mercados nacionais e internacionais. No pico da safra esta quantidade aumenta.

Frotistas de caminhões pesados, autônomos e associações de caminhoneiros estiveram reunidos no início desta semana, em Luís Eduardo Magalhães, com o intuito de resolver um grave problema criado pela Bunge Alimentos, a maior contratadora de fretes de longo curso na região, já que a sua indústria de esmagamento é a maior do País – 1,05 milhão de toneladas/ano. Segundo os frotistas e empresários contatados, a Empresa rescindiu contrato com duas grandes empresas fornecedoras de combustível, que acatavam as cartas-frete, firmando contrato com uma única rede de postos.

Preços e perdas.

O primeiro problema é o preço: acostumados a pagar R$1,90 e, em alguns postos do trecho Luís Eduardo-Aratu, até R$1,86, os frotistas estão obrigados a abastecer na rede de Postos Brasil por R$1,999 ou R$2,00, já que não existe a divisão milesimal do Real. Os frotistas não querem identificar-se, apesar de prestar todas as informações, porque temem perder os contratos de frete com a Bunge. Mas segundo vários repetiram, o cálculo é simples: se um caminhão tipo bi-trem gasta 1.000 litros para ir e voltar ao porto de Aratu e faz no mínimo seis viagens por mês, gasta seis mil litros. Se abastecer por um preço de R$0,16 menor, economiza R$960,00 por mês. Parece pouco, mas isso multiplicado por 800 caminhões e por 7 meses onde ocorre o pico da exportação, isso significaria uma perda de R$5.376.000,00 por parte do conjunto de frotistas.

Cheque Troco

As cartas-frete distribuídas ao caminhoneiros eram, antes da decisão da Bunge, trocadas nos postos de Luís Eduardo pelo abastecimento, cheques-troco e até dinheiro, caso em que os motoristas comissionados já retiravam os 10% de sua comissão para atendimento de suas necessidades pessoais, como alimentação durante a viagem, por exemplo. Isso gerou outro problema: o Posto Porto Brasil parece não ter suporte financeiro para devolver as importâncias não gastas em cheques-troco ou dinheiro e está distribuindo vales-abastecimento para que o motorista abasteça novamente nos postos localizados na vila Cerradão, Barreiras e Feira de Santana(Santo Estevão).

Esta semana um frotista ordenou ao motorista que procurava receber, sem sucesso, o cheque-troco, depois de abastecer, com o caminhão ainda estacionado em frente às bombas: “Não tem o cheque? Feche o caminhão e vá para casa almoçar.”

Estrutura física

Outro problema apontado pelos motoristas e frotistas é de o Posto Porto Brasil não tem estrutura física para o abastecimento e estacionamento dos caminhões. A espera pelo abastecimento e pelo acerto financeiro tem demorado até 3 horas e, enquanto isso, os motoristas não tem onde estacionar, já que no local funcionam diversas empresas agenciadoras de carga e que motoristas a espera de frete para outros destinos também ficam por lá esperando a oportunidade de pegar uma ordem de carregamento ou fazer seus acertos financeiros.

Tipificação jurídica

O advogado de uma das empresas frotistas, que também pediu para não ser identificado, afirma, que além do óbvio abuso de poder econômico, a iniciativa da Bunge e do posto contratado poderia ser caracterizada como cartel e monopólio, sem prejuízo de outras implicações cíveis e criminais.

As afirmações da empresa

Na quarta-feira desta semana, após ouvir os frotistas, procuramos a gerente de Logística da Bunge Alimentos, Patrícia Dallagnol, que negou-se a nos receber, mas fornecendo, no entanto, um endereço de email, para que as questões levantadas por este semanário fossem respondidas.

Ainda na tarde do mesmo dia recebemos um telefonema de Carolina Avellar, da assessoria de imprensa da Bunge, em São Paulo, afirmando que a Empresa faria uma nota de esclarecimento sobre os fatos alegados pelos transportadores. Essa nota foi encaminhada somente nesta sexta-feira, às 19h08m, a qual reproduzimos a seguir:

“Com o objetivo de aprimorar o atendimento aos transportadores e otimizar o número de postos de abastecimento conveniados nas diversas vias logísticas onde atua, a Bunge informa que, desde 2010, vem implantando, em âmbito nacional, um novo modelo de operação logística. Este modelo teve início no estado do Mato Grosso, passando por Santa Catarina, Rio Grande do Sul e, mais recentemente, na Bahia. 
Antes mesmo de adotar o novo modelo, a empresa realizou um processo minucioso de avaliação de estabelecimentos, por meio de uma consultoria especializada, em cada um dos locais de atuação. Os estabelecimentos passaram por concorrência, cujo resultado levou à definição de postos de abastecimento para atendimento, tanto no ponto de embarque quanto no ponto de retorno, com base em diversos fatores, tais como:

Estrutura adequada para estocagem de combustível

Estrutura adequada para recebimento de veículos

Compatibilidade de preço, de acordo com pesquisas públicas, divulgadas periodicamente pela ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Como alternativa ao abastecimento no posto indicado pela empresa, o transportador pode solicitar formalmente à Bunge que seja feito um depósito em conta corrente para receber o valor do frete contratado. É importante destacar que a Bunge firmou contrato com os postos indicados para abastecimento, estabelecendo prazo para a prestação de serviços e contemplando regras a serem cumpridas, obrigatoriamente. Caso qualquer estabelecimento não atenda às necessidades previstas em contrato, este poderá ser rescindido e o estabelecimento descredenciado. Atualmente, o posto que realiza o abastecimento em Luís Eduardo Magalhães/BA possui contrato com duração de um ano.”