
A China National Offshore Oil Corp (CNOOC) anunciou nesta quarta-feira a descoberta de um novo campo petrolífero com reservas geológicas estimadas em 100 milhões de toneladas no Mar de Bohai, principal base de produção de petróleo bruto offshore da China.
“Essa conquista desafia a visão convencional de que áreas de encosta funcionam apenas como rotas de passagem de hidrocarbonetos, e não como locais de acumulação relevante”, afirmou o representante da CNOOC, acrescentando que encostas periféricas elevadas apresentam elevado potencial exploratório.
O golfo de Bohai na costa oriental da China.
Para Lin Boqiang, diretor do Centro de Pesquisa em Economia de Energia da China, da Universidade de Xiamen, a descoberta demonstra a capacidade da exploração doméstica de petróleo e gás do país. “A descoberta demonstra a resiliência e o potencial inovador da exploração doméstica de petróleo e gás na China”, disse Lin ao Global Times.
Lin destacou que o aumento das reservas internas contribui para a ampliação da oferta doméstica de petróleo e para a redução da dependência de importações, em um contexto de incertezas geopolíticas e volatilidade dos preços internacionais do petróleo.
No último domingo, a CNOOC informou que o Campo Petrolífero de Bohai ultrapassou, em 2025, a marca de 40 milhões de toneladas de óleo equivalente produzidas, estabelecendo um novo recorde anual. A produção acumulada de petróleo bruto na região já supera 600 milhões de toneladas, com crescimento médio anual de 5% nos últimos cinco anos.
Dados da Administração Nacional de Energia indicam que a produção chinesa de petróleo bruto em 2025 deverá alcançar 215 milhões de toneladas, o maior volume já registrado.
O plano chinês para o petróleo
A China se tornou uma referência global para a transição energética. OI investimento massivo dos chineses em tecnologia verde e fontes de energia renováveis acabou se tornando um exempo inspirador para os povos do Sul Global.
O país se tornou o verdadeiro líder mundial em energia solar e eólica, mas um dado do Plano Quinquenal recentemente aprovado pelo governo do país chamou a atenção: a China prevê aumentar o uso de carvão e petróleo nos próximos cinco anos.
Confira a estratégia detalhada: China apresenta plano verde para 2030 com foco em neutralidade de carbono e inovação tecnológica
Com carvão e petróleo ainda no centro do sistema energético, Pequim enfrenta o desafio de equilibrar segurança energética, crescimento econômico e redução estrutural das emissões.
Desde 2020, quando anunciou os compromissos de pico de carbono em 2030 e neutralidade em 2060, o país acelerou a transição para energias limpas. A participação das fontes não fósseis cresce de forma constante, impulsionada pela expansão recorde de energia solar e eólica. A China hoje abriga o maior e mais rápido sistema de energias renováveis do mundo, um movimento que já começa a refletir na estabilização — e até redução — das emissões de CO2.
O papel da China na transição energética
A China consolidou uma trajetória acelerada no desenvolvimento de energias renováveis. Somente entre 2020 e 2024, o país instalou cerca de 900 GW de capacidade renovável.
Em 2025, a expansão se intensificou: no primeiro semestre, a China instalou mais que o dobro da capacidade eólica e solar registrada no mesmo período de 2024.
Até outubro de 2025, a capacidade total instalada do país chegou a 3,75 bilhões de kW, dos quais 1,14 bilhão de kW eram de energia solar — um crescimento anual de 43,8% — e 590 milhões de kW de energia eólica, com alta de 21,4%.
A dependência do petróleo
Apesar do crescimento acelerado das renováveis, a dependência de combustíveis fósseis segue relevante. Até 2030, a China projeta que carvão, petróleo e gás ainda representarão menos de 75% do consumo total de energia — o que indica uma redução gradual, porém ainda significativa participação dos fósseis.
O consumo de carvão deve atingir seu pico por volta de 2027, impulsionado principalmente por setores como aço e materiais de construção, cuja demanda começa a declinar.
Já o consumo total de petróleo tende a atingir seu pico aproximadamente em 2026, à medida que o uso de combustíveis refinados para transporte diminui e os derivados passam a ser mais direcionados ao setor petroquímico, cujo crescimento é mais moderado.
Apesar da continuidade na expansão de capacidade térmica, a utilização das usinas a carvão está em queda estrutural, já que grande parte do novo crescimento da demanda elétrica é atendida por fontes renováveis.
Em 2025, a China registrou uma leve redução de 1% nas emissões de CO2 no primeiro semestre, e as emissões ficaram estáveis ou em queda por 18 meses, influenciadas pelo aumento da disponibilidade de energia limpa.
Uma rota para o futuro verde
Para garantir que fontes renováveis substituam combustíveis fósseis de forma segura e estável, a China está acelerando a construção de um novo sistema energético, marcado por integração, armazenamento, grandes bases renováveis e modernização da rede elétrica.
O país planeja desenvolver grandes complexos de energia solar e eólica no noroeste, ampliação de hidrelétricas no sudoeste, expansão de parques eólicos offshore e novos projetos nucleares nas zonas costeiras.
O investimento em armazenamento energético tem sido um dos pilares dessa estratégia. Entre o primeiro semestre de 2024 e o primeiro semestre de 2025, os aportes em baterias aumentaram 69%, impulsionando soluções que minimizam o desperdício de energia renovável e garantem estabilidade na operação do sistema elétrico.
Em paralelo, a China amplia a infraestrutura de redes inteligentes e sistemas de despacho capazes de integrar grandes volumes de energia intermitente.
As metas de longo prazo também avançam. O país projeta atingir 3,6 terawatts (TW) de capacidade combinada de solar e eólica até 2035 — volume que, mantido o ritmo atual, pode ser alcançado antes.
Em 2025, a participação de renováveis na geração elétrica chegou a cerca de 35%, fortalecendo a trajetória para o pico de emissões antes de 2030 e alinhando-se às metas nacionais de reduzir a intensidade de carbono do PIB em mais de 65% em comparação com 2005.
Da Revista Fórum
