Vamos rezar para São José e São Pedro, que 2018 promete poucas chuvas

Certamente o período de 2017/2018 não será de grandes cheias como no Alto São Francisco

No dia 26, quinta-feira da semana posterior a esta que se inicia, tem uma previsão de chuva com 60% de possibilidade. Mas olha a quantidade de chuva: 5 mm. Passados mais três dias,  outra oportunidade de chuva, com 80% de possibilidade, mas com apenas 1 mm, isto é, nada. Enquanto isso, o rio São Francisco está transformado em um pequeno ribeirão. No reservatório da hidrelétrica de Sobradinho a água residual é de apenas 4%.

Ainda lembro: nos anos 80, a chuva das flores anunciava a primavera em setembro e nos primeiros dias de outubro caia água que Deus mandava, parando apenas para um veranico em fevereiro e chovendo com gosto em março até meados de abril.

Veja os grandes períodos de seca no Nordeste, relacionados pela revista Super Interessante:

1723/1727
Essa foi uma das primeiras grandes secas registradas que atingiu a região Nordeste – principalmente a área em que, na época, ficava a Capitania de Pernambuco. Grupos de índios fugiram das serras e invadiram fazendas. Além da seca, uma peste assolou a região no mesmo período, causando uma enorme mortalidade nas populações mais frágeis, especialmente os escravos.

1776/1778
Essa foi mais uma seca combinada com um surto de doença, no caso, a varíola. A taxa de mortalidade foi altíssima, não só de pessoas, mas também de animais, principalmente o gado. A solução encontrada pela Corte Portuguesa foi repartir as terras adjacentes aos rios entre os povos flagelados.

1877 / 1879
Essa seca, que atingiu todo o Nordeste, mas especialmente o Ceará, causou a morte de 500 mil pessoas. O fenômeno também gerou uma grande migração: 120 mil nordestinos fugiram para a Amazônia e 68 mil partiram para outros estados brasileiros. O governante na época, o Imperador Pedro II, visitou o Nordeste e prometeu vender até a última joia da Coroa para amenizar o problema. Não preciso nem dizer que o pessoal está até hoje esperando essa grana…

1919/1921
Essa seca muito grave, que atingiu principalmente o sertão de Pernambuco, fez aumentar muito o êxodo rural do Nordeste. A imprensa e a opinião pública pressionaram e exigiram uma atuação eficaz do governo para resolver o drama das famílias afetadas. Com isso, em 1920 foi criada a Caixa Especial de Obras de Irrigação de Terras Cultiváveis do Nordeste Brasileiro, mantida com 2% da receita tributária anual da União. Apesar disso, nada foi feito para efetivamente resolver o problema.

1934/1936
Essa foi uma das maiores secas enfrentadas pelo Brasil (que se tem registro). O longo período de estiagem não ficou restrito ao Nordeste: além de afetar nove estados na região, Minas Gerais e São Paulo também sofreram com a falta de chuvas. Depois disso, o problema no sertão nordestino passou a ser encarado como um problema nacional.

1963/1964
A seca que começou em 1963 foi gravíssima. A estiagem bateu recordes em várias estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal. Até a Amazônia sofreu com falta de chuva. Além disso, uma onda de calor muito forte assolou o país.

1979/1985
Essa foi uma das secas mais prolongadas da história do Nordeste: durou 7 anos. O auge do problema foi em 1981. Na época, o ditador-presidente João Figueiredo chegou a fazer uma declaração dizendo que só restava rezar para chover. A estiagem deixou um rastro de miséria e fome: lavouras perdidas, animais mortos, saques à feiras e armazéns por uma população faminta e desesperada. No período, 3.5 milhões de pessoas morreram, a maioria crianças sofrendo de desnutrição.

1997/1999
A década de 90 sofreu com os efeitos do fenômeno El Niño, que causa o aumento das temperaturas das águas e traz várias consequências para o clima – entre eles, o agravamento de secas no Nordeste. A seca do final dessa década foi terrível. Foram 5 milhões de pessoas afetadas, saques a depósitos de comida devido às mortes de animais e lavouras perdidas. A seca foi tão grave que Recife passou a receber água encanada apenas uma vez por semana.

2001
A seca de 2001 foi um prolongamento do período de seca do final da década de 90, que teve uma trégua em 2000. O Rio São Francisco sofreu com a pior falta de chuvas de sua história, causando uma diminuição drástica do volume de suas águas. Para piorar a situação, a falta de chuvas em todo o Brasil contribuiu para a pior crise energética que o país já viveu, somando a estiagem prolongada à falta de investimentos no setor.

2007/2008
Em 2007, ocorreu a pior seca da história no norte de Minas Gerais, região do estado de clima semiárido. Não choveu nada entre março e novembro de 2007 e as precipitações abaixo da média continuaram durante o ano seguinte. No total, foram 15 meses de estiagem. Durante o período, foram registrados quase 54 mil focos de incêndio e mais de 190 mil mortes de cabeças de gado. Centenas de municípios decretaram estado de emergência.

Ao que tudo indica estamos em meio a uma das grandes crises hídricas do Nordeste. Praticamente não choveu em 2014, 2015 e 2017 se avizinha como um dos piores anos de precipitação pluviométrica do Nordeste, com exceção de uma franja, maior do que o normal, ao longo do litoral.

Chove em todo o Nordeste com abundância. Em LEM já choveu 80 mm até 21 horas

Açudes secos de todo o Nordeste amanhecerão com o brilho da água.
Açudes secos de todo o Nordeste amanhecerão com o brilho da água.

Em 7 horas choveu 80 mm em Luís Eduardo Magalhães, provavelmente mais do que todo o mês de janeiro. A cidade, que é atravessada pelo Córrego dos Cachorros, em pequeno desnível, ficou dividida em duas partes, pois o riozinho se agigantou e tomou as suas margens.

De qualquer maneira, a notícia é boa, pois a saturação da umidade do solo garante no mínimo mais 15 dias de tranquilidade na lavoura.

Fica melhor ainda quando as previsões são de mais 50 dias de chuva, proporcionados pela Oscilação Madden-Julian, fenômeno gerado no Oceano Índico, via África do Sul, que deve causar intensas chuvas em todo o sofrido Nordeste, principalmente em lugares que há 5 anos não tinham uma boa precipitação.

São muitas os açudes, barragens e barreiros que precisam dessa chuva de porte para recuperar parte de sua capacidade de suprir os nordestinos nos meses de estio.

Ceará, abençoado com fortes chuvas

Padre Cícero Romão deve ter interferido com São Pedro. O Ceará tem desde ontem abundantes chuvas. O município de Porteiras registrou a maior chuva de 2017 no Estado, segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). De acordo a Funceme, entre as 7 horas desta quinta-feira (9) e as 7 horas desta sexta-feira (10), o posto pluviométrico Sítio Saco registrou 128 milímetros.

Outras boas chuvas aconteceram em janeiro no Ceará. Segundo estudo meteorológico da Funceme,  foram registradas precipitações, no dia 26 de janeiro com 125.4 milímetros em Ipaumirim (Região Centro Sul do Estado) e em 1º de fevereiro quando Santana do Cariri (Região do Cariri) registrou 115 milímetros.

O Ceará registrou chuvas em 63 municípios em todo o estado nesta sexta-feira. As maiores precipitações ocorreram em Brejo Santo (82.2 milímetros); Missão Velha ( 75 milímetros); Porteiras (Posto Porteiras com 69,6 milímetros); Jati (69,2 milímetros); Limoeiro do Norte (48,8 milímetros), Aurora (44,4 milímetros) e Santa Quitéria (41,0 milímetros).