Um cidadão acima de qualquer suspeita
O cidadão conhecido como Cícero Vicente de Araújo, proprietário ou sócio proprietário de um restaurante famoso de Luís Eduardo Magalhães, foi preso nesta segunda-feira, pela Polícia Federal como um dos principais implicados na grande operação que desmontou a seita denominada Comunidade Evangélica de Jesus.
Ele manteve, inclusive, um programa na Rádio Cidade, durante algum tempo, em que falava sobre evangelização e religião.
Cícero tem chácaras na cidade e uma grande fazenda em Ibotirama. E andou vendo fazendas no Estado do Tocantins, próximo a Bahia para comprar, segundo um corretor da cidade. Ele foi preso no Sul de Minas.
A Seita praticava trabalho escravo e apropriava-se de bens dos seus seguidores.
Chip na cabeça
A seita religiosa desarticulada nesta segunda-feira (17) pela Polícia Federal alegava que o demônio colocaria chips na cabeça das pessoas a não ser que elas se isolassem na comunidade.
Para garantir a “salvação”, contudo, os fiéis teriam que doar todos os seus bens, como casas, carros e dinheiro, e trabalhar sem remuneração. Foi isso, inclusive, que deu munição para a ação da PF: investigada desde 2011, quando tinha cerca de 6 mil membros, a comunidade “Jesus A Verdade que Marca” foi denunciada em abril de 2013 por trabalho análogo à escravidão.
A PF calcula que a soma dos bens doados chega a R$ 100 milhões, dinheiro que também seria utilizado na compra de carros e casas de luxo pelos líderes. Ao todo, 129 mandados judiciais foram cumpridos nesta segunda em 13 municípios, cinco deles no Vale do São Francisco, na Bahia: Barra, Ibotirama, Remanso, Morpará e Cotegipe.
Os envolvidos vão responder pelos crimes de redução de pessoas à condição análoga à de escravo, tráfico de pessoas, estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Segundo o Correio*, ex-integrantes da seita tentam reaver parte dos bens doados à quadrilha. Uma das vítimas, um aposentado com 72 anos contou que o pastor o convenceu a vender seu carro e sua casa e doar mais de R$ 30 mil porque “todas as estradas iam se fechar e colocariam chips na cabeça das pessoas”.
“O pastor disse que só quem fosse para aquela região de Minas conseguiria viver bem”, afirmou. Para evitar a saída de pessoas do grupo, os líderes alegavam que “os demônios destruiriam aqueles que saíssem e passavam uns filmes da inquisição”. Os adeptos ainda tinham que enfrentar as disparidades da comunidade.
Apesar de afirmarem que “tudo era de todos” e se tratarem por irmãos, ex-membros afirmam que havia diferenças nos tratamentos. “Eu passava as noites limpando tripa, cabeça e pé de boi para comermos. A carne ia para os líderes”, contou uma ex-adepta da seita. “É um grupo extremamente fechado, que busca pessoas em situação vulnerável e as mantêm nas propriedades com uma alta carga de doutrinação”, explicou o delegado responsável, João Carlos Girotto. Nenhum representante da seita foi localizado para comentar a denúncia.
