Fico impressionado com a capacidade de análise do brasileiro comum: a lesão de Neymar invadiu as mídias sociais e a televisão; a queda do imenso viaduto de Belo Horizonte, com duas mortes e mais de uma dezena de feridos não ocupou 10% do espaço do face e do twitter dedicado ao camisa 10 do Brasil.
Se não tem capacidade para indignar-se com uma tragédia como essa de BH, como o brasileiro teria para indignar-se com a onda devastadora de corrupção que atinge o País?
Como o brasileiro poderia distinguir, nestas próximas eleições, uma meia dúzia de bem intencionados no meio de um rebanho inteiro de aproveitadores profissionais?
Isso seria tanto mais difícil para aquelas primeiras vítimas da má gestão e da corrupção, os analfabetos e analfabetos funcionais, quase a grande maioria de brasileiros simples que vivem nos sertões e nas periferias das grandes cidades.
É o tal círculo vicioso do subdesenvolvimento: sem educação, analfabetos votam nos políticos de sempre, que se preservam no poder amparados na ignorância de seus eleitores e no seu poder econômico, que deixa resvalar algumas migalhas do seu banquete na hora das eleições.
Do Chuí ao monte Caburaí políticos e eleitores são iguais. Populistas abjetos se perpetuam no poder, com o voto das comunidades mais pobres. Tal não seria o exemplo da múmia que por tantos anos dominou a política nacional, com base em estados tão pobres como ignorantes, o Maranhão e o Amapá.
A política brasileira é perversa e só a aversão em massa a esse status, como os protestos de junho de 2013 poderá fazer tremer os donos do poder.
Que não se iludam: o anseio de liberdade e igualdade se manifesta por pulsos, em vários instantes da história. Por vezes, adormecido, não deixa de se tornar lava viva sob as cinzas de um aparente conformismo, pronto para uma erupção a qualquer momento.

