Governo “cauteloso” em relação à compra de aviões.

“A FAB já fez sua análise e pré-selecionou três modelos que atendem às suas necessidades técnicas. Agora é a hora de o governo fazer a análise estratégica, política e econômica para apontar qual proposta trará mais benefícios para a sociedade. Temos que ser muito cautelosos”.

Assim o presidente Luiz Inácio da Silva se referiu, hoje, em sua coluna distribuída aos jornais, sobre a compra dos novos caças para a FAB. Pois é Presidente: cautela e caldo de galinha só fazem bem.

A novela de aquisição dos caças da FAB não tem fim

Em nota divulgada ontem, o Ministério da Defesa afirma que ainda não concluiu a análise sobre os 36 aviões que serão adquiridos pelo governo federal. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, os concorrentes, Saab e Boeing, querem a chance de também oferecer preços menores. Mas as questões fundamentais que se denota da leitura diária dos jornais é a seguinte:

1) Por que o Governo indiano, que abriu a licitação de compra de 126 aviões, pagando apenas US$10 bilhões, pelo pacote completo, incluindo treinamento de pilotos, transferência de tecnologia e armamento básico, vetou prontamente, na primeira rodada da concorrência, a participação dos Rafale da Dassault por “motivos técnicos”? A concorrência indiana é mais completa: inclui os americanos F18 e F16, o Eurofigther Typhoon, o russo Mig 35, o sueco Gripen NG e o Rafale, já descartado. E vai tomar a decisão definitiva no final de 2011.

2)Já comentamos aqui que, em competição de combate, os Rafale se mostraram superiores aos outros. No entanto, plantar informações na internet é fácil e barato. Com tanto dinheiro envolvido, o webmarketing corre solto.

3)  Se a Dassault sabia que a Índia estava disposta a só investir US$10 bilhões pela aquisição dos caças, por que se prontificou a participar da concorrência, se o pacote apresentado ao Governo brasileiro, para aquisição de 36 caças, também era de US$10 bilhões, agora, reduzido segundo fontes da grande imprensa para US$8 bilhões. O jornal o Globo publicou matéria no dia 22 do mês passado, afirmando que a licitação indiana seria mais rígida e exigia total transferência de tecnologia. Por que os americanos transfeririam tecnologia à Índia para a compra dos 126 aviões se deixaram claro que não fariam isso com o Brasil? A transferência de tecnologia tem que passar pelo Congresso americano obrigatóriamente. Ainda segundo o jornal O Globo, “a Boeing sustenta que o SuperHornet é cerca de 40% mais barato. A Saab estima que o Gripen NG é algo entre a metade ou um terço do preço francês. Ambas se baseiam em concorrências de outros países.”

4) A FAB nunca mencionou valores, e a estimativa preliminar, há um ano, era de um investimento total de US$ 2 bilhões, cifra reconhecidamente insuficiente para bancar a parceria com a França. Hoje, a avaliação geral é a de que o negócio pode chegar a US$ 5 bilhões.

5) Lula foi eleito homem do ano pelo jornal “Le Monde”, esquerdista, e um dos mais respeitados de todo o mundo. Correto! O carinho pelo Presidente que, discricionáriamente, tomou a decisão de comprar os caças franceses antes do término da concorrência, indo de encontro à decisão do seu próprio Ministério da Defesa, é plausível. Só não é claro se Lula se contentaria só com esse agrado frente a negócio tão vultuoso. Reinaldo Azevedo, jornalista da Veja, tem posições fortes contra a decisão de Luiz Inácio. E até classifica o negócio como “negociata” e “abdução coletiva”.

6) Em determinados momentos, há alguns anos atrás, a FAB não dispunha de aviões de alto desempenho nem para evitar o ataque de um maluco qualquer como aqueles que se jogaram contra as torres gêmeas, em Nova Iorque, tanto eram aquelas aeronaves que se encontravam em manutenção. As bases aéreas de Santa Maria(RS), Canoas(RS), Santa Cruz(RJ) e Anápolis(GO) revezavam-se, na troca de aeronaves, para não deixar o espaço aéreo brasileiro à descoberto, sem interceptadores. Com a remodelação dos F-5 e dos Mirage o problema foi encerrado. E como as outras forças, chegou a trabalhar em meio-expediente, no âmbito burocrático, para economizar o almoço e o transporte de seus praças e oficiais.