Por que não Cavendish?

Afinal o chefe da quadrilha era Fernando Cavendish ou Carlinhos Cachoeira? Se podem trazer a amante dele para a CPI, podem trazer também “il capo de tutti il capi”. Ou aí fica pesado demais? Cavendish estaria blindado como o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral? Nunca, em tempo algum, uma comissão parlamentar de inquérito foi tão desmoralizada como essa.

Agora a chanchada vai estar completa. Convocaram Andressa Mendonça.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira convocou para depor Andressa Mendonça, mulher do empresário goiano Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. O empresário é apontado pela Polícia Federal como chefe de uma organização criminosa envolvendo políticos e empresários.

Além de Andressa, a comissão decidiu hoje (14) convocar o jornalista Carlos Bordoni, que coordenou as campanhas eleitorais no rádio do governador de Goiás, Marconi Perillo. Bordoni disse que recebeu R$ 40 mil como pagamento por serviços prestados na campanha.

O dinheiro teria sido depositado na conta da filha do jornalista por uma empresa apontada pela Polícia Federal como integrante da organização supostamente comandada por Cachoeira.

A comissão também aprovou a convocação do ex-assessor de Perillo Lúcio Fiúza, do policial civil aposentado, Alcino de Souza, apontado como laranja do esquema de Cachoeira, e do contador Rubmaier Ferreira de Carvalho. Eles também tiveram seus sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados.

Entre os convocados hoje para prestar depoimento estão o ex-segurança do senador Demóstenes Torres Hillner Ananias, o ex-corregedor da Polícia Civil de Goiás Aredes Correia Pires e o arquiteto responsável pelo projeto da casa vendida por Perillo, Alexandre Milhomem.

Também foi aprovado requerimento que pede a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico da empresa de confecções Excitant, que emitiu os três cheques para o pagamento da casa do governador Perillo, no valor de R$ 1,4 milhão. Além da Excitant, tiveram sigilos quebrados as empresas Rental Frota Logística, GM Comércio de Pneus e Peças, Faculdade Padrão, e Mestra Administração e Participações. Da Agência Brasil.

Ora, pipocas!

O governador do DF, Agnelo Queiroz, chegou na CPMI do Cachoeira e prontificou-se a autorizar a quebra do seu sigilo telefônico, bancário e fiscal.

Será que os políticos de hoje acreditam que existam bobos de plantão esperando pegar alguma coisa nas suas contas correntes ou nas declarações de renda? Isso aconteceu apenas no tempo do Al Capone e foi só uma vez. Será que alguém ainda acredita que telefones celulares, que custam 50 reais, não são descartáveis e não possam ser adquiridos por laranjas em qualquer lojinha de eletrônicos?

A certeza da impunidade dos políticos passa também pela sua certeza que o cidadão comum é um bobalhão.

Demóstenes se nega a falar e tumulto começa.

Foto de Antonio Cruz, da ABr, editada por este jornal.

No início da reunião hoje (31) em que prestaria depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) disse que não responderia às perguntas feitas pelos parlamentares. Demóstenes alegou que seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, solicitou ao Conselho de Ética a degravação de seu depoimento e as notas taquigráficas para entregá-las aos integrantes da comissão.

“Anteontem [terça-feira, 29] prestei depoimento por mais de cinco horas no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, cuja pertinência temática é a mesma desta CPI. Em decorrência disso, por solicitação do meu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, endereçamos ontem petição a essa comissão e comunicamos, até por uma questão de lealdade, que permaneceríamos calados, conforme faculdade expressamente prevista na Constituição Federal”, disse Demóstenes.

A atitude de Demóstenes fez com que o deputado Sílvio Costa (PTB-PE) se exaltasse e começasse a ofender o senador, acusado de ligações com o suposto esquema criminoso liderado pelo empresário de jogos ilegais Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, investigado pela Polícia Federal. O presidente da comissão decidiu dispensar Demóstenes da oitiva, mesmo procedimento que vem adotando diante dos demais depoentes que se negaram a falar. No entanto, essa atitude acabou irritando ainda mais o deputado.

“O senhor passou cinco horas no Conselho de Ética e não conseguiu se explicar. Mas, aqui, com cinco minutos, o senhor explicou tudo. O seu silêncio é a mais prefeita tradução da sua culpa”, ressaltou o deputado. “O senhor apelou para Deus, se disse carola, mas o senhor não vai para o céu porque o céu não é lugar para mentiroso, não é lugar de gente hipócrita”, disse o deputado se dirigindo a Demóstenes.

Diante da exaltação dos parlamentares, o senador Pedro Taques (PDT-MT) reagiu: “Todos aqui, enquanto parlamentares, devem obedecer à Constituição Federal, que afirma que o cidadão, seja lá quem for, merece respeito. Fui procurador da República por mais de 15 anos e tenho a convicção de que um parlamentar não pode tratar quem quer que seja com indignidade”, argumentou Pedro Taques.

A defesa feita por Pedro Taques fez com que Sílvio Costa se voltasse contra ele com xingamentos. Em meio ao tumulto, o presidente da comissão, Vital do Rêgo, encerrou a sessão que durou 20 minutos.

Na última terça-feira, Demóstenes prestou depoimento ao Conselho de Ética do Senado e confirmou sua ligação com o empresário Carlinhos Cachoeira. Ele sustentou que não sabia do envolvimento de Cachoeira com atividades ilícitas, apesar dos mais de dez anos de convivência com o empresário e negou ter recebido dinheiro de Cahoeira.

Além disso, Demóstenes também confirmou usar um celular via rádio doado por Cachoeira e que era o empresário que pagava a conta. Ontem, os integrantes da CPMI quebraram os sigilos telefônicos, bancário, fiscal, de e-mail e de mensagens por celular de Demóstenes. Edição: Talita Cavalcante, da Agência Brasil.

Acordo prévio deixa Cachoeira mudo

Tenho quase certeza de que essa história de não falar para não produzir provas contra si, foi imposta a Carlos Cachoeira. Mas ou menos assim:

“Você fica calado e continua com o couro liso lá na Papuda. Daqui a uns 60 dias  a gente consegue um habeas corpus e tu vai anotar as apostas do bicho. Certo? Afinal tu és nosso e nós somos de ti.”

Como diz o Boris Casoy, “isto é uma vergonha!”

Supremo decide: Cachoeira depõe hoje, terça.

Olha só que maravilha: o ministro Celso Mello, do STF, decidiu, na noite de ontem, segunda, que Cachoeira vai, sim, depor, hoje, terça, na CPI do Cachoeira. A decisão foi feita com base no fato de que a defesa do contraventor teve acesso prévio a todo o material inquisitório. 

Hoje, a decisão se Cachoeira vai logo à CPI.

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), deve decidir hoje se mantém ou não a decisão que desobriga o bicheiro de falar à CPMI. Se o ministro mudar de ideia e determinar que Cachoeira compareça à comissão, o advogado do bicheiro (o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos) já avisou ontem que ele permanecerá calado.

Bastos quer mais três semanas de prazo, liberação das 90 mil horas de áudio, montagem de equipe de dez pessoas para analisar o material e acesso com mais liberdade a Cachoeira para avaliarem juntos os documentos. Integrantes da comissão, no entanto, dizem não haver motivo para o adiamento e reclamam do comportamento da defesa. De Ricardo Noblat.

Não entendi esta: querem tocar a CPMI do Cachoeira sem o Cachoeira? Que bandalho!

Queremos sangue na CPMI

O fato do STF conceder, sob liminar, o adiamento do depoimento de Carlos Cachoeira, amanhã, na CPMI, por cerceamento de defesa, significa que, ou estamos na democracia plena, ou que, aos olhos da Justiça, ainda não estamos aptos a ouvir as declarações proféticas do campeão do jogo ilegal no Planalto Central.

Afinal, quando o espetáculo das cachoeiras sussurrantes vai encantar nossos ouvidos? Já estão dando na vista esses segredinhos trocados entre deputados, senadores, policiais e inquisidores de todos os matizes.