Witzel já está preso? Não é o comandante que vai pra cadeia quando seus comandados cometem crimes?

Veja reportagem do jornal Extra

A menina Agatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada deste sábado. Ela foi atingida nas costas por um tiro de fuzil, na noite desta sexta-feira, na Fazendinha, no Complexo do Alemão, Zona Norte. Ela estava dentro de uma Kombi no momento em que foi baleada.

A criança foi levada para o Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, Zona Norte. Na manhã deste sábado, parentes e amigos foram até o Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, para a liberação do corpo. Ainda não há informações sobre o local e o horário do velório e sepultamento da menina.

Segundo um parente que não quis se identificar, Agatha estava com a mãe no momento em que a kombi transportava passageiros para dentro da comunidade. A família acusa uma PM como autora do tiro.

A policial queria acertar um motociclista que estava passando próximo. Temos policiais despreparados nas ruas, e é isso que acontece — destaca o rapaz: — A mãe estava com a Agatha no colo, mas, no momento do tiro, havia acabado de colocá-la ao seu lado.

O avô materno da criança, identificado como Ailton Félix, esteve no Getúlio Vargas e pediu explicações sobre o disparo:

— Quem tem que dar informações é quem deu o tiro nela. Matou uma inocente, uma garota inteligente, estudiosa, obediente, de futuro. Cadê o policiais que fizeram isso? A voz deles é a arma. Não é a família do governador ou do prefeito ou dos policiais que estão chorando, é a minha. Amanhã eles vão pedir desculpas, mas isso não vai trazer minha neta de volta. — exclamou o avô em tom de revolta.

A mãe de Agatha, identificada apenas como Vanessa, teve que sair do hospital de cadeiras de rodas. Ela passou mal ao saber da notícia e teve que ser amparada por familiares e amigos.

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Segundo moradores, o autor do disparo seria uma policial militar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, que teria suspeitado de um motociclista que passava no local. Em nota, a PM informou que a Coordenadoria de Polícia Pacificadora vai abrir um procedimento apuratório para verificar as circunstâncias do fato.

A corporação informou que equipes da UPP estavam baseadas na esquina da Rua Antônio Austragésilo com a Rua Nossa Senhora quando foram atacadas por criminosos. Os agentes revidaram, segundo a PM. Ainda de acordo com a Polícia Militar, moradores informaram à equipe que a menina havia sido baleada na localidade conhecida como Estofador. Os agentes foram ao Hospital Getúlio Vargas, onde confirmaram a entrada da vítima, ferida por arma de fogo.

Após a morte da menina, a hashtag #ACulpaÉDoWitzel se tornou um dos assuntos mais comentados do país no Twitter, na manhã deste sábado.

O governador do Rio voltou a ser criticado nas redes sociais após reafirmar, nesta sexta-feira, que quem usa fuzil contra o cidadão de bem “não merece viver”, defendendo o “abate” de criminosos. A declaração foi dada durante a inauguração da Operação Bangu Presente, na Zona Oeste — a primeira base do projeto na região.

Manifestação reúne moradores no Alemão

Na manhã deste sábado, dezenas de moradores e ativistas sociais fazem uma manifestação pacífica pelas ruas do Complexo do Alemão. Carregando faixas e cartazes, eles pedem pelo fim das mortes de crianças e jovens em comunidades do Rio.

Com a ajuda de um carro de som, os manifestantes também pedem a presença do governador Wilson Witzel. Além disso, citam os nomes de moradores mortos em ações policiais seguidos pelo termo “presente”, grito que ganhou destaque após a morte da vereadora Marielle Franco.

— Em todas as comunidades se perdem vidas inocentes por essa política montada pelo governo do Estado. O Complexo do Alemão está presente, sim! Não queremos que a Agatha venha a ser apenas mais uma foto estampada. Vamos lutar pelos nossos direitos dentro da comunidade, onde vários inocentes são atingidos por ‘balas achadas’ todos os dias — afirma um manifestante sem se identificar.

Os mandantes do crime bárbaro

Wilson Witzel, Jair Bolsonaro e Sérgio Moro são os nomes dos principais mandantes do assassinato da menina Agatha Félix, de 8 anos, e dos demais assassinatos em série promovidos por policiais no Rio de Janeiro.

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, por mandar a polícia promover ações sangrentas nas comunidades periféricas cariocas. O Presidente Jair Bolsonaro por apoiar explicitamente a violência policial e incentivar um verdadeiro faroeste na sociedade brasileira. Já o ministro da Justiça, Sérgio Moro, com apoio de alguns veículos de comunicação, pretende que os policiais, como os envolvidos na morte da menina Agatha, justifiquem que agiram em legítima defesa, com “violenta emoção”, com “surpresa” ou com “medo”, para que fiquem impunes, escreveu hoje o portal da revista Forum.

O grande culpado pela assunção de malucos como Witzel ao poder está na foto. Ele ainda fala em 2022.

Ações policiais no Rio matam 15 em 5 dias, mas Witzel quer mais 

Não há como ficar indiferente às cartas dos moradores do Complexo da Maré – que concentra comunidades cariocas assoladas pela violência policial. Reunidas pela ONG Redes da Maré e entregues ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro na segunda-feira, as 1.500 cartas narram com simplicidade o sofrimento de viver cotidianamente sob violações de direitos humanos cometidas pelo Estado.

“O ruim das operações nas favelas é porque não dá para brincar muito. Também fica morrendo muitos moradores nas comunidades e também tem muita violência”, escreveu um estudante.

“O caveirão quando entra aqui é para nos matar. Ele não entra aqui para fazer uma simples intervenção. O Estado mata sonhos, mata vidas, mata o futuro de pessoas que um dia poderiam estar no lugar da senhora juíza”, escreveu um dos moradores dirigindo-se diretamente à juíza Regina Lúcia Chuquer, da 6ª Vara da Fazenda Pública da Capital.

A juíza Regina é responsável pela decisão que invalidou em junho a Ação Civil Pública da Maré, que estabelece medidas a serem seguidas em ações policiais para assegurar os direitos constitucionais das mais de 130 mil pessoas que vivem ali. Segundo a Defensoria Pública, no período em que as medidas tiveram em vigor, a letalidade por arma de fogo caiu 44% na Maré.

As cartas entregues ao TJ-RJ surtiram efeito, ao menos temporário. Na quarta feira, o TJ suspendeu o recurso da juíza garantindo medidas mínimas de proteção aos moradores – como a presença obrigatória de ambulâncias nas ações policiais, câmeras e GPSs nas viaturas e a criação de um protocolo entre autoridades de segurança e diretores de unidades de saúde e ensino.

“Quando nós chegamos na escola, ela está cheia de furo de tiro e toda revirada”, diz uma das cartas. “Um dia eu estava no pátio, fazendo educação física e aí, de repente, o helicóptero passou dando tiro para baixo. Aí, todo mundo correu para o canto da arquibancada, quando passou o tiro a gente correu para dentro da escola até minha mãe me buscar”, conta uma criança.

Os relatos assustadores da Maré, porém, não comoveram o governador do Rio, que disse que iria recorrer da decisão do TJ-RJ horas depois de anunciada.

Witzel não quer saber de qualquer tipo de limite às operações policiais. As mortes, para ele, são de responsabilidade de quem mora ali:

“Infelizmente a comunidade está tomada pelo crime organizado”, disse, justificando a violência das ilegalidades da ações policiais – como os disparos aéreos – estimuladas por seu governo.

Entre sexta-feira e a quarta-feira passada 15 pessoas foram mortas em operações policiais no Rio de Janeiro – entre eles, seis jovens negros e inocentes.

Como sublinhou a nota da OAB-RJ, que ofereceu assistência jurídica às famílias das seis vítimas: “Nenhum indicador de violência ou ‘propósito pacificador’ justifica incursões policiais que desprezem a vida humana, com corte de raça e classe tão eloquente”.

Por Marina Amaral, co-diretora da Agência Pública, em sua newsletter das sextas-feiras.