Caso Marielle: nada como gente operativa e organizada!

O humorista José Simão elogia a organização, a rapidez e a prontidão dos bolsonaros:

“Bolsonaro pega fita do condomínio, Carluxo mexe, a milícia agradece e o Moro acoberta!”

Parece que o Ministério Público do Rio de Janeiro, cujos procuradores não tem o couro para negócio, também mostrou uma grande capacidade de realização: em duas horas mandou periciar e já manifestou sua opinião.

Só faltou combinar com os russos, como dizia o célebre Garrincha. A classe dos delegados se mostrou ameaçada e reagiu à ação da organização.

Uma nota conjunta de entidades de delegados de polícia emitida neste domingo (3) critica declarações do presidente Jair Bolsonaro deste sábado (2) sobre o Caso Marielle Franco e sai em defesa de Daniel Rosa, que comanda as investigações do atentado.

“Valendo-se do cargo de Presidente da República e de instituições da União, Bolsonaro claramente ataca e tenta intimidar o delegado de polícia do Rio de Janeiro, com intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, afirma o texto.

Em Brasília, no sábado, Bolsonaro afirmou que pegou a gravação das ligações da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, onde tem uma casa, para que não fossem adulteradas (entenda o caso mais abaixo).

“Nós pegamos, antes que fosse adulterada, ou tentasse adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica que é guardada há mais de ano. A voz não é a minha”, declarou Bolsonaro.

Segundo o jornal O Globo, também no sábado, Bolsonaro disse que o governador do Rio, Wilson Witzel , “manipulou” o processo que trata do assassinato da vereadora.

“A minha convicção é de que ele agiu no processo para botar meu nome lá dentro. Espero agora que não queiram jogar para cima do colo do porteiro. Pode até ser que ele seja responsável, mas não podemos deixar de analisar a participação do governador. Como é que pode um delegado da Polícia Civil ter acesso às gravações da secretária eletrônica?”, questionou Bolsonaro.

Questionado sobre o que mais Witzel fez, o presidente respondeu: “Manipula o processo.” Bolsonaro, no entanto, não deu detalhes sobre como o governador teria manipulado o caso.

O presidente disse ter acionado a Polícia Federal para ouvir Daniel Rosa, a quem chamou de ‘amiguinho’ de Witzel.

“Vamos ouvir o porteiro, vamos ouvir aí o delegado também, o delegado que é muito amiguinho do governador, e logicamente que gostaria que o governador também participasse, né?”, afirmou.

Assinaram a nota deste domingo:

  1. Associação do Delegados de Polícia (Adepol) do Brasil;

  2. Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil (Fendepol);

  3. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do RJ (Sindelpol-RJ);

  4. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Amazonas (Sindepol-AM);

  5. Associação dos Delegados de Polícia do Pará (Adepol-PA).

“O presidente insinua direcionamento das investigações, inclusive com adulteração de provas e coação de testemunha, e refere-se ao delegado presidente do inquérito como amiguinho do governador”, diz o texto.

“O cargo de chefe do Poder Executivo Federal não lhe permite cometer atentados à honra de pessoas, muito menos daquelas que, no exercício de seu múnus público, desempenham suas funções no interesse da sociedade e, não, de qualquer governo”, emenda a nota.

O texto encerra dizendo que as entidades “reafirmam o apoio irrestrito ao delegado responsável pela investigação e repudiam qualquer intimidação a ele e ao trabalho da Polícia Judiciária”.

A que Bolsonaro está reagindo

Uma reportagem do Jornal Nacional mostrou na terça-feira (29) que um porteiro do condomínio contou à polícia que, horas antes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, o ex-policial militar Élcio de Queiroz, suspeito de participação no crime, esteve no local e disse que iria à casa 58, casa que pertence ao presidente, e que o “Seu Jair” atendeu ao interfone e autorizou a entrada.

Élcio, entretanto, seguiu para a casa de Ronnie Lessa, outro suspeito do assassinato, no mesmo condomínio. Naquele horário, o então deputado Jair Bolsonaro estava em Brasília e participou de votações na Câmara no mesmo dia.