José Dirceu: documentos oficiais comprovam o que todos sabiam

José Dirceu de Oliveira: líder estudantil, fundador do PT e uma caminhada brilhante como deputado federal, até atingir a condição de chefe político do Governo Lula.

Documentos oficiais divulgados pelo Estado de S. Paulo revelam os bastidores da atuação de José Dirceu no comando da Casa Civil entre janeiro de 2003 e junho de 2005. Liberados com base na Lei de Acesso à Informação, os papéis enviados e recebidos pelo homem forte da primeira gestão do ex-presidente Lula explicitam troca de favores entre governo e partidos aliados, intervenções para que empresários fossem recebidos em audiências e controle sobre investigações envolvendo nomes importantes da máquina pública. 
Dirceu deixou o governo em meio ao escândalo do mensalão e é réu do julgamento no Supremo, sob a acusação de comandar uma “quadrilha” disposta a manter o PT no poder via compra de votos no Congresso.  
A troca de ofícios com o então presidente do PL (hoje PR), deputado Valdemar Costa Neto, também réu do mensalão, não esconde os interesses de cada um. O assunto é a negociação de cargos na Radiobrás. Em ofício arquivado na Presidência, Valdemar indica nomes à estatal federal de comunicação e acrescenta: “Certo de que V.Exa. poderá contar com apoio integral desta Presidência e da Bancada do Partido Liberal no Congresso”. 
Em 27 de fevereiro de 2003, Dirceu ordena que a demanda seja encaminhada ao então presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci. Os registros mostram ainda que Dirceu mantinha uma rede de informações que extrapolava os órgãos federais de investigação. O serviço era tocado pela Secretaria de Controle Interno. Vinculado à Casa Civil, comandado à época por José Aparecido Nunes Pires, celebrizado em 2008 por ter sido apontado como um dos autores do dossiê com dados sigilosos sobre os gastos com cartões corporativos no governo FHC. 
Os documentos indicam, por exemplo, que Dirceu teve acesso – antes do ministro da Justiça da época, Márcio Thomaz Bastos – às gravações de um encontro entre o assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz e o bicheiro Carlinhos Cachoeira no Aeroporto Internacional de Brasília. 
Em outro caso, conforme os documentos, a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, foi alvo de investigações tocadas pela estrutura de Dirceu, quando ocupava a Secretaria de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia. Adversária do grupo político de Dirceu, Graça foi questionada sobre contratos da empresa do marido, Colin Foster, com a Petrobras. Editado pelo Correio*.