300 morrem num dia no Egito. Poderia o mesmo acontecer aqui?

egitoPara aqueles babacas que ficam pedindo o golpe liderado pelas forças armadas e que até marcaram o dia 7 de setembro como o ideal para um levante armado, fica a foto do que aconteceu hoje pela manhã no Egito: mais de 300 mortos em conflito de rua. O que nós precisamos é um levante de Justiça, com o julgamento dos corruptos e uma profunda reforma moral e ética, não só nos políticos, mas também em grande parte da população.

A imprensa, primeira vítima do arbítrio.

Foto de Ahmed Alid para a AP e Time

O jornalista Luiz Antônio Araujo, enviado especial do Grupo RBS ao Egito, que foi agredido por manifestantes, segue a cobertura no Cairo e não tem data definida para voltar. “Estamos oferecendo toda a assistência e aguardando sua manifestação de quando deseja retornar para emitirmos suas passagens”, explicou a Coletiva.net a editora de Comunicação de Zero Hora, Lúcia Pires. Araujo, que cobre os protestos contra o presidente Hosni Mubarak desde a madrugada da última quarta-feira, 2, informou, ontem pela manhã, em boletim na rádio Gaúcha ter sido cercado por manifestantes com facas, pedaços de pau e pedra. Levou socos e pontapés nas canelas. As agressões a Luiz Antônio Araujo e a outros dois jornalistas da TV Brasil, estes expulsos do País, repercutiram nos noticiários da quinta-feira.

Inicialmente refugiado na embaixada do Brasil no Egito, o jornalista está a salvo e já retornou para o Novotel, no Cairo, onde está hospedado e de onde envia notícias para os veículos da RBS sobre as manifestações na capital Egípcia.

O Grupo RBS divulgou nota à imprensa condenando a agressão sofrida pelo seu enviado ao Cairo. “A agressão a Araujo e a outros jornalistas estrangeiros é, no entendimento da RBS, uma clara tentativa de restringir o trabalho de imprensa. O Grupo RBS vai denunciar estes fatos junto à Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a entidades internacionais que lutam em defesa da Liberdade de Expressão”, registra o comunicado.  Do site Coletiva.Net.

Quando a democracia é rarefeita, quem primeiro sofre é a imprensa. Não é esta a posição, por exemplo, do deputado federal Oziel Oliveira. Ontem, durante almoço realizado em Barreiras, Oziel, instado por um amigo, que apontava este editor “como o jornalista que fala mal de você”, mostrou espírito democrático: “Ele apenas faz o seu trabalho”.

A batalha do Cairo está no fim? É a pergunta de todos.

Foto da AFP para The Economist

A promessa dos manifestantes é que um milhão de pessoas se reúnam hoje na praça principal do Cairo, após as orações do meio-dia. Começam a faltar gêneros alimentícios, os trens estão paralisados e os salteadores atacam casas particulares e estabelecimentos comerciais.

A revista The Economist diz que escritórios do Governo estão picando e queimando papéis que possam ser comprometedores num futuro próximo. Já existem deserções importantes entre praças e oficiais das forças armadas. O Governo pode cair a qualquer momento pela força da fé islâmica que move o povo. Está se criando um novo Irã. A próxima ditadura a cair deve ser a Arábia Saudita.

Israel e Estados Unidos vêem o equilíbrio frágil da região quebrar-se e voltar-se contra si. A ditadura de Hosni Mubarak apodrece, como todas,  e o aeroporto parece ser a sua única saída.

A hora em que a revolta explode.

Pelo menos 700 pessoas foram detidas nesta quarta-feira no Egito em manifestações contra o governo do presidente Hosni Mubarak. Mais cedo, as autoridades tinham avisado que prenderiam quem participasse dos protestos. A mobilização contra o aumento dos preços de alimentos, o alto índice de desemprego e a corrupção da administração começou na última terça-feira, no que ficou conhecido como “dia de revolta”. O movimento foi inspirado na rebelião que derrubou o ex-ditador tunisiano Zine el Abidine Ben Ali, em 14 de janeiro.

A pergunta importante: o que têm em comum os protestos no Egito, na Tunísia e na periferia de Brasília, mais especificamente em Santo Antonio Descoberto? Em que momento o povo se levanta contra o descaso e a incúria dos governantes? No que pensam os gestores públicos quando os seus erros são repetidos até o povo ensandecido ir para a rua? O que nos ofende mais: a falta do serviço público, a roubalheira ou o sentimento de impunidade desses governantes?