Truculência fecha jornal gaúcho

Por Luiz Cláudio Cunha

O ex-governador gaúcho Germano Rigotto e sua família, enfim, conseguiram: o JÁ, um bravo e pequeno mensário de 5 mil exemplares e 26 anos de vida em Porto Alegre (RS), fechou as portas. Sucumbiu aos dez anos de uma longa, pertinaz perseguição judicial movida pelos Rigotto, que asfixiaram financeiramente um jornal de resistência que chegou a ter 22 profissionais numa redação que hoje se resume a dois jornalistas.

A nota de falecimento do jornal foi dada por seu editor, Elmar Bones da Costa, em amarga entrevista concedida (em 16/1) aos repórteres Felipe Prestes e Samir Oliveira, do site Sul21 (ver aqui). “O caminho natural seria que eu tivesse feito um acordo. Teria resolvido isso e até voltado ao mercado. Mas, eu não tinha feito nada de errado. Fazer um acordo com Rigotto seria trair os próprios princípios do jornal”, explicou Bones, sempre altivo aos 67 anos, com passagens por grandes órgãos da imprensa brasileira (Veja, IstoÉ, O Estado de S.Paulo e Gazeta Mercantil) e pelo comando do CooJornal, o heroico mensário da pioneira Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. Na ditadura, Bones enfrentou o cerco implacável da censura e dos militares ao jornal alternativo que incomodava o regime. Na democracia, Bones não resistiu ao assédio sufocante das ações judiciais de Rigotto incomodado pelo bom jornalismo.

Generais e políticos, nos governos de exceção ou nos Estados de Direito, são exatamente iguais quando confrontados com as verdades incômodas que sustentam e justificam a boa imprensa. O JÁ ousou fazer isso, em plena democracia, contando a história da maior fraude com dinheiro público na história do Rio Grande do Sul, que carregava nos ombros o sobrenome ilustre de Germano Rigotto. O seu irmão mais esperto, Lindomar, é o principal implicado entre as 22 pessoas e as 11 empresas denunciadas pelo Ministério Público e arroladas em 1995 pela CPI da Assembleia Legislativa gaúcha que investigou uma falcatrua na construção de 11 subestações da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).

Conversei e tomei um mate com o Bicudo neste final do ano. Somos meio vizinhos na Servidão Dois Irmãos, no Santinho, em Floripa. Ele estava triste. Mas parecia aliviado: “Vou me dedicar aos meus livros, Sampaio”. Elmar Bones é um exemplo de cidadão, um exemplo de jornalista e um dos melhores textos da imprensa brasileira.
Ele me contou de como a redação do jornal foi assaltada por 3 vezes, uma coincidência cruel. E de como a Polícia tratou com leniência esses assaltos.
Fui colega do Elmar na Folha da Manhã e aprendi, com ele e com o Severo, em três meses, mais do que em toda a vida de redação.
Um minuto de silêncio pelo Já. Um semana de absoluto silêncio pela política gaúcha.

Veja entrevista de Lílian Stein e Ana Paula Figueiredo no Portal 3. 

Veja mais sobre a lenta agonia do jornal Já, em matérias publicadas aqui no Expresso em agosto e janeiro de 2010.



Ex-governador cerca imprensa nanica no RS.

Elmar Bones em foto de Andréa Graiz.

O juiz Roberto Carvalho Fraga, da 15a.Vara Civel de Porto Alegre, autorizou bloqueio on line das contas bancárias dos jornalistas Elmar Bones e Kenny Braga, sócios da Já Porto Alegre Editores, que edita o pequeno jornal JÁ, da capital gaúcha.

O objetivo da medida é garantir indenização à familia do ex-governador, hoje candidato ao Senado, Germano Rigotto. A Já Editores foi condenada numa ação por dano moral , por causa de reportagem publicada pelo JÁ em 200, quando denunciou negociatas lideradas por Lindomar Rigotto, irmão do ex-governador. A indenização, inicialmente estipulada em R$ 17 mil reais, hoje está na casa dos R$ 100 mil.

Lindomar, assassinado em Capão da Canoa há dez anos, era apontado como o operador de um esquema que fraudou duas licitações da Companhia Estadual de Energia Elétrica, em 1987.

O prejuízo causado à estatal, apurado numa Ação Civil Pública, chega aos R$ 800 milhões em valores atualizados.

O processo que apura as responsabilidades na fraude envolve 11 empresas e 22 pessoas físicas, além de Lindomar Rigotto. Tem 110 volumes, vai completar 15 anos em fevereiro de 2011. Ainda está em primeira instância e protegido pelo segredo de justiça. Leia mais no portal do Já.

Kenny Braga

Elmar Bones, jornalista veterano de Veja e Gazeta Mercantil, bem como de mais uma dezena de veículos de imprensa no País, é respeitado, em todo o País, pela sua capacidade profissional e posicionamento ético. Kenny Braga tem igual talento e profissionalismo, mas também é conhecido por ser um colorado de proa. Tive o prazer de compartilhar a redação de jornais por diversas vezes com os dois renomados homens de imprensa.

Um pequeno jornal gaúcho agoniza nas águas escuras do maior caso de corrupção do Rio Grande do Sul

A capa da Edição Extra do Jornal Já que reconta a história do maior caso de corrupção do poder público no Rio Grande do Sul

Os gaúchos residentes aqui no Oeste da Bahia, vão identificar os protagonistas desta história ímpar. Um pequeno jornal gaúcho, JÁ, de propriedade de Elmar Bones, veterano jornalista com larga militância no que existe de melhor na imprensa brasileira, ousou denunciar o maior caso de corrupção pública no Rio Grande. A história está contada pelo jornalista, também gaúcho, Luiz Cláudio Cunha, numa longa reportagem publicada no Observatório da Imprensa. Acompanhe também as notícias do Jornal Já sobre o caso.