Brasil vê 1 milhão de pessoas por ano, desde 2015, cair para abaixo da linha da pobreza.

Moradoras caminham por rua de terra da comunidade Sol Nascente, em Ceilândia, em plena Capital Federal. Imagem: Lalo de Almeida/Folhapress.

Por Carlos Madeiro, para o UOL

A Síntese de Indicadores Sociais, divulgada hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), aponta que, em média, 1 milhão de brasileiros por ano desceu abaixo da linha da pobreza entre 2015 e 2018 —quando 6,5% da população estava classificada como pobre, o maior índice da série, iniciada em 2012.

Para traçar a linha de pobreza, o IBGE usou como parâmetro estudos feitos pelo Banco Mundial.

“Ainda que haja discussões sobre diferentes linhas de corte e como adaptá-las aos padrões de vida e às necessidades de cada país, o valor de US$ 1,90 diário per capita em PPC [Paridade de Poder de Compra] é atualmente o limite para a definição da pobreza global”, diz o estudo.

Percentual de pessoas que vivem com menos de US$ 1,90

2012 – 5,8%

2013 – 5,1%

2014 – 4,5%

2015 – 4,9%

2016 – 5,8%

2017 – 6,4%

2018 – 6,5%

Segundo o IBGE, entre 2012 a 2014, houve redução de 1,3 ponto percentual na proporção de pessoas com rendimento inferior a US$ 1,90 por dia, quando ela chegou ao menor índice: 4,5%.

Em 2015, o percentual começou a subir e, em quatro anos, aumentou de 2 pontos percentuais, até 2018 resultar em 6,5% da população brasileira com rendimento inferior a US$ 1,90.

“Este percentual é equivalente a 13,5 milhões de pessoas, contingente superior à população total de países como Bolívia, Bélgica, Cuba, Grécia e Portugal”, diz o estudo.

Retrocessos a partir de 2015

O IBGE também demonstra que, em 2018, “no Brasil havia 25,3% da população com rendimentos inferiores a US$ 5,50 (em torno de R$ 22) PPC por dia, ou aproximadamente R$ 420 mensais, o que equivale a cerca de 44% do salário mínimo vigente em 2018”.

Segundo a pesquisa, nesse estrato, entre 2017 e 2018, cerca de 1 milhão de pessoas alcançaram ou superaram o limiar de US$ 5,50 per capita diário.

“Essa mudança se deu principalmente na região Sudeste, onde houve redução de cerca de 700 mil pessoas [nessa faixa].” Assim como na questão da desigualdade, o país começou a ver retrocessos a partir de 2015.

“Para o período analisado, a proporção de pessoas com rendimento abaixo deste valor apresentou queda entre 2012 e 2014, quando registrou o menor nível, 22,8% da população. Segundo esse critério, a partir de 2015, observou-se um crescimento na proporção de pobres até atingir 26% em 2017.

Já em 2018, houve redução de 0,7 ponto percentual nesta proporção em relação ao ano anterior, mas ainda em patamar superior ao de 2014 e atingindo aproximadamente 52,5 milhões de pessoas”, diz o texto.

Nota da Redação:

Não se entende como a população mais abastada, principalmente o empresariado da indústria, do comércio e dos serviços não conseguem compreender que a desigualdade crescente, o aumento da miséria e a exclusão de largas fatias de brasileiros do consumo vai acabar comprometendo os seus próprios negócios.

Ou alguém nega que as verbas da ação social e da geração de emprego e renda volta sempre para fertilizar o mercado de consumo e os próprios cofres do Governo?

O solapamento dos alicerces da base da pirâmide social, mais cedo ou mais tarde, vai comprometer o seu vértice superior e isso é algo inexorável.