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Direitos humanos: Brasil aceita relatórios sobre o assunto?
Marina Amaral, codiretora da Agência Pública, escreve, em carta ao leitor:
Para os 69% dos brasileiros que consideram a democracia o melhor sistema de governo são preocupantes os sinais emitidos pelo Planalto ocupado pelo ex-capitão e sua entourage militar.

O jornalista Guilherme Amado, do blog de Lauro Jardim, no Globo, publicou ontem uma nota sobre a tensa reunião entre representantes da Human Rights Watch (HRW) com o ministro-general Santos Cruz, à frente da Secretaria de Governo.
O estresse atingiu o ápice quando o chileno José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da HRW, quis saber se a organização – uma das mais respeitadas do mundo no campo dos direitos humanos – também estaria no escopo da MP que deu à Secretaria de Governo a atribuição de supervisionar as organizações da sociedade civil no Brasil, ainda que não recebam recursos públicos.
O general saiu pela tangente e só respondeu quando Vivanco repetiu a pergunta pela terceira vez, de acordo com o relato do diretor da HRW ao Globo, quando teria dito “acreditar” que não ocorreria nenhum monitoramento nas atividades da organização.
Os relatórios da Human Rights Watch não são feitos para agradar. Sua força está na independência e profundidade das apurações. Que o diga Nicolás Maduro, o presidente venezuelano reeleito entre suspeitas de fraude, acusado de mandar prender e torturar militares e suas famílias por “conspirar contra o governo”, de acordo com o relatório da HRW lançado no último dia 9.
Em relação ao Brasil, o relatório divulgado nessa semana, computa mais de 64 mil assassinatos em 2017 – um recorde para o país que já era recordista em violência – 5.144 deles cometidos pelas forças policiais. Também fala em “epidemia de violência doméstica”, principalmente contra as mulheres – com 1,2 milhão de casos parados na Justiça. Violência essa que tende a se agravar com o recém-promulgado decreto de liberação da posse de armas – mais amplo do que desejava o seu próprio ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro.
Também antecipa dados levantados pela Fenaj – que serão publicamente divulgados hoje – sobre a violência crescente contra os jornalistas desde a campanha eleitoral.
Como fazia Chávez, Maduro rejeita os relatórios da HRW, considerando-os “interferências externas” na Venezuela. Resta saber se Bolsonaro seguirá o mesmo caminho, aproximando-se mais do demonizado Maduro de que de seu ídolo Donald Trump.


