Greenpeace afirma que existe compra de soja de áreas irregulares no Condomínio Estrondo

Imagem de satélite parcial do Condomínio da Cachoeira do Estrondo.

Tradings negam relações comerciais com o Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo, localizado no oeste do Estado.

Por Camila Souza Ramos, do Valor

O jornal Valor Econômico publicou hoje matéria jornalística em que relata que a organização não governamental Greenpeace, dedicada a temas ambientais, identificou plantio de soja em uma fazenda com área embargada pelo Ibama e situações de agressão armada contra comunidades

tradicionais, todas dentro da área do Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo. O condomínio, no município de Formosa do Rio Preto, pertence às companhias Delfin Rio Crédito Imobiliário e Cia. Melhoramentos do Oeste da Bahia, do empresário Ronald Guimarães Levinsohn.

A região tem forte atuação de grandes tradings, e o condomínio, que tem fazendas próprias e arrendadas, informa em seu site que há silos das americanas Bunge e Cargill em sua área. As multinacionais afirmam, entretanto, que não realizam compras de áreas embargadas e que seus armazéns estão em áreas próprias.

A ONG relata que flagrou, em março, colheita de soja na Fazenda Califórnia, do arrendatário Jürgen Epp, com 67,8 hectares,  embargados pelo Ibama desde 2009. O Greenpeace afirmou ao Valor que, como o órgão não disponibilizou o polígono da área embargada, mas apenas um ponto no mapa, “comercializar com essas áreas sempre traz riscos”.

Há outras duas áreas embargadas em propriedades dentro do condomínio: uma na Fazenda Califórnia (inserida em 2009 na lista de embargos e julgada em 2016, mas sem polígono delimitado) e outra na Fazenda Alaska (inserida em 2009 na lista e ainda à espera de julgamento).

O Greenpeace não identificou produção agrícola nessas áreas. Ao Valor, o Condomínio Estrondo informou que “todos os processos de embargo foram considerados nulos desde a concepção”.

No relatório “Cultivando a violência”, o Greenpeace identificou que, na área que o condomínio reportava como sendo reserva legal, havia 43 mil hectares que a Justiça reconheceu, em primeira e segunda instâncias, como de uso e ocupação das comunidades geraizeiras (tradicionais do Cerrado). A última decisão do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) foi em fevereiro, confirmada em acórdão de novembro.

Ao Valor, o Condomínio Estrondo afirma que oficiais de Justiça estiveram em campo na última semana realizando ação de reintegração de posse das 43 mil hectares em favor das comunidades e que estes desfizeram construções.

O Greenpeace também informou que sua equipe presenciou, em maio, homens armados, sem identificação, realizando buscas em casas de uma vila de membros da comunidade do Alto Rio Preto e ameaças armadas aos moradores. O documento ainda compila três episódios de violência este ano (em janeiro, abril e maio) relatados pela Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR), que teriam sido cometidas por seguranças da terceirizada Estrela Guia – todos relacionadas a tentativas de membros das comunidades de recuperar gado em áreas cercadas pelo condomínio baiano.

Segundo o Greenpeace, Bunge e Cargill adquiriram soja de áreas plantadas em fazendas arrendadas pelo Grupo Horita no Condomínio Estrondo.

Segundo a ONG, a Bunge comprou 29,3 mil toneladas em 2018, e a Cargill originou 15 mil toneladas este ano, da Fazenda Centúria. Os negócios foram fechados por R$ 30,7 milhões e US$ 4,7 milhões, respectivamente. O Grupo Horita nega qualquer irregularidade.

Ao Valor, Bunge e Cargill garantiram que não têm relações comerciais com o Condomínio Estrondo, que não compram de áreas embargadas e que as compras e recebimentos de fornecedores, sejam arrendatários ou proprietários, ocorrem após verificações de conformidade com a legislação.

Para Cristiane Mazzetti, coordenadora do Greenpeace, “os problemas na Agronegócio Estrondo são relacionados no condomínio como um todo”.

No relatório, a ONG defende que a Agronegócio Estrondo “deve ter todas as suas vendas suspensas pelo mercado” até que sejam garantidos que critérios de proteção às pessoas e o fim do desmatamento “tenham sido alcançados e a empresa apresente um plano consistente para lidar com as violações, abusos e ilegalidades do passado”.

Desastre no poço da Chevron, em Campos, pode estar subestimado a 10% da magnitude real

De Bruno Calixto, da Revista Época.

O Brasil está enfrentando o que pode ser o primeiro grande derramamento de petróleo em águas profundas, com o anúncio de que um poço da Chevron, na Bacia de Campos (RJ), está vazando mais de 300 barris de petróleo por dia.

O vazamento é semelhante ao ocorrido na plataforma da BP Golfo do México em 2010, mas em uma dimensão bem menor, e não houve explosões ou mortes. Segundo a Chevron, o problema está em uma fenda, e não na plataforma. A empresa anunciou o fechamento do poço e espera controlar o vazamento nos próximos dias.

Em nota, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) estimou que o vazamento pode chegar a 330 barris por dia, o que significa mais de 50 mil litros de petróleo. Mas organizações ambientalistas como o Greenpeace estão divulgando uma estimativa que indica que o dado pode estar subestimado. O cálculo foi feito pelo blogSkyTruth, mantido pelo geógrafo John Amos, especializado em interpretação de fotos de satélite (como a que esta acima, feita pela da Nasa, a agência espacial americana, e usada por Amos), e indica que o derramamento pode ser até dez vezes maior.

Assumindo que o derramamento começou ao meio dia de 8 de novembro, 24 horas antes das primeiras imagens de satélite detectarem o vazamento, nós estimamos uma taxa de vazamento de 3,7 mil barris por dia. Esse número é dez vezes maior do que a estimativa da Chevron, de 330 barris por dia.

Amos disse ao jornal The Washington Post que o vazamento levanta novas questões sobre os riscos da exploração de petróleo em águas profundas. O geógrafo foi um dos primeiros a analisar o tamanho do vazamento no Golfo do México em 2010. O seu cálculo não é oficial, e pode não ser preciso, já que foi feito apenas com as fotos da Nasa, mas ele evidencia a falta de transparência de como o caso vem sendo tratado pela ANP. O derramamento aconteceu no dia 8, mas apenas na terça-feira (15) a agência fez um comunicado oficial do caso, responsabilizando a Chevron pelo vazamento. Segundo a ANP, a causa do vazamento ainda é desconhecida.

 

A Chevron acionou seu Plano de Emergência e é inteiramente responsável pela contenção do vazamento. Dezoito navios estão na área: 8 da própria Chevron e outros 10 cedidos pela Petrobras, Statoil, BP, Repsol e Shell.

A causa do vazamento ainda é desconhecida. A principal hipótese, levantada pela concessionária, é de que uma fratura provocada por procedimento estabilização do poço tenha liberado fluido que vazou por uma falha geológica, formando a mancha identificada no dia 8.

A Polícia Federal vai instaurar inquérito para apurar o vazamento. Segundo a delegacia do Meio Ambiente da PF, se for comprovada culpa, os operadores da plataforma poderão ser indiciados por crime de poluição, com pena prevista de até três anos de reclusão e multa.

Brasil pode ter matriz energética renovável sem reduzir crescimento econômico

Desde os primeiros tempos da civilização, o homem conhece a força dos ventos

A matriz energética brasileira pode chegar a 2050 com 93% de fontes renováveis, produzindo o triplo do que é ofertado hoje e considerando a tendência de crescimento econômico. A expansão de fontes de energia eólica, solar, de biomassa, hidrelétrica e oceânica pode garantir 1.197 terawatts-hora (algo em torno de 10 vezes a disponibilidade atual), com menor custo de produção e redução significativa das emissões nacionais de gases de efeito estufa.

O cálculo é do Greenpeace, que apresentou em novembro o relatório [R]Evolução Energética: Perspectivas para uma Energia Global Sustentável, durante a 16° Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16), em Cancun, no México.

A organização projetou dois cenários para a matriz energética em 2050: no primeiro, o governo mantém o ritmo atual de investimentos em combustíveis fósseis – que abastecem a maioria das termelétricas – e no segundo, o de “revolução”, os recursos seriam canalizados para a expansão das fontes renováveis e ganhos em eficiência energética.

Se a trajetória de investimentos for mantida, em 2050, 72% da energia brasileira virão de fontes renováveis – a maior parte de hidrelétricas –, 5,3% serão produzidos em usinas nucleares e 21,8% ainda virão dos combustíveis fósseis. No cenário proposto pelo Greenpeace, o percentual de fontes renováveis chegará a 92,6% da matriz, não haverá geração nuclear e o único fóssil utilizado na geração de energia será o gás natural – considerado um combustível de transição – com 7,3% de participação.

“É possível aumentar a oferta de energia, acompanhar o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] com uma matriz mais limpa. Mas uma evolução não seria suficiente, por isso propomos uma ruptura [do modelo atual], não só na produção como na utilização da energia”, disse o coordenador do relatório e da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace, Ricardo Baitelo.

A opção pelas fontes renováveis pode resultar em uma redução drástica das emissões de dióxido de carbono (CO2) equivalente (medida que considera todos os gases de efeito estufa) do setor energético previstas para 2050, de 147 milhões de toneladas para 23 milhões de toneladas.

Além do benefício ambiental, o esverdeamento da matriz poderia reduzir custos de produção de energia no Brasil. Até 2050, a economia pode chegar a R$ 1 trilhão, com o aumento da eficiência energética e a instalação de projetos em áreas distantes do sistema interligado de distribuição. Além disso, apesar do alto custo de implantação, os projetos de energias renováveis não dependem de combustíveis caros para produzir calor e eletricidade.

“Uma vez que você construiu, o custo de combustível é zero. Diferentemente das térmicas fósseis, em que o custo de construção é de R$ 150 por megawatt-hora (MWh), mas a parte variável, que é a de combustível, pode chegar a R$ 400 MWh. É uma variação muito grande para dizer que ela [a termelétrica] é barata. Ela é barata para construir e deixá-la parada”, comparou Baitelo.

A geração de empregos verdes e a diminuição dos problemas socioambientais causados pela construção de hidrelétricas também entram na conta dos benefícios da geração por fontes como a eólica e a solar, de acordo com o relatório.

A transição para uma matriz praticamente 100% renovável é possível, segundo o Greenpeace, e a estratégia para viabilizar essa “revolução” pode ser a mudança na legislação do setor elétrico. Baitelo aposta na aprovação do Projeto de Lei 630/2003, que está em tramitação na Câmara e que prevê, por exemplo, a realização obrigatória de leilões anuais de energia eólica e de biomassa e a criação de um fundo para financiar pesquisa e tecnologia para energias limpas. Informações de Luana Lourenço, repórter da Agência Brasil, com edição de Juliana Andrade.

A energia eólica, a mais verde entre todas, precisa receber incentivos do Governo. Dilma Rousseff conhece bem o assunto, pois era Secretária Estadual de Energia, no Rio Grande do Sul, quando foi implantado o primeiro projeto brasileiro de energia eólica.

Água com radioatividade em Caetité.

O consumo de água em três pontos de Caitité foi suspenso por ter sido detectada a presença de radioatividade alfa e beta acima do permitido pela portaria 518/04 de potabilidade de água, do Ministério da Saúde. Dos três, apenas um ponto é utilizado para abastecimento humano com radioatividade alfa acima do limite permitido.

O Instituto de Gestão das Águas e Clima (INGÁ) e a Secretaria de Saúde do Estado notificaram a prefeitura, por um poço do povoado Barreiro, da zona rural de Caetité, que abastece cerca de 15 famílias desde 2007, com o índice de radioatividade alfa 0,30, quando o padrão é 0,1bg/litro na água.Com informações do portal IBahia.

De acordo com denúncias encaminhadas ao Greenpeace, em novembro do ano passado, 30 mil litros de concentrado de urânio podem ter contaminado solo e água dos arredores da mina. Moradores de Caetité (BA) – onde está situada a mina de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que abastece as usinas Angra I e II – procuraram o Greenpeace para denunciar o vazamento de 30 mil litros de concentrado de urânio. De acordo com informações levantadas pela própria comunidade, o vazamento teria atingido 200 metros de profundidade e pode ter contaminado rios e lençóis freáticos. A operação da mina, ainda segundo os moradores, está suspensa.

Procurada pelo Greenpeace, a assessoria de comunicação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão governamental responsável pela fiscalização das atividades nucleares no país, disse que o vazamento aconteceu no dia 28 de outubro. A assessoria, no entanto, não informou detalhes sobre os impactos e as medidas que serão tomadas. A INB não quis se pronunciar.

“Como nos vazamentos anteriores, esse acidente expõe a fragilidade da segurança nuclear e a falta de transparência dessa indústria. O acidente aconteceu há 13 dias e até agora ainda não há uma posição oficial da INB e da CNEN”, diz André Amaral, coordenador da campanha de energia nuclear do Greenpeace. “A população ainda não sabe a extensão da contaminação do solo, da água e quais os riscos para os moradores da redondeza.”